segunda-feira, 10 de junho de 2019

Para onde eu vou no Natal, mamãe?


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Para onde eu vou no Natal, mamãe?

Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

                 “Papai passará o Natal com a família da nova namorada, que nem sabe que eu existo. Mamãe ganhou passagem de avião para ir encontrar o namorado e não tem passagem para mim. Vovó vai encontrar o grupo da terceira idade da academia.  Vovô já morreu. A vovó Diva está cuidando do vovô lá no Piauí. A Dindinha vai passar o Natal na sogra, paga ‘ingresso’ e disse que já tem três filhos, mais ela e o Dindinho; fica caro me levar. E agora? Para onde eu vou?”, desabafa Eduarda.
        Este é o retrato de muitos lares. Lares modernos ou lares desajustados e irresponsáveis? Como pode uma criança ter dúvida e insegurança de onde ela passará o Natal? Claro que foi assistindo aos adultos contarem o que farão no Natal deste ano e foi sentindo a exclusão. A dura e dolorosa exclusão.
        O que está acontecendo com algumas pessoas? Onde está o espírito natalino? Como alguns podem pensar em um Natal sem incluir a sua cria? E querem saber quantos anos tem esta criança? Apenas 10 anos.
        Aos 10 anos, ela já tem quem “achar” um lugar para se encaixar no Natal. Aos 10 anos, ela tem que ver que amigos e namorados são mais importantes do que ela. Aos 10 anos, ela tem que lidar com uma preocupação e uma carga emocional para o qual não tem estrutura. Aos 10 anos, ela não deveria estar apenas sonhando com a emoção da noite natalina?
        Hoje participei de uma entrega de presentes solicitados pelas cartinhas do Correio. Um projeto desenvolvido com crianças de idade bem próxima. E sabe o que elas fizeram ao ver o Papai Noel dos Correios? Elas o abraçaram, conversaram e fizeram pedidos. Será que esta criança, a Eduarda da nossa reflexão de hoje, não gostaria só de pensar que poderia abraçar, conversar e fazer pedidos ao generoso velhinho?
        Se você, que está lendo esta história, nunca imaginou que isso poderia acontecer, “tá aí”. Triste? Muito! E o que você aprende lendo? Que aprendizado este texto lhe proporciona?
        E o que será que irá acontecer com a nossa Eduarda? Não posso assistir a sua angústia e cruzar os braços. Lá fui eu atrás desta família. Reuni pai, mãe e avó. Permiti que me trouxessem a história familiar e os acolhi generosamente. Em seguida, mostrei que, nessa história familiar, haverá alguém em sofrimento. Que precisávamos repensar as atitudes individuais e ter ações coletivas.
        Um silêncio pairou em minha sala. Deixei que ele acontecesse. Acredito que o silêncio gera uma reflexão e poderia sair dali, uma ação. De repente, lágrimas desciam. Cada um do seu jeito, manifestando a dor interna diante da realidade ali apresentada.
        Foi, então, que eu perguntei: “Como será o Natal de vocês? Onde a Eduarda estará? ”.  Nessa hora, mãe e filha se deram as mãos. O pai olhou com atenção. A mãe da Eduarda disse ao ex-marido que ele podia seguir os planos dele, mas que ela iria montar uma ceia natalina em casa. Olhou nos olhos da mãe, avó da Eduarda, e disse: “Mamãe, você pode se dividir entre nós e o grupo de amigos da academia? A senhora ceia conosco?”. A avó de Eduarda respondeu abraçando a filha. Em seguida, disse que elas eram mais importantes e que teria outras oportunidades.
        Foi assim que eu trouxe Eduarda ao nosso encontro. Ela recebeu a notícia. Eduarda, mãe e avó se abraçaram. Eduarda sorria de orelha a orelha. O pai explicou que acertou com a mãe que manteria o compromisso, mas que, no Ano Novo, estariam juntos. Eduarda, gentilmente, disse que estava tudo bem.
        Passados dois dias, recebi no meu aplicativo de conversas fotos da Eduarda, sua mamãe e sua vovó decorando a casa. Uma mensagem com apenas uma frase: “Estamos mais felizes com a mudança de planos”. Ali percebi que muitas vezes os adultos vão agindo tanto por impulsos e empolgação dos momentos que se tornam egoístas e insensíveis. E que não devemos nos calar diante disso. Se cada um de nós colocarmos uma pessoa para pensar quando estranharmos algo, já faremos a diferença.
       

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