O que é
felicidade?
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
“Estão dizendo que eu tenho que ser feliz, mas eu não sei o
que é felicidade! ” Imagina começar o dia com essa abordagem. Parei por uns
minutinhos para tentar entender o que ela havia me dito. Depois de uma longa
respiração, perguntei a ela quem anda dizendo para ela ser feliz e, em seguida,
o que ela entende por felicidade. Acreditei que assim eu entenderia o contexto.
Nicole (nome fictício) me olhou com uma fome de compreensão
que até me sensibilizou. Não demorou para ela começar a falar. “Sabe, tia
Fabíola, eu acho que existem poucas pessoas felizes. Esse povo está é perdido e
não sabe ser feliz!” Nicole falou com
tanta convicção isso que até me aproximei. A fome de compreensão passou a ser
minha. Pedi que ela continuasse a falar.
Nicole se ajeitou na poltrona confortável e disparou. “
Acontece que, lá em casa, só se fala que temos que ser felizes e escuto que,
quando formos à praia...quando trocar de carro...quando meu irmão terminar o
curso de Medicina... Tia, não dá para ser feliz hoje? “.
Nesse momento, entendi a incompreensão da linda Nicole.
Ficou nítida a sua inquietação. Comecei a conversar com ela a partir dela.
Perguntei-lhe o que a deixava com sorriso no rosto, com vontade de fazer de
novo ou com o coração em festa. Nicole começou a contar se que sentia bem
quando a mãe a acordava para levantar porque sempre usava uma frase que pertencia
às duas. Disse, com olhos brilhantes, que fica com o coração alegre quando o
pai a chama para ir a algum lugar com ele, só os dois. Destacou que fica com
sorriso no rosto quando o irmão, muito estudiosos, brinca com ela deixando os
livros um pouquinho de lado. Sorrindo, me disse que adora quando vai à casa da
avó e ela faz um bolinho crocante e quentinho para lanchar.
Nicole deu tantos exemplos de felicidade que ficou muito
fácil construir o conceito com ela. Aproveitei todos exemplos e mostrei a ela
que eram situações que geravam a tão famosa FELICIDADE. Que ela acabava de me
mostrar que felicidade é composta do conviver, sentir, retribuir, acalentar,
amar e não no ter ( ter a viagem; ter o carro, quando o irmão for aprovado).
Conversamos que isso tem que fazer parte das alegrias, mas não a condição.
Nicole prestava atenção em cada palavra. De repente: “Tia,
minha amiga disse que é infeliz porque o pai não deu um cachorro de estimação
para ela”. Imediatamente eu perguntei: “Nicole, você acha que a sua amiga tem
motivos para ser infeliz? ”. Nicole, então, disse que, se quisesse um cachorro
e não ganhasse, ia ficar muito triste mesmo. Na oportunidade, eu mostrei a
Nicole que muitas vezes temos motivos para ficar tristes, frustrados, com raiva
ou decepcionados, porém isso não pode gerar um título de infelicidade. Teremos na vida muitas razões para sorrir e
para chorar. Faz parte do dia a dia e da nossa evolução (expliquei o que é
evoluir/crescer). Falei que ser infeliz
não está ligado a uma ou outra coisa, porém há um conjunto de situações.
Conversamos sobre como podemos lidar com cada situação para que não se gere uma
sensação de infelicidade.
“Tia, por que as pessoas ficam falando só no futuro?” Ali
achei outra brecha. Realmente as pessoas estão tão focadas no amanhã que estão
deixando de viver o hoje. Por isso, tantas pessoas estão ansiosas. Desejam
tanto um carro novo que não usufruem do que o carro atual oferece. Desejam
tanto uma viagem que não sabem aproveitar um passeio gostoso com a família em
um parque local. A conversa rendeu. Nicole olhava tão profundamente em meus
olhos que íamos conversando sem ver o tempo passar.
Mostrei a ela que o senso de humor, a
atitude afetiva, o ato de amor próprio, a empatia, a resiliência, a harmonia e
a gratidão são componentes essenciais para nos sentirmos felizes. Contei que
temos uma caixinha em nossa cabecinha que guarda memórias afetivas positivas.
Que devemos cuidar desse “compartimento”. Focar a condição de ser feliz a
acontecimentos marcantes ou supervalorizados pode gerar uma sensação de
infelicidade.
Conversamos sobre o exercício diário de se alegrar com o que
ocorre e tratar o que desagrada como aprendizado, não permitindo que tire a
alegria e a beleza do que se faz dia a dia. O ato diário de evolução do ser tem
que se sobrepor ao do ter. E geramos exemplos concretos sobre isso. Adiantará
fazer uma viagem a um lugar lindo se, dentro de mim, estou incomodada ou
triste?
Concluímos, juntas, que a felicidade ou a ausência dela não
está no material ou na conquista de algo, e sim no que construímos nas
relações.
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