terça-feira, 4 de junho de 2019

Minha filha não se parece comigo II






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Minha filha não se parece comigo II
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação

         Eu estava ansiosa para ver a Maria. Queria saber como foi a semana após o nosso último encontro. Será que utilizou as ferramentas? Refletiu sobre o que conversamos. O que será que aconteceu com a aflita Maria?
         Maria chega pontualmente. Estende a sua mão e me olha com um olhar curioso. Parecia estar com raiva de mim. Fui gentil e sorridente. A pedi para que se assentasse. Resolvi ficar em silêncio. Não iniciar o diálogo como da outra vez.
         Maria parece que fez a mesma opção. Aquele silêncio já me incomodava. Até que ela o quebrou. “Sabe, Fabíola, preciso confessar que senti raiva de você. ” Eu sorri e enviei ondas de amor com meu olhar. Queria que ela entendesse que eu compreendia o seu sentimento. “Continue, Maria” eu disse a ela.
         Maria disparou a falar. Repetiu sobre seus sonhos e suas expectativas com o nascimento da Laura. Falou da vontade de vê-la vestida com o que escolhe. Que a tratava sim como uma boneca. Porém, relatou que a conversa ficava como um eco em sua cabeça. Percebeu que estava errando muito plantando expectativas e, consequentemente, colhendo frustrações.
         Perguntei se o que me dizia era algo que vinha de dentro para fora (elaborado/ amadurecido) ou ela estava só racionalizando. Maria respirou e disse que era amadurecido sim. Que pensou muito e percebeu que o que estava fazendo com a filha, ela também fazia com outras pessoas.
         Pedi para me contar mais sobre essa “sacada”. Maria foi trazendo exemplos de ações que ela tinha com a mãe, o esposo e com os colegas de trabalho. A medida que falava, ela se percebia e juntas refletíamos sobre a importância dessa percepção e como poderíamos trabalhar para que sentisse melhor e tivesse mais qualidade nas relações.
         “Fabíola, perdi algumas pessoas importantes por esse meu jeito. Por favor, ajude-me”. Maria chorou. Vi que estava sendo difícil para ela deparar com esse lado que foi escancarado. Sentei mais próximo, coloquei a mão em seu joelho e disse> “Maria, todos nós temos situações que nos incomodam ou atrapalham as relações. O melhor você já fez. Você percebeu e reconheceu. A tomada de consciência, embora dolorida, é o primeiro passo para a mudança. Eu estou aqui para ajudá-la nesse processo. Estamos juntas! ”
         Para quebra o clima, pedi para que me contasse as últimas da Laura. Maria abriu um largo sorriso e me contou enumeras tiradas da filha. Ao contar percebia uma Maria mais leve, menos sofrida com as diferenças. Maria já conseguia achar graça. O sorriso dava lugar a cara fechada e raivosa de antes. Laura deixou de ser “a rebelde” para ser a divertida menina de personalidade, como referiu a mãe.
         Maria tinha que ir. E eu estava feliz pelo avanço. Feliz pela Maria que sofria e agora encarava uma nova oportunidade de se relacionar, porém muito mais feliz pela Laura que poderá construir com a mãe uma relação muito mais respeitosa e harmoniosa.
         Muitas vezes uma situação que nos parece difícil e conflituosa pode revelar um lado nosso que não conseguimos encarar. Temos a tendência de culpabilizar o outro. Se pararmos para nos olhar diante da cena, teremos muito mais chances de evoluir e ter mais momentos felizes. Vale tentar. Topa?


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