quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Filho único

Filho único




Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais



Talvez você tenha se sentido atraído para esta leitura pensando que aqui seria discorrido sobre uma série de desvantagens de ter um filho único. Não trilharei este caminho.
Acredito que baseados em nossos ensinamentos que latejam em nosso inconsciente, somos, muitas vezes, repetidores de argumentações contrárias à opção de gerar um único filho. Porém, temos que levar em consideração que deparamos com filhos únicos oriundos de diversas situações: viuvez de um dos cônjuges, separação de casal, impossibilidade de ter outro filho pela genética ou pelo financeiro, “produção independente” ou opção mesmo.
O filho único tem todas as chances de aprender a socializar-se, dividir, ser generoso, cortês, companheiro da mesma forma do que se tivesse irmãos em casa. Por quê? Porque o filho único está inserido na família com primos, inserido no prédio ou bairro com amigos; e, sobretudo, participa do convívio escolar, local onde   promove o convívio igualitário e estimula a troca entre os indivíduos.
Quanto à  fama de que filho único é mimado,  é preciso fazê-los pensar que quando uma família possui atitudes de mimar a  criança, ela faz isso independente de ter um ou mais filhos. Vale ressaltar que muitas vezes nos deparamos com primogênitos ou caçulas muito mais cheios de vontade do que alguns filhos únicos.
A família de filho único não precisa compensar a ausência de irmãos. Está aí muitas vezes o erro. Uma eterna culpa que muitos genitores carregam que só atrapalha. Precisamos estar bem com as nossas escolhas ou possibilidades, porque estando feliz com um ou mais filhos, a chance de acertar na relação é muito maior.
 Não existem formas de lidar com os filhos ou com o filho único, existem sim necessidades e formatos diferentes. Exatamente porque são crianças com as suas individualidades e isso independe da quantidade de filhos. Encarar a escolha de ter um ou mais filhos é o melhor caminho para encontrar acertos na criação. Com a cabeça livre de fantasmas sobrará mais tempo para pensar e criar estratégias de convivência saudável.
Existem famílias que se sentem obrigadas a corresponder às expectativas da sociedade. Acham que precisam seguir a “ditadura” conceitual de modelo de família. Precisamos nos sentir livres da ideia de que ter um filho ou até não tê-lo  não pode ser um determinante para aceitação social ou para saúde emocional.
         Algumas pessoas defendem a redução do número de filhos,justificando condição financeira. Não vou me pautar por esse caminho porque não penso desta forma. Quem tem o desejo de ter filhos e os tem, com certeza até se sentiria muito capitalista se fosse justificar a quantidade pelo gasto de investimento. Filhos não custam caro. Nunca!  Eu os vejo sempre com o olhar do ganho que eles nos proporcionam de amadurecimento pessoal e espiritual. Então, mesmo com teses que defendem a redução de números de filhos associadas à   ascensão da mulher moderna no mercado de trabalho e no alto custo financeiro gerado, eu me recuso a ir por esse viés, mas respeito todos que pensam e escrevem partilhando dessa preocupação atual.
         
          Existe um ganho que as famílias de mais de um filho precisam aprender com os pais de filho único. Os pais acabam favorecendo o convívio com ele. Não há um pensamento de que o filho está com o irmão brincando, então estou livre para fazer outra coisa. Pais de um só filho se preocupam mais em marcar presença. Focam mais em seu filho, aproximam-se  e permitem  que ele acompanhe com maior proximidade a sua rotina. Com essa rotina de aproximação, pais e filho ampliam sua vivência e crescem muito juntos.
         
          Alguns filhos únicos se sentem tão completos que nem cobram irmãos. Outros se sentem tão amados que também gostariam de ter um irmão para usufruir do amor dos pais junto com ele. Com isso, temos filhos únicos que não cobram a continuidade da família, mas também temos os que cobram dos pais que tenham mais filhos. Essa situação só se tornará um problema se não houver transparência dos objetivos e metas familiares. Se a família está segura quanto à decisão ou  imposição da natureza (caso haja o desejo associado à impossibilidade), todos entenderão e conseguirão seguir com harmonia e alegria.
        
        O período que requer mais atenção de pais de único filho, acredito que seja a chegada da adolescência. A mistura de sentimentos e a busca da identidade muitas vezes traz a introspecção e a família precisa entender esse processo. Entender significa compreender o momento, mas jamais deixar de ser pai para ser amigo. Não é isso que o adolescente precisa. Serem pais passando segurança, oferecendo exemplo e presença é muito importante nesta fase. Oferecer um colo para confidências significa permitir a partilha de suas angústias para alguém que precisa ser o porto seguro sempre.
          
       Outro aspecto que percebo como muito angustiante nas famílias que atendo de filho único é o receio do filho se deparar com a morte dos pais e se sentir sozinho. Então eu pergunto: ter irmãos garante a companhia eterna? A família precisa dedicar-se  à criação de um vínculo saudável e que propicie o crescimento autônomo. É impossível prever o que acontecerá com a nossa família, independente se ela é grande ou pequena. Com a ausência dos pais, ter irmãos permite partilhar o luto, mas seria apenas uma parte dessa experiência dolorosa e não ela por inteiro.

         Se a opção foi um ou mais filhos, o importante é buscarmos a sabedoria para crescermos na convivência. Lutar para ter um lar harmonioso e recheados de momentos felizes, em meio às obrigações cotidianas, é o que nos realizará no final.

         Que sejamos pais livres das paranoias sociais! Viva a liberdade de escolha e a tranquilidade de lidar com aquilo que não podemos escolher.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Crianças Manipuladoras

Crianças Manipuladoras





Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casai


           “Eu fico com a pureza e a resposta das crianças: É a vida! É bonita e é bonita!”
          O nosso querido Gonzaguinha compôs uma música cuja frase chave é essa acima. Com ela, podemos interpretar que TODA criança é pura na visão do compositor, mas contrariando a bela letra que já cantarolamos inúmeras vezes, tenho que alertar que existem crianças más e manipuladoras. E, infelizmente, muito mais do que possamos imaginar.
       Se os adultos da relação somos nós, por que nos deixamos manipular ou não as percebemos? Vamos lá!
          Nós nos envolvemos emocionalmente com as crianças. Elas são meigas fisicamente, possuem uma voz doce e sabem piscar os olhinhos como ninguém quando desejam algo. E como nos derretemos por elas. Assim, fica difícil perceber quando elas mentem, criam, inventam e, muitas vezes, transformam a nossa vida em um caos.
         Adultos muito ocupados possuem a tendência de não verificar as versões dos fatos e já assumem o que a criança conta como verdade absoluta e saem fazendo aquele estrago na família, escola, condomínio onde moram, etc. Inocência dos responsáveis? Omissão? Comodismo? Seja qual for a palavra escolhida, na verdade, precisamos acreditar que podemos ser manipulados por crianças de 2 anos, por exemplo.
        Um dia pude acompanhar um caso bem intrigante. A família recorria à escola de seu filho com bastante contrariedade, alegando que seu pequeno estava sofrendo perseguição de colegas. A escola se prontificou a investigar a situação. Na devolutiva à família, foi pontuado que o filho estava com uma postura provocativa, o que gerava a reação dos colegas. Os pais, bastante revoltados, acusavam a escola de não cumprir com competência seu papel, acreditavam que seu filho era vítima de maus tratos dos colegas gratuitamente. O filho, percebendo o movimento defensivo dos pais, mostrou-se contrariado com a escola e solicitou a mudança da instituição. O mesmo foi transferido para outro ambiente escolar. Não demorou muito e a história se repetiu na outra escola. Os pais ainda não conseguiram enxergar o comportamento do filho e, novamente o transferiram de escola. Entre essas saídas e matrículas, a mesma criança também fazia severas queixas de perseguição sobre a síndica do prédio onde morava. A família se posicionava bravamente contra as regras e atitudes da síndica, que sempre penalizava o pobre filho. Percebendo a atitude defensiva sem confirmação da veracidade das histórias, o pequeno manipulador de 5 anos agora estava acusando a empregada de não lhe oferecer guloseimas após o almoço. E ainda foi além, a acusava de comê-las na sua frente. Isso resultou na demissão da funcionária de 4 anos de trabalho com essa família.
        O que acordou essa família? Uma viagem com amigos para praia. Juntos por 24 horas, os pais tiveram tempo, longe dos afazeres e entregues ao lazer, de ter a real percepção da personalidade do filho. Tudo começou ao observar, de longe, a resistência do filho às regras das brincadeiras com os filhos das famílias de amigos presentes na viagem. Depois, ver o filho maltratando o salva-vidas da praia foi triste, mas muito mais chocante, foi ouvi-lo narrar o que houve entre ele e o salva-vidas, uma vez que não sabia que os pais estavam por perto ouvindo e vendo tudo. Quanta dor e arrependimento por terem maltratado tantos profissionais sem a mínima razão. Depois, quanto tempo se perdeu reforçando o comportamento deste ser tão cheio de vontades más.
       Observar o comportamento das nossas crianças é muito importante. Crianças que maltratam animais, acham graça da dor do coleguinha, demonstram possessividade nas amizades, fazem dengo para conseguirem o que desejam ou se entregam a birras e emburramento, precisam de orientação e cuidados.
       Percebo a manipulação também quando os pais são separados. Se os pais não se unirem pela criação dos filhos através das trocas e diálogos, correm sérios riscos de serem manipulados. Neste caso, os ganhos secundários com a separação podem transformar os filhos em verdadeiras crianças cruéis. Na fase adulta, deparamo-nos com pessoas manipuladoras, maldosas, mentirosas, que culpabilizam o outro e podem ter aprendido essa conduta ainda bem pequeninas.
        Atenção às pequenas mentiras e transferências de culpa. Uma criança que está com uma tesoura na mão e nega que cortou a cortina, mesmo com todas as evidências, precisa ser acolhida e orientada. Achar engraçadinho e fingir que caiu em seu teatrinho, só a conduzirá para um comportamento de desvio de conduta.
         Alguns filmes retratam comportamentos destrutivos, raivosos, maldosos de crianças, mas, como aprendemos que crianças não mentem e são puras, fechamos os olhos, erroneamente, para essa possibilidade.



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Como lidar com a timidez do meu filho?

Tenho um “bichinho do mato” em casa.
 Como lidar com a timidez do meu filho?






 Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

O mundo atual ágil e dinâmico tem sido destacado por uma enxurrada de laudos de crianças hiperativas, ansiosas, falantes e muitas vezes sem limites. Mas, e quanto à criança retraída, o que tem sido falado?
Crianças que não gostam de evidência ficam assustadas quando a atenção recai sobre elas. Crianças que expressam pouco através da fala, possuem um tom de voz baixo e muitas vezes projetam a voz para dentro, são crianças tímidas. Ser uma criança tímida é um problema? Não! Porém precisamos ajudá-la para que isso não traga dificuldades nas relações sociais e no aprendizado. A família precisa identificar e respeitar o modo de ser dessa criança. Se o “estado tímido” não a leva a se isolar, a própria família e a escola poderão juntas ajudá-la. Agora, se o isolamento se tornar frequente e aparente, será necessário a ajuda de um profissional para trabalhar ferramentas de desenvoltura com a criança.
Quando falo em isolamento refiro-me ao isolamento social em festividades, brincadeiras, viagens. Toda criança pode apresentar momentos em que rejeite o coletivo, desde que isso não seja uma regra e, sim, uma exceção. A intervenção neste caso é de suma importância no período de formação de vínculos sociais (início da idade escolar).
A retração social ou timidez geralmente se destaca por volta dos primeiros anos de vida. Quando a criança é inserida na escola, esse momento promove o primeiro estado de independência familiar. Ao chegar ao ambiente escolar e se deparar com pessoas diferentes da família, a criança passará a enfrentar seus erros e acertos nas relações. É neste momento, também, que ela começa a descobrir regras diferentes de sua casa. Com as regras chegam as censuras e a autocensura. Inicia-se aí o primeiro receio de se decepcionar, de não corresponder o de desagradar ao outro. Mesmo tão pequena, para não se aventurar em erros e ser criticada pelo outro, a criança tímida recua e se reserva. Ela não se   arrisca para não ser corrigida porque ao ser corrigida, sente enorme vergonha e dor por ter frustrado alguém.  Reservar-se para não ser exposta, é um caminho que não lhe fará bem. A timidez é caracterizada pela preocupação excessiva com suas percepções, atitudes, reações e por pensamentos demasiados. Mesmo crianças de uma ano e meio já podem apresentar esse quadro.
São dois aspectos que podem colaborar para o desencadeamento de uma criança tímida: o ambiente familiar (dinâmica da família) e o hereditário (carga genética). O ambiente familiar castrador e repressivo, que não permita a experimentação, pode trilhar esse caminho da não exposição e aventura. Já a carga genética refere-se à herança da personalidade de um dos seus genitores. Exatamente por esses fatores que nos deparamos com pessoas extrovertidas e tímidas em nossa sociedade. Uma criança tímida inserida em uma família extrovertida, aos poucos ela irá vencendo a sua timidez pelo estímulo familiar. Uma criança tímida inserida em uma família reservada, a tendência natural será a criança se retrair cada vez mais.
            O papel da família é decisivo para o combate da timidez da criança. Ao gerar segurança e aceitação do jeito de ser, a criança se sentirá livre para se arriscar mais nas relações sociais e diminuirá a ansiedade por medo de errar e se decepcionar. Vale ressaltar que uma criança extrovertida e social, mas, que ao mesmo tempo demonstra timidez temporária em alguma situação ou local, isso é perfeitamente aceitável.
           Aqui vão algumas dicas para as famílias de crianças que estão apresentando um quadro de timidez:
- promova atividades coletivas onde a criança terá que se relacionar com o outro: parque do condomínio, clube, uma passeio no bosque, locais em que ela encontrará outras crianças para brincar e socializar-se;
- atraia amiguinhos para passeios em sua casa, cinema, teatro e observe o movimento de integração. Você poderá dar dicas após observá-la, para que os próximos encontros sejam ainda mais produtivos;
-  atue para autonomia da criança. Dê pequenas tarefas onde ela possa caminhar sem você. Exemplo: pegar uma bola que caiu no meio de um grupo de crianças; ir até o caixa de uma lanchonete fazer o seu pedido; escolher um livro, em uma livraria, procurar um atendente para informações e se dirigir ao caixa para o pagamento; entregar o convite do seu aniversário e dar informações sobre a festa aos familiares; dar recados entre outros afazeres que permitam caminhar sem a sombra de um tutor.
            Críticas e brincadeiras (que parecem inocentes, mas não são) não colaboram com as crianças. Evite expô-las. Ações e falas em público só pioram o quadro. Portanto, jamais faça comentários como: meu filho é um bichinho do mato; fala filho com as pessoas; parece que não dou educação; ele(a) me envergonha ,porque parece mal educado; eu ensino cumprimentar, mas não aprende; ele(a) é tímido e isso não me puxou; tímido igual fulano, credo!
            Geralmente as pessoas percebem logo o perfil das crianças. Reconhecem as extrovertidas e as tímidas. O importante é saber respeitar e trabalhar para ajudar a obter o equilíbrio a fim de que   tenha um desenvolvimento sadio e harmônico.