segunda-feira, 3 de junho de 2019

“Papai, eu não quero ser homem”




Resultado de imagem para pai e filho abraçado







Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais
Mestre em Educação

          Eustáquio é um pai que divide as tarefas com a sua esposa Efigênia. E uma de suas tarefas é buscar Eugênio na escola. Ao encontrar pai, o garotinho de 9 anos vem correndo e abraça as suas pernas. Com os olhos marejados, ele logo diz: “Papai, eu não quero ser homem”.
         Eustáquio não estava entendendo o que estava acontecendo. Ficou em silêncio até a entrada do carro. O silêncio dele foi interrompido com a frase repetida por mais 2 vezes. Eustáquio criou coragem e perguntou: “Por que você não quer ser homem, Eugênio? “
         Eugênio começa a narrar que a diretora da escola entrou na sala de aula e foi explicar que eles estão crescendo e que isso chamava adolescência. Entre tantas coisas ditas, ela fala das mudanças físicas e emocionais, focando em aspectos negativos dessa fase até virar um homem.  Eugênio se desesperou.
         Eustáquio não conseguia entender o porquê desta atitude da escola. Não conseguia dar uma palavra ao filho, apenas o ouvia. E, à medida que o escutava, se enchia de revolta pela escola.
         Chegando em casa, Eustáquio chama a sua esposa e conta o corrido. Efigênia fica em choque ao ver o desespero do filho e as consequências de uma intervenção carregada de falhas. Efigênia resolve me ligar. Começa a ligação com a voz trêmula, em uma mistura de revolta e sentimento de impotência. Narrou tudo, em detalhes, sobre os medos e aprendizados do filho.
         Após a acolhida, orientei Efigênia sobre como ela e Eustáquio deveriam proceder:

1º Sentem-se, o casal, com o filho de tal forma que os olhares possam estar na mesma altura. Olhem-se de forma amorosa.

2º Escutem tudo o que ele tem a contar, sem interrompê-lo. Deixe-o esvaziar seus medos e angústias.

3º Comecem a contar sobre as alegrias que vocês, pais, tiveram quando tinham a mesma idade. Contem sobre como lidaram com a mudança corporal e as emoções.

4º Embora chateados com a conduta da profissional da escola, não foquem nela. Não desautorizem a escola. Digam apenas que a diretora contou parte da fase e reelaborem as falas dela. Exemplo do que ela falou e forma de falar melhorada.

Diretora: “A menina, para virar mulher, sangra no meio das pernas. ”
Pais: “Filho, a menina vai crescendo e o corpinho dela vai se preparando para torna-la mocinha e depois, mulher. Há um órgão que é exclusivamente feminino, chamado útero. Ele é responsável pela vida! Ele que guarda os bebês. O sangue é sinal que o corpo já está se cuidando para que, no futuro, ela possa ser mamãe. É lindo isso!”

Diretora: “ O menino vai enchendo de pelo, a voz fica engraçada, porque cada hora, está de um jeito (fina ou grossa) e o pênis de cada um fica de um tamanho.
Pais: “Sobre os meninos, meu filho, os pelos vão chegando devagar. Assim, como a mudança da voz. Essa é a magia do crescimento, mostrando que ele está saudável. O pênis se desenvolve sim, porém o tamanho nunca foi importante. Tudo em nosso corpo é proporcional, e a nossa beleza está exatamente em sermos únicos. Cada um com o seu jeito.

5º Após a conversa, perguntem como ele está. Procurem saber se compreendeu melhor essa transição.

6º No final de tudo, proponha uma atividade em família. Algo que cada um possa fazer e o resultado final tenha a união de todos (organizar um jantar, um jogo, um filme)

         Efigênia ficou mais tranquila. Desligou e foi realizar as sugestões. Fiquei na torcida. No outro dia, pude perceber que a família havia se acalmado e tudo tinha dado certo. Sugeri que fossem até a escola e dividissem o ocorrido. Uma forma de contribuição para que pudessem verificar como estavam as outras crianças e repensassem a estratégia de abordagem.    Cabe à escola os ensinamentos científicos, mas a didática é primordial.

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