segunda-feira, 3 de junho de 2019

Crianças desanimadas. Por quê?




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Crianças desanimadas. Por quê?

Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

         O dia a dia ao lado de tantas crianças me revigora e me preocupa.  Revigora porque a pureza e a energia delas me contaminam e me fazem sentir mais jovem também.  Fico sedenta por não perder a magia da minha criança interior. Mas a preocupação com o desânimo que emanam tem me consumido. Por que se sentem desmotivadas? O que as faz ter aspecto cansativo e triste?
         Em constante bate-papo, foi fácil detectar o aparente: rotina escolar; agenda pós escola; pressão social e familiar. Ok! Mas isso é o propósito da vida moderna. Precisei aprofundar-me. O que desta rotina conhecida tem desencadeado a tristeza e a falta de ânimo de tantos jovens?
         Infelizmente detectei a imaturidade dos adultos em seus diálogos com os filhos. Adultos que só fazem cobrança e falam de futuro. Uma fala decorada e abusiva até. Falam tanto no futuro que não permitem que a criança tenha presente.
         Um dos grandes pesos que percebi nas crianças com as quais conversei é a pergunta sobre a escolha da profissão tão precocemente. Por que pressionamos os nossos filhos sobre o que serão, aos 10 anos? Por que temos tanta ansiedade projetada neles? Por que não permitimos que sejam apenas crianças e alunos correspondentes à série em que estão?
         Ouvindo uma criança de 5º ano, ela me disse: “Tia Fabíola, quando eu estava no 4º ano, a minha família e a escola não me tratavam como aluno de 4º ano. Ficavam falando que eu tinha que estudar porque o 5º ano era mais difícil. Hoje estou no 5º ano e fazem a mesma coisa, falando do 6º ano. Eu nunca posso viver a série em  que estou. Eles sempre ficam falando, falando que tenho que dar conta por causa do futuro. E eu tenho medo do futuro. Não sei se vou dar conta. Está tudo muito rápido.”
         Meu coração doeu. “Está tudo muito rápido”. Voltei a minha infância e lembrei que tudo parecia longo. Muito diferente do que a sente. Senti uma enorme parcela de contribuição para este sentimento dela. Será que não estamos deixando as nossas crianças terem infância? Com certeza, em muitos casos, as famílias estão encurtando as fases.
         Outro aspecto que percebi nas entrevistas foram as reproduções das conversas das famílias. Famílias que trazem tanto conteúdo adulto que as crianças já estão sofrendo com a possibilidade de se tornarem parte deste mundo “cruel”. São tantos discursos, tanto sermão, tanta realidade que não estão se sentindo motivadas a crescerem. Só que ser crianças também não estão permitindo. E aí? O que resta a elas?
         Bom, quando se sentem acuadas, desanimadas e assustadas com o mundo apresentado, elas estão buscando válvulas de escape. E muitas vezes esta válvula tem trazido riscos: aventuras, redes sociais, jogos, apoio em alguém desconhecido, afastamento familiar e aproximação ao que parece acolhedor ou menos chato.
         E qual a medida entre permitir que sejam crianças e apresentar o mundo real? A medida é respeitar a idade delas. E entender que devemos dar um passo de cada vez. Que posso inserir tarefas e reflexões de acordo com a maturidade delas e não de acordo com o meu desejo de adulto.
         Outro ponto essencial é falar menos e escutar mais. Crianças e adolescentes precisam de escuta. Conhecê-los fará muito bem à família porque proporcionará a medida da inserção a cada fase.
         Precisamos entender o motivo de crianças e adolescentes se sentirem tão entristecidos e sozinhos. Conversando com eles, a sensação de não serem compreendidos é tão presente e tão dolorosa que chega a me assustar. E qualquer pessoa com esta sensação fica impossibilitada de enxergar prazer e motivação.
         É preciso esvaziar estas dores e insatisfações das crianças e preencher com amor e esperança. Coloque-se no lugar delas. Experimente ser o ouvinte dos seus intermináveis discursos, do seu queixume sobre a rotina do trabalho, da sua preocupação econômica, das suas observações sobre a política brasileira. Diante disso, se você fosse criança, estaria motivado a crescer? Conseguiria projetar, aos 10 anos, a profissão desejada?
         Um aspecto cruel que estamos fazendo com os nossos jovens é levá-los a se preocupar com as provas que enfrentarão no vestibular e ENEM. Não mostramos sentido na aprendizagem. Não permitimos que sintam prazer na aquisição do conhecimento. Mandamos uma mensagem que estão na escola APENAS para o acesso à universidade, ao curso que os fará profissional e que trará renda para se sustentarem e enfrentarem este “mundão”. Não apresentamos a escola como um local que permitirá aprender e relacionar-se. Um local onde poderão se desenvolver e amadurecer naturalmente.
         Diante deste quadro, é motivador crescer? Está na hora de pararmos de nos assombrar com as tragédias oriundas do mundo do adolescente e pensar no que os ADULTOS estão deixando de cuidar para que isso aconteça. Somos responsáveis por tudo o que tem ocorrido com as nossas crianças e adolescentes. Quando acordaremos?

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