Por que sinto culpa
por meu filho estar de férias e eu não sentir prazer com isso?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e
Casais
As
férias chegaram e muitos papais e mamães não conseguem combinar suas férias com
as de seus filhos, resultando em filhos em casa e papais no trabalho ou filhos
com parentes e papais trabalhando.
O
grupo de familiares que opta por permanecer com os filhos em casa sofre com o
término da primeira semana. A primeira semana já passou e tudo o que esses
familiares haviam pensado com os filhos já se esgotou. A novidade dos filhos em
casa vai dando espaço ao desespero “do que posso fazer com eles”. A rotina muda
e muitas vezes tira os pais da zona de conforto do “tudo programado”.
Os
filhos, por sua vez, começam a solicitar mais os pais por mensagens,
telefonemas e na presença. Sentem-se ociosos e querem atenção daqueles que são
próximos. Os pais começam a cansar-se do assédio e se desgastam em pensamentos
queixosos sobre ou no relacionamento com os pequenos. E de repente o que era para ser leve se torna
muito pesado e desarmonioso.
Já
o grupo de pais que programa este período entre semanas nos avós e tios, fica
antenado nas notícias e fotos enviadas. Desta forma, esses pais sabem que seus
filhos estão bem cuidados, mas se culpam por acreditarem que deveriam estar
presentes e “despacharam” os filhos.
Os
dois grupos de famílias, os que se ajeitam em casa mesmo entre a rotina dos
pais e a programação com os filhos, e os que programam visitas, se sentem
constrangidos e culposos neste período que deveria ser natural e leve. Se as
férias ocorrem anualmente, por que toda vez geram sentimento de culpa e incômodo?
Acontece
que estamos desenvolvendo um nível de ansiedade e cobrança em tudo o que
realizamos. Sabemos da nossa importância como pais e acreditamos que, se por
algum momento, a delegamos, nos soa como fracasso ou incompetência. E isso tem
gerado muitos conflitos internos desnecessários.
É
muito saudável que as nossas crianças estejam vivenciando novos ambientes,
convivendo com pessoas diferentes, experimentando novas rotinas e aprendendo
com tudo isso. Se olharmos por este ângulo, tudo ficará mais fácil e mais
saudável.
Querem
fazer parte das férias dos filhos mesmo trabalhando? Programem o final de
semana e vão até onde seus filhos estão ou organizem deliciosos passeios de
finais de semana. A qualidade deste encontro lhes trará a sensação de estarem
juntos. Tudo o que nos cobramos sempre.
Outro
aspecto importante é ter uma conversa sincera com os filhos sobre a sua rotina
de trabalho e a rotina escolar deles. É importante que os filhos compreendam
que existe o dever e o desejo. Aqui surge a brecha para ensinar-lhes que nem
tudo o que desejamos podemos ou que para realizar desejos, cumprimos deveres.
Tudo
o que ocorre em nossa vida familiar deve ser instrumento de crescimento e
evolução de todos. Se utilizamos as oportunidades para crescermos em família, a
culpa dá lugar ao prazer de ver todos crescendo.
E
quando os filhos comparam as famílias e cobram férias como as férias dos
amiguinhos? “Papai, o fulano viajou com a família para o exterior. ” “Mamãe,
por que não vamos todos para a praia como a família da minha amiguinha?. ”
Mais
uma excelente oportunidade para ensinar que cada família tem a sua dinâmica, as
suas prioridades, as oportunidades e as suas programações. Mostrar que a
alegria das férias está em o que fazemos juntos (dos nossos) e não onde, é
outra missão. No mundo das redes sociais, não é raro ver crianças e
adolescentes acreditando em uma aparente felicidade pelas postagens. De repente,
se sentem entediadas por ver tantas fotos de famílias em férias e passam a dar
valor ao que é visto como regra de felicidade: estar; ter; postar.
Resgatar
as alegrias na convivência, no fazer coisas diferentes e na simplicidade, tem
sido uma missão nada fácil, porém, necessária se desejamos ter filhos com
valores focados no ser, que sintam alegria no conviver e reconheçam os esforços
da família em tudo o que veem.
Fico
pensativa no como os pais de antigamente faziam com tanta sabedoria esta
programação de férias. E olha que antes
tínhamos até três meses de férias: dezembro, janeiro e julho. Hoje, as crianças
quase não possuem o descanso necessário para a retomada do ano letivo.
Que
o período de férias seja agregador para a sua família. Que possam experimentar
novas formas de convivência, já que a rotina das crianças e dos adultos não tem
permitido grandes interações familiares. Interações familiares além da família nuclear,
incluindo as famílias de origem dos pais. Pensem nisso e um feliz período de
recesso escolar a todos.
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