Não posso
mais ser amiga delas
Fabiola Sperandio Teixeira
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e casais
Pérola é uma adolescente com
comportamentos bem característicos da fase: não aceitação do físico,
dificuldades em lidar com o conteúdo interno, oscilação nas relações
familiares/amizades e dificuldades com a escola.
Por causa do baixo rendimento ela foi
chamada para conversar pela direção escolar.
O interesse em entender o que estava acontecendo era grande. Por que
caiu tanto o rendimento? Onde está aquela aluna comprometida?
A conversa iniciou falando sobre rotina
escolar. Pérola mostrou-se irritada porque sabia que a falta de rendimento não
tinha nada a ver com a escola. Seu aprendizado estava comprometido porque
estava muito triste com o afastamento de suas amigas.
Acontece que ela não conseguia
manifestar tal situação. Ao longo da busca por entender o que estava
acontecendo, Pérola começa a chorar e diz: “Eu não tenho direito de estragar o
dia das minhas amigas. Tenho muitos problemas e não sou uma boa companhia. ”
O desabafo trouxe um choro longo e doído. Ela
havia se afastado das amigas por não se achar interessante no momento e,
consequentemente, as amigas sofrendo a indiferença acabaram por se afastar
também.
Estava ali instalado um círculo que ela
não conseguia romper. E muito menos enxergar. Por se achar “chata e
problemática” queria poupar as amigas. E será que as amigas concordavam que ela
estava as incomodando?
O diálogo procedia fazendo-a refletir
sobre cada desabafo. A intenção era fazê-la perceber que muitas vezes nos
afastamos das pessoas por nos julgar ou julgá-las sem a menor chance de
manifestação e comprovação do “achismo”.
A cada reflexão ela se abria mais para
o entendimento da situação. Pérola precisava de escuta e ajuda. O acadêmico era
apenas consequência. Precisava resolver as dores internas e o relacionamento
conflituoso.
Pérola aceitou participar de uma roda
de conversa com as amigas. A mediação era apenas para assegurar que a linguagem
seria compreendida. E assim foi feito. Pérola falou de suas dores e explicou
sua reação. As amigas mostraram os sentimentos e as interpretações. A medida
que iam esvaziando os mal-entendidos e os sentimentos ruins, os sorrisos e os
olhares iam se encontrando.
De adolescente que se sentia
complicada, à medida que ouvia as amigas ela pode perceber o quanto ela era
importante e como ela conseguia ajudá-las com as suas vivencias dolorosas. Era
impressionante ouvi-las e senti-las.
Pérola percebeu que não precisa afastar
por sentir que sua vida era complicada demais para dividi-la. As amigas
entenderam que a dor interna a fez tomar esta atitude. O abraço coletivo trouxe
a chance de estarem juntas de novo. Pérola não precisava seguir sozinha. As
amigas podiam continuar realizando trocas com a Pérola.
Quanto ao rendimento escolar? Ah agora
é aguardar. Elas saíram combinando que iriam estudar juntas. Acredito que agora
o acadêmico terá espaço. Que a aprendizagem entrará no lugar que estava ocupado
com a dor e a incerteza.
Muitas vezes nossos filhos deixam de
aprender por estar com o emocional invadindo seus pensamentos e sentimentos.
Precisamos escutar mais e ajudar a administrar aquilo que muitas vezes nem os
adultos dão conta, mas que uma forcinha faz toda a diferença.
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