Minha
filha não se parece comigo II
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
Eu estava ansiosa para ver a Maria.
Queria saber como foi a semana após o nosso último encontro. Será que utilizou
as ferramentas? Refletiu sobre o que conversamos. O que será que aconteceu com
a aflita Maria?
Maria chega pontualmente. Estende a sua
mão e me olha com um olhar curioso. Parecia estar com raiva de mim. Fui gentil
e sorridente. A pedi para que se assentasse. Resolvi ficar em silêncio. Não
iniciar o diálogo como da outra vez.
Maria parece que fez a mesma opção.
Aquele silêncio já me incomodava. Até que ela o quebrou. “Sabe, Fabíola,
preciso confessar que senti raiva de você. ” Eu sorri e enviei ondas de amor
com meu olhar. Queria que ela entendesse que eu compreendia o seu sentimento.
“Continue, Maria” eu disse a ela.
Maria disparou a falar. Repetiu sobre seus
sonhos e suas expectativas com o nascimento da Laura. Falou da vontade de vê-la
vestida com o que escolhe. Que a tratava sim como uma boneca. Porém, relatou
que a conversa ficava como um eco em sua cabeça. Percebeu que estava errando
muito plantando expectativas e, consequentemente, colhendo frustrações.
Perguntei se o que me dizia era algo
que vinha de dentro para fora (elaborado/ amadurecido) ou ela estava só
racionalizando. Maria respirou e disse que era amadurecido sim. Que pensou
muito e percebeu que o que estava fazendo com a filha, ela também fazia com outras
pessoas.
Pedi para me contar mais sobre essa
“sacada”. Maria foi trazendo exemplos de ações que ela tinha com a mãe, o
esposo e com os colegas de trabalho. A medida que falava, ela se percebia e
juntas refletíamos sobre a importância dessa percepção e como poderíamos
trabalhar para que sentisse melhor e tivesse mais qualidade nas relações.
“Fabíola, perdi algumas pessoas
importantes por esse meu jeito. Por favor, ajude-me”. Maria chorou. Vi que
estava sendo difícil para ela deparar com esse lado que foi escancarado. Sentei
mais próximo, coloquei a mão em seu joelho e disse> “Maria, todos nós temos
situações que nos incomodam ou atrapalham as relações. O melhor você já fez.
Você percebeu e reconheceu. A tomada de consciência, embora dolorida, é o
primeiro passo para a mudança. Eu estou aqui para ajudá-la nesse processo.
Estamos juntas! ”
Para quebra o clima, pedi para que me
contasse as últimas da Laura. Maria abriu um largo sorriso e me contou enumeras
tiradas da filha. Ao contar percebia uma Maria mais leve, menos sofrida com as
diferenças. Maria já conseguia achar graça. O sorriso dava lugar a cara fechada
e raivosa de antes. Laura deixou de ser “a rebelde” para ser a divertida menina
de personalidade, como referiu a mãe.
Maria tinha que ir. E eu estava feliz
pelo avanço. Feliz pela Maria que sofria e agora encarava uma nova oportunidade
de se relacionar, porém muito mais feliz pela Laura que poderá construir com a
mãe uma relação muito mais respeitosa e harmoniosa.
Muitas vezes uma situação que nos
parece difícil e conflituosa pode revelar um lado nosso que não conseguimos
encarar. Temos a tendência de culpabilizar o outro. Se pararmos para nos olhar
diante da cena, teremos muito mais chances de evoluir e ter mais momentos
felizes. Vale tentar. Topa?
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