Meu filho
mente
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Recebo
muitas famílias intrigadas e incomodadas com a mentira dos filhos. Muitas vezes, sentem-se esgotadas nos
recursos de correção, emocional e fisicamente sem energia. A mentira parece que
fica impregnada naquele ser. Soa como vício. Vira e mexe, lá vem ele com mais
uma mentira.
A
mentira tem como objetivo faltar com a verdade. Claro! Uma intenção de
trapacear, enganar, ludibriar. Porém, assim como a verdade tem várias formas de
ser dita, a mentira também se mostra de variados aspectos. A mentira pode vir
carregada de omissão, dissimulação, distorção, exageros ou diminuição de fatos,
fantasias, impulsividades. “Tudo junto e misturado” com um único objetivo:
faltar com a verdade.
A
mentira não está só nos nossos filhos ou em crianças. Infelizmente, a mentira
está no comportamento os adultos, nas publicidades, na TV, na internet, em todo
lugar.
O
primeiro passo para combatê-la é encará-la. Olhar para essa criança e não achar
desculpas pelos atos. Entender que, muitas vezes, ela até não está mentindo,
mas o fato de faltar com parte da verdade já deve ser motivo de preocupação.
Isso deve ser trabalhado.
Algumas
crianças lançam mão “desse recurso” para se beneficiarem. Muitos adultos fazem
vistas grossas e não percebem que assim, acabam instalando o comportamento. Um
bom exemplo é o que, muitas vezes ocorre na escola. Eles contam a parte que
acreditam beneficiarem a si mesmos. Escondendo ou modificando a verdade sobre
algo que possa desagradar os pais ou aumentando a história para se vitimarem em
relação à professora ou colegas. Outro aspecto é o fato de eles selecionarem o
que contam, acreditando que algumas coisas podem ser deixadas quietas: transgressões,
por exemplo.
Precisamos
achar o equilíbrio na busca da verdade. Não podemos agir como se eles sempre
fossem mentirosos ou omissos e, muito menos, demonstrar que acreditamos em tudo
o que trazem. Difícil? Um exercício necessário para o desenvolvimento dos
nossos pequenos. Outro cuidado necessário é desenvolver a necessidade da
confiança e mostrar que ambos se beneficiarão em cuidar para que a verdade seja
soberana.
Quando
trabalho o tema com as crianças e adolescentes, sempre procuro mostrar quer a
verdade é sempre o melhor caminho. Se fez algo errado você tem um problema. Se
fez algo errado e escondeu ou mentiu, passa a ter mais de um problema. Vou
trabalhando para conscientizá-los que a verdade é libertadora.
Outro
recurso que utilizo é mostrar “as encrencas” em que eles se metem quando lançam
mão das mentiras. Que a mentira pode, momentaneamente, tirá-los do apuro, mas
como ela tem “perna curta”, em breve, os colocará em maus lençóis de novo.
Percebo
que as crianças e adolescentes só começam a modificar o hábito horroroso de se
safar das situações através da danada da mentira quando as consequências dos
seus atos ficam evidentes. Como utilizam a mentira em benefício próprio, ao
perceberem que o benefício não aconteceu e ainda trouxe privações, começam a
repensar tal atitude.
Crianças
e adolescentes mentem muito para fugir das responsabilidades: hoje não tem
tarefa porque o professor não foi; a sala estava indisciplinada e o professor
não deu aula; vou dormir na casa da Maria (colega adorada pela mãe), mas, na
verdade, dormirá na casa da Joana (colega que a mãe jamais deixaria); “todo
mundo irá à festa” como tentativa de seduzir para o sim; diz que lanchou, porém
está sem comer há semanas, guardando o dinheiro para comprar algo que os pais
não apoiariam, etc. A mentira se torna atraente porque tem o poder de mudar a
realidade, gerando “benefícios” a quem se propõem a enganar.
Muito
se estuda sobre esses mitômanos. Não conhecia esse termo? Vamos lá! Mitômanos
são mentirosos compulsivos, mentem com tanta convicção que são capazes de crer
na própria mentira. Fazem da mentira sua principal qualidade. Adquirem
dependência da mentira e passam a ter necessidade de mentir. Triste, né? Essas
pessoas, por sua vez, criam mundos paralelos. Muitos se tornam tão adoecidos
que precisam de tratamento para essa psicose.
E
como lidar com esse filho mentiroso?
1- Observe
se ele tem exemplo. Tem alguma ação familiar que pode demonstrar a ele que é
vantajoso faltar com a verdade?
Exemplo
A: Filho, fala para sua amiga que vamos viajar, porque não quero que ela venha
para casa. Vamos ficar aqui só nós 4.
Exemplo
B: Querido, diga para a sua chefe que eu estou doente e vamos naquele passeio.
Exemplo C
– Filha, fale para o seu pai que a escola que mandou ir para casa da colega
fazer trabalho porque, se você falar que quer ir passear, ele não deixará.
2- Como anda
o amor próprio do seu filho? Crianças com baixa autoestima podem lançar mão de
mentiras. Trabalhe a segurança. Ensine-o a dizer não e a assumir suas atitudes
sem medo. Ensine-o a se amar, ressaltando as qualidades e corrigindo o que
precisa corrigir. Mostre que evoluir faz bem.
3- Não
reforce a atitude dele de mentir, sempre o acusando de mentiroso. Não aponte
dedos. Acolha, corrija e mostre as consequências da atitude de mentir. Reflita com ele. Mostre que o quer bem. E que
mentira não traz bons momentos.
4- Não
supervalorize esse mau hábito. Trate-o. Acredite que seu filho crescerá com os
ensinamentos. Não o rotule ou o condene como se ele fosse ser assim para o
resto da vida.
5- Não fique
comparando-o com ninguém. Ele é único. Comparar só irá fazer mal e não
resolverá o problema.
Exemplo –
Seu irmão não mente! Aqui só você é assim!
6 –
Ame-o. Amar significa acolher e ensinar. Amar significa não fingir que algo
está acontecendo ou que é fase e passará. Amar significa encarar tudo ao lado
dele e ajudá-lo a superar.
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