“Mamãe, eu
estou com medo...”
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Esta foi a frase que ouviu de uma linda menina de 11 anos,
cursando o 6º ano do Ensino Fundamental II. Ela estava se mostrando muito
frágil diante do desafio desta nova etapa. Estava com medo do novo, dos
desafios. Sentia-se completamente incapaz de vencer. E isso promovia uma
sensação de que seu mundo desmoronasse às 7h30 da manhã.
E como agir com nossos filhos diante do medo e da insegurança
de uma vida que se apresenta em vários ciclos? E lembrando que estes vários
ciclos não trarão certeza de sucesso, mesmo dedicando-se com muito esforço? A
criança apresentou uma crise e a família entrou em crise. “O que faço? ”, dizia
a mãe, com um olhar arregalado, como se me pedisse socorro.
E o que estava acontecendo? Sofia (nome fictício) estava entrando em uma
nova etapa acadêmica, conhecendo a nova fase de sua vida com a puberdade,
precisando aprender a lidar com as mudanças corporais e ainda tendo que lidar
com o luto da perda da infância. Muita coisa para uma criança de 11 anos, não
acha? Muitas vezes nos esquecemos do conjunto de situações e focamos apenas na
questão escolar. A situação escolar é consequência e não a causa.
Se pararmos para refletir, perceberemos que estamos tendo
ações protecionistas diante de nossas crianças. Nós as protegemos tanto que
esquecemos de lhes ensinar que nem tudo é previsível ou atingível como
desejamos. Deixamos as nossas crianças muito vulneráveis diante daquilo que sai
de sua “rotina de sucesso”.
Quando nossas crianças nascem, já vamos traçando o seu
caminhar cheio de desejo e orgulho da cria. Elas vão percebendo isso e tentam corresponder.
Nunca vi tanto adolescente extremista: perfeccionista ou totalmente relaxado. Reações claras diante da assumência dos
projetos familiares ou desistência da correspondência a estes projetos traçados
pelos pais. E, dependendo do caminho escolhido, as reações tendem a aparecer
mesmo.
Outro contraste é a oscilação de valores entre as gerações.
Nossas crianças muitas vezes se perdem, até porque muitos adultos se mostram
pedidos. A insegurança ou oscilação de atitudes dos adultos gera instabilidade
emocional nos pequenos. “Qual o caminho seguro? ” ou “Meu porto seguro é
inseguro... Como assim? ”.
Os pais precisam aprender a lidar com as situações cotidianas
com mais compreensão, para que possam assegurar a caminhada de seus filhos. A
vivência de cada família é que determina a clareza da realidade de mundo; a
leitura dos pais interferirá na leitura de mundo dos filhos. Diante desta
leitura do entorno é que os filhos se apresentarão prontos ou não para as
adversidades, medos e fracassos.
Se nos remetermos à fase das descobertas iniciais (mamar,
engatinhar, falar), neste período, nos enchemos de recursos para incentivá-los
a conquistar e persistirem. Por que nos amedrontamos tanto diante das demais
fases? Por que não agimos da mesma forma quando estão descobrindo novas
experiências? Quando bebês também estavam descobrindo e crescendo. O medo de
andar diante do desiquilíbrio corporal não é muito diferente do medo dos 14
professores da nova fase acadêmica que, de um ano para o outro, ela precisará
vencer. E por que neste momento nos assustamos tanto? Por que não sabemos como
agir?
Devemos agir da mesma maneira: incentivando e provando que é
capaz. Mostrando que este desafio está aí para ser vencido. Comemorando cada
etapa vencida com as mesmas palmas que foram batidas a cada passo de quando era
bebê. E o principal, oferecendo ainda mais motivação para ir cada vez mais
longe. Assim como quando começa a andar e você se afasta para que o bebê vá
mais longe, até você... E você se posiciona como um porto seguro lá, esperando,
e não fazendo o trajeto por ele. Captou?
Para “Mamãe, eu estou com medo...”, a resposta “Filha, eu
também estou com medo” não pode aparecer. Para “Mamãe, eu estou com medo...”, a
resposta “Filha, estou ao seu lado para
apoiar você neste enfrentamento”, com certeza, mostrará que ela não está
sozinha, porque tem você, mas ao mesmo tempo, deixa claro que você não fará por
ela. Ela enfrentará e vencerá este desafio com altivez e sairá ainda mais preparada
para as próximas etapas.
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