
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de
Família e Casais
Sentada em uma área de alimentação, um rapaz se aproxima de mim e logo se identifica como um pai interessado na criação dos filhos e, por isso, buscava leituras constantes e, entre elas, meus artigos. Agradeci e me coloquei pronta a ouvi-lo. Percebi que precisava falar.
Entre tantas partilhas feitas, via uma ansiedade
por ter um parecer sobre a sua postura paterna. Ele se preocupava em me contar
detalhes de como se dedicava aos filhos e, como parte da sua dedicação, abria
mão de um período do trabalho só para acompanhá-los nas aulas extracurriculares.
Ouvia atentamente cada palavra, lia cada expressão e me surpreendia com a
análise de sua leitura corporal: ele queria muito ouvir ou receber uma
aprovação.
Durante a exposição longa, fui refletindo
sobre tudo o que me falava e tudo os que estava por trás de cada palavra. Ali,
eu me vi diante de um pai que, por trás de uma aparente dedicação, tinha uma
vontade enorme de satisfação pessoal.
Talvez ele ainda não tivesse se dado conta de
que se realizava com este papel. Havia muito mais desejo pessoal. Ele estava
sendo um pai dedicado, com certeza, mas, ao deixar um período, acompanhar os
filhos em tudo, não tinha se dado conta que isso não era uma necessidade dos
filhos e, sim, dele.
Os filhos precisam de espaço para crescerem.
Estou certa de que ser presente não significa estar PRESENTE em tudo. Vejo
muitos casos de pais que “abrem” mão de suas profissões e depois cobram muito
caro dos filhos. E o desejo inicial de ser aquele super-pai vai embora quando
os filhos começam a crescer e buscar seu próprio espaço. Neste momento, poderão
surgir as cobranças, que soarão como um preço aos filhos. Uma conta apresentada
sem que o filho tenha “feito a encomenda”.
A frustração com que o pai fica soa, para
ele, como ingratidão da cria. E isso é muito ruim para a relação. Os pais
precisam ter maturidade quando fazem a escolha de abrir mão de algo pelos
filhos e, da mesma forma, quando os filhos escolhem ter mais espaço.
Percebo pais que acabam por extrapolar o seu
papel e até impedem os filhos de crescerem. Acredito na autonomia vigiada e não
“realizada” por eles. Ter compromissos
paternos não impede de os filhos terem seus compromissos escolares e esportivos
paralelos. Ter horários de trabalho não impede de os filhos terem seus horários
de estudo. Os pais podem monitorar à distância e se fazerem presentes em
reuniões, apresentações, campeonatos, etc.
Outro alerta importante é estarmos atentos
se, como pais, não estamos nos realizando naquilo em que matriculamos nossos
filhos. Muitas vezes, vamos conduzindo as crianças para atividades que sempre
desejamos realizar e não tivemos oportunidade ou capacidade. Vejo crianças
cansadas de certas atividades extras, mas que não ousam pedir para parar, para
não decepcionarem os pais, porém estão sofridas e desgastadas por isso.
Novamente o desejo pessoal sobrepondo-se à
necessidade ou vontade da cria. Estar atentos à leitura de nossas ações é muito
importante. O que estou fazendo, de verdade, é por acreditar que é necessário
ou para realizar um sonho interno? O que é ser pai presente? As minhas ações
são por amor ou terão um preço? Se há um preço, eu, como pai, sinto essa conta
pesada ou passarei o “boleto” para o meu filho pagar (mesmo que ele não tenha
feito o pedido)?
Como pais, precisamos pensar sobre as nossas
concessões. Até que ponto não faço algo muito mais pelo título de bom pai,
receoso do fracasso, ou pelo desenvolvimento dos filhos? Os filhos realmente precisam da nossa
presença 24h ou necessitam de espaço para se relacionar e conviver? Consigo
conhecer meu filho pela leitura dos profissionais que convivem com ele ou tenho
que ter meu olhar projetado o tempo todo e só o meu parecer revela quem ele é?
Acredito que o mundo tem gerado constantes
exemplos de como devemos ser hábeis na criação de nossos filhos, mas o maior
exemplo ainda é o que ocorre dentro de nosso lar: respeito, afeto, valores e
princípios exercidos no seio familiar.
Não é evitando contato sem vigilância que fará seu filho se desprender
dos ensinamentos, pelo contrário, é dando oportunidade de ele estar em variados
locais que ele exercerá o que aprende com os pais.
Pais produtivos promovem exemplo para os
filhos. Pais produtivos gerarão filhos produtivos também. Pais cuidadosos
gerarão filhos cuidadosos. Pais presentes permitirão que seus filhos desejem a
presença nos momentos importantes. Esteja presente fisicamente nos momentos
importantes. Essa presença é suficiente. Nos demais momentos permita que a sua
presença esteja internalizada pelos ensinamentos em seu filho.
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