Preconceito: onde ele
inicia?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Ouvir sobre ações preconceituosas,
infelizmente, virou rotina nos ambientes sociais: família; igreja; escolas. Não
há um único dia que não nos deparemos com frases, piadas e ações de exclusão e
exposição. As inúmeras campanhas televisivas, digitais, projetos de
conscientização sobre o bullying, leis criadas para coibir ainda não impediram
atos tão dolorosos e maldosos. E qual a origem disso?
Triste dizer que existe uma cultura
que reproduz o preconceito. Lembrando que a criança, ao nascer, não sabe o que
é preconceito, este comportamento é aprendido. E os primeiros professores são
os familiares. Triste, né?
Outra curiosidade do nosso cotidiano
é que ações preconceituosas viram piadas e diversão até o momento em que a
vítima “é um dos nossos”. Ahhh. aí o “bicho pega”! E mais uma vez ensinamos
outro conceito a respeito: pode sim aos outros, mas não comigo. E o que fazemos
com o ensinamento “Não faça com o outro aquilo que não gostaria que fizessem
com você”?
Esses dias, caminhando em um
supermercado elitizado da cidade, observei uma família muito peculiar. A mãe
dizia estar ensinando ao filho fazer compras. Com isso, indicava as prateleiras
onde se encontravam certos produtos que estavam presentes em uma lista de
compras trazida de casa. Ela comentava
com uma amiga que fez a lista com o filho, mostrando, que não se vai às compras
sem saber o que necessita e que queria prepara-lo para vida em todos os
aspectos, incluindo a economia.
Até aqui parecia uma ação sensata e
muito madura. Eu até a admirei por permitir que o filho aprendesse na prática o
que são necessidades, busca de produtos com qualidade e preço. E ainda a soma
paralela do que se comprava mediante o valor disponível para o pagamento.
Fiquei tão interessada que disfarçava
entre uma prateleira e outra para observá-los. Tinha a intenção de vivenciar
esta experiência com eles. Estava admirando esta mulher até que...
Até que o ensinamento de onde os
produtos se encontravam começou a trazer conteúdos preconceituosos: “Filho,
este produto fica na prateleira após estes dois corredores, bem do lado daquele
gordo ali.” “Pequeno, este produto realmente é mais barato, mas deixa aquele
cheiro de perfume de pobre, escolhe outro”; “Deus me livre desta marca de
macarrão. Ao cozinhar ficará parecendo lavagem ou merenda de grupo escolar”;
“Amor, eu já te falei que devemos economizar, mas com cautela; não estamos
comprando com cartão bolsa-família”. A cada frase, a mãe, muito bem vestida e
em um salto que nada combinava com uma tarde de supermercado, soltava uma
gargalhada como se debochasse ou imaginasse a cena.
Já intrigada e até irritada,
permanecia agora observando como este adolescente de uns 12 anos reagia às
frases preconceituosas. Não me surpreendi quando o vi cansando-se da
“brincadeira de aprender a fazer compras” e MANDOU a mãe ligar para o motorista
para embalar e carregar as compras. Em seguida, ainda ordenou que fossem a uma
confeitaria, porque tudo isso havia lhe despertado um desejo de algo bem
saboroso para comer.
Mediante essa cena, fiquei imaginando
o que, de verdade, este adolescente havia aprendido. Por trabalhar em uma
instituição escolar, é claro que me peguei pensando em como ele reproduziria
isso na escola em que estava inserido.
Se o dever da família é educar seus
filhos para serem cidadãos de bem e a escola completar este papel, como ficaria
esta criança entre o exemplo prático e os ensinamentos teórico-reflexivos? Quais
questionamentos ela fará a esta família quando estiver frente aos projetos
educacionais? Como ela se sentirá se percebendo reproduzindo ações
preconceituosas com os amigos e familiares?
Devemos ensinar nossas crianças a reconhecer
os preconceitos e combatê-los. Ter um olhar generoso às diferenças é um caminho
muito importante para uma convivência harmoniosa e de muito aprendizado.
Sentimentos despertados com a convivência social são oportunidades de evolução
e maturidade: frustrações, intolerância, medo, raiva. Não podemos permitir que
as crianças, por sentirem-se muitas vezes insatisfeitas com algo, devolvam
agressão ao próximo. E muitas vezes esta agressão tem vindo em um formato de
frases preconceituosas, ofensivas. Hoje se “bate” mais com a palavra do que com
a força física entre os jovens. E o que estamos fazendo contra isso?
Se as campanhas ostensivas ainda não
coibiram tais ações, peço às famílias que tenham uma EDUCAÇÃO OSTENSIVA. Não
permitam atitudes de preconceito em seu lar. Conversem sobre o assunto sempre
que precisarem. Ensinem os seus familiares a verdadeira essência da palavra
RESPEITO. Se começar de casa, todos os outros ambientes serão contemplados.
Vamos nos educar para que possamos educar o outro. Vamos melhorar este mundo
AGORA!
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