Depressão infantil: presença em nosso cotidiano
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Muito tem se
falado sobre depressão em razão da vida que temos levado. Frases como: “Nunca
fomos tão tristes”; “Depressão, o mal do século”; “O segmento farmacêutico está
lucrando com ansiolíticos e antidepressivos” estão cada vez mais frequentes nas
rodas de conversas. Mas afinal, estamos refletindo que um adulto, ao enfrentar
este problema, pode ter carregado elementos do mundo infantil? Que ele, de
repente, não ficou deprimido com a rotina adulta, mas que sempre foi deprimido?
Precisamos
voltar os olhos para os nossos pequenos e identificar alguns sinais:
1-
Quais as escolhas que seu filho tem feito na
hora de assistir a desenhos ou filmes? Os cheios de ação e movimento ou os mais
fantasiosos e emotivos?
2-
Que tipo de literatura (historinhas) o atrai?
Histórias nas quais o personagem é uma vítima sofrida, que vivencia rejeição e
desamor?
3-
Mesmo com a casa cheia, o seu filho se isola com
algum brinquedo ou interage? Mostra-se integrado ou com sentimento de
não-pertencimento?
4-
Suas narrativas apresentam muitos pensamentos
mágicos de transformação, incluindo a solicitação de mais presença de algum
membro da família? Exemplo: se eu pudesse, o papai não viajaria mais!
5-
Traz sentimento de se sentir diferente dos
amigos da escola, esporte, grupos do condomínio ou da rua? Acha que não é
querido?
6-
Conta sofrimentos de colegas sempre carregados
de injustiça e crueldades juvenis?
7-
Rói unha, fere-se com cortes ou aparece com
roxos pelo corpo, marcas típicas de autopunição?
8-
Possui pensamentos negativos sobre os desafios
escolares, esportivos e festividades familiares?
9-
Observa a
relação dos pais com as outras crianças com ar de desconfiança e ciúme, e
depois recua dos mesmos, rejeitando afagos e carinhos?
10-
Não é convidado para eventos dos amiguinhos e
sempre acha uma justificativa?
11-
Tem baixa autoestima, sempre falando de si com
descrédito ou falsa autoestima, exagerando em seus predicados, mostrando-se
claramente uma defesa?
Esses são sinais e não regras para atestar uma
tristeza ou depressão. Sinais são oportunidades para que possamos dialogar e
ajudar nossos filhos. Nenhum adolescente que demonstra desamor à vida
desenvolveu esse sentimento da noite para o dia. Os altos índices de problemas
psiquiátricos em adolescentes e adultos geralmente incluem situações oriundas
da infância.
Dialogar com os nossos filhos significa
dar abertura para ouvi-los, entender a sua dor, sem julgamento e apontamento. É
permitir que ele se abra e trabalhe a sua dor, os seus receios e as suas
“neuras”. Às vezes a simples chegada de mais um membro da família pode
desencadear uma insegurança seguida de tristeza. Pais cuidadosos, ao perceberem,
precisam conversar com seu filho e gerar um ambiente seguro de amor e
cumplicidade. Considerar a dor do outro, sem banalizá-la, é o primeiro passo
para o conforto e a retomada dos sentimentos construtivos. Não podemos esperar
de uma criança o que muitos adultos não conseguem fazer: refletir sobre a dor
interna, compreendê-la e traçar estratégias para superá-las.
Um
erro muito recorrente que encontro como terapeuta familiar são pais de filhos
estudiosos e “aparentemente bem-sucedidos” na escola e demais aulas extras
ignorarem o pedido de socorro emocional. Ter excelentes notas e sucesso no
ballet ou judô, por exemplo, não significa que a carga não pode estar pesada
demais para ele/ ela. Muitas vezes o esforço de ser modelo e agradar traz uma
carga emocional muito sofrida e pesada para administrar. Você já perguntou ao
seu filho se ele é feliz com as suas escolhas? Se está bem com a sua rotina? Se
ele mostrar-se arrependido por uma escolha ou que está pesado demais, negocie.
Não ensine a abandonar; administre a rotina e coloque data para concluir, como o
término de um semestre, por exemplo. Só de ele saber que pode negociar, se sentirá
ouvido e poderá até, após o alívio da obrigatoriedade, desistir de desistir.
Quais
valores você tem trabalhado com sua prole? Frequentar a família, ter religião, passeios
em harmonia familiar, desenvolver o respeito à hierarquia familiar, fazer
visitas, gerar sentimentos de generosidade e doação também ajudarão seus filhos
a possuírem sentido à vida. Precisamos
mostrar que o mundo é muito além do egoísmo que temos permitido em nossos
lares.
Fiquem
de olho!
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