“Meu
filho tem 10 anos e tem insistido que quer experimentar bebida alcoólica. O que
eu faço?”
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
Pode
imaginar receber uma mãe com esta angústia? Um pedido de socorro naquilo que
deveria ser bem óbvio? Mas por que ficamos inseguros com este tipo de abordagem
de nossas crianças?
Nós nos
surpreendemos com a precocidade de nossos pequenos. Enquanto achamos que vamos
ouvir um pedido de um carrinho para a sua coleção como desejo de consumo, vem
uma bomba desta, o desejo de beber como adultos.
E o que
tem levado jovens à busca de consumo de álcool? Quando converso com eles,
percebo “de cara” o desejo da popularidade a qualquer custo. Acreditam que,
para serem felizes, precisam ousar, arriscar e aparecer. Como já fazem parte da
geração do consumo a qualquer custo, não é difícil transferir o desejo de posse
para a droga “lícita”.
Outro
aspecto é a “mistureba” do mundo adulto com o mundo infantil. As crianças de
hoje, em sua maioria, frequentam todos os lugares do mundo adulto e esquecem
que ainda são infantis. Apoderam-se (para usar a palavra da moda) do direito de
também fazer. Presenciam tanto grupos de adultos em uma aparente felicidade em
meio às festividades regadas ao consumo de bebidas que desejam fazer parte e, o
pior, exibir este acesso aos demais colegas como forma de se impor e mostrar
que “cresceram”.
Outro
incentivo são as mídias sociais que vendem a imagem da bebida associada com a
beleza e a alegria. Estendo o acesso das redes sociais as presenciais, Hoje é
cada vez mais comum ouvirmos nos corredores das escolas relatos de consumo de
bebidas em festas familiares e de colegas. Consumo autorizado pela família ou às
escondidas.
Alguns
jovens adolescentes encontram no “recurso” da bebida desculpas para enfrentar a
timidez ou degrau para acessar alguma “panelinha” de colegas. Inicialmente a
bebida gera mesmo uma desinibição e euforia até porque é uma ousadia que traz
adrenalina. Com essa “desculpa” do álcool sentem-se desinibidos e desculpados
por mostrarem um lado que, “sóbrios”, não arriscariam: chegar a uma
pretendente; falar bobagens (indecentes); zoar com os amigos; arriscar-se nas
aventuras.
E o que
acaba ajudando para que isso ocorra (idade prematura das crianças ao consumo do
álcool)? O fato de sermos muito tolerantes com o consumo de álcool em nossos
lares, incluindo os menores da família. Chegamos a assistir a cenas de pais
oferecendo a bebida para as crianças experimentarem. Outros que ainda dizem: “Vai
aprender comigo e beber comigo! ” Só que o aprendizado não se resumirá “às
asas” dos pais. A partir desta anuência familiar, o jovem sente-se autorizado a
consumir em qualquer lugar: “Meu pai sabe! ”
A partir
do experimentar, que já gera um prazer enorme de pertencimento ao outro ciclo,
“o do adulto”, em seguida, vem outro grande prazer entre eles, que são as
narrativas de suas experiências reais e fantasiosas com o uso da bebida: ”Cara,
dei PT (perda total dos sentidos)”!; “Peguei a fulana!”; “Mó doideira no
condomínio!”; “O rolé mais louco no carro do pai do fulano!”. Tudo isso são
exibições comuns para mostrar poder e diferencial, consequentemente,
popularidade.
Popularidade
negativa aos nossos olhos de adultos e popularidade sonhada aos desavisados
jovens que não percebem as consequências disso. E os pais? Pais, vocês podem
sim proibir o acesso dessas crianças, que se acham grandes, ao consumo de
bebida alcoólica. Não temam colocar um freio. Freiem agora! Não só pela lei que
é clara, mas pelo que a bebida pode gerar na vida de seu filho e na sua vida,
afinal, o que acontece com um afeta todos os membros familiares.
Uma boa
conversa com seu filho mostrando as regras familiares, demarcando a idade em que
ele poderá ter acesso à bebida e mostrando consequências do uso prematuro em
seu corpo, que está em formação, e no meio social, trará bons resultados. Uma
conversa recheada de escuta para que você possa compreender porque o acesso ao
“mundo da bebida” tem chamado a atenção de seu filho. Aproveite para
conhecê-lo.
Hoje,
meninas e meninos estão cada vez mais consumindo álcool precocemente. Chegam a levar bebidas alcoólicas escondido a
festinhas dentro de casa ou da casa de familiares de colegas. Os shoppings têm
enfrentado problemas com essas crianças, que estão se achando grandes e levando
bebidas, ou tentando comprá-las na praça de alimentação. Já ouvi relato de
consumo até em sessão de cinema. Tudo pela ousadia de se mostrarem “grandes”,
populares e donos de si, mas não passam de crianças influenciadas por um
consumo excessivo transferido para essa droga autorizada por nossa sociedade.
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