quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Como não transformar a minha criança em vítima de si mesma.

Como não transformar a minha criança em vítima de si mesma.






Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

     A cada dia nos deparamos com adultos que se vitimizam o tempo todo. E como Terapeuta Familiar, sempre busco a origem dessa vitimização. Percebo que esse é um papel apreendido, seja com o adulto que está próximo ou por algum momento que, ao se vitimizar, obteve ganhos.

    E como trabalhar essa questão com os nossos pequenos? Primeiro, analise a ação dos adultos que convivem na rotina da criança. Caso encontre alguém que promova esse exemplo, trabalhe paralelamente esse adulto. A ação precisa ser conjunta.
Adultos queixosos ou cheios de justificativas para suas ações acabam por promover nas crianças o mesmo comportamento. Exemplo: “Não consigo fazer isso porque eu nunca tive quem me ensinasse”; “Sou antissocial porque meus pais nunca permitiram que eu me aproximasse das visitas”; “Não sei abraçar porque não tive colo”. Essas falas remetem ao receptor um sentimento de compaixão, e externar esse sentimento, seja de forma verbal ou corporal, enviará a mensagem ao emissor, de reforço negativo. Esse reforço produzirá um aprendizado que ter sofrido gerou uma empatia e a empatia gerou algum ganho. Compreende? Um verdadeiro círculo que produz uma postura de acomodação e que acabará por gerar uma autoestima baixa.

     Percebendo que a sua criança está com uma tendência a ser “reclamona”, o primeiro passo é conversar sobre a queixa e promover uma reflexão de compreensão da situação. Exemplo: “Você nunca deixa eu dormir na minha amiga, mamãe”, “Eu nunca posso nada!”. Diante dessa queixa, a criança traz sentimento de injustiça, incompreensão da regra familiar, tristeza por não ser atendida, sensação de ter uma mãe má. Detectado o sentimento, o próximo passo é verificar se as regras familiares estão claras e empregadas por todos os responsáveis. Afinar o discurso entre o casal ou responsáveis é de suma importância para a saúde da criação. Percebendo divergências, a criança começa a articular esse movimento em prol do atendimento das suas vontades.

     A partir dessa análise, a mudança da ação precisa ser diária e consistente: adultos e criança. Somente dessa forma será possível gerar mudança. Para entender o caminho proposto aqui, basta observarmos que tipo de expectativa entre o senso do que é justo e saudável estabelecemos ao longo de nossa existência baseada em nossas vivências infantis. É bem interessante quando nos percebemos com dó de nós mesmos. Quantas oportunidades perdemos por nos acharmos incapazes ou infelizes o suficiente para usufruirmos de algum tempo livre, nos candidatarmos a algum emprego, sermos cortejados por algum pretendente de quem não nos achamos à altura, receio de inscrevermos em algum curso, entre outras tantas ações, atitudes estas oriundas do exercício de vitimização na infância. Não queremos isso para os nossos filhos, não é mesmo? Então, mão na massa!

 Nada de cair nas chantagens deste pequeno ser que experimentou essa estratégia e que percebeu que, de repente, ela deu certo!



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Imaginário Infantil

Imaginário Infantil: o que temos feito com ele?



Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

Tenho me preocupado com as nossas atitudes em relação ao imaginário infantil. Será que a realidade atual está permitindo com que as nossas crianças possam utilizar a riqueza desta ferramenta?
Vivemos uma situação atual de muita incompreensão diante de uma criança criativa e imaginativa. Agimos como se fôssemos responsáveis em puxá-las para realidade adulta. Vamos pensar um pouco: criança tem que ser criança, certo? Precisa criar, dramatizar, cantarolar e aos poucos ir transitando entre a emoção e a razão. A construção do pensamento racional será feita à medida que ela for crescendo. Isso significa que permitir à criança criar, ler histórias infantis e eleger heróis não a fará infantilizada posteriormente. Ela apenas consegue sonhar acordada e ainda partilhar com os amiguinhos reais e imaginários, mas depois entenderá quem são os verdadeiros heróis.
Esse movimento infantil permite a ampliação do vocabulário, aguça a curiosidade infantil e ainda proporciona repertório para que possa, futuramente, ser autora de suas próprias histórias. Esta riqueza tem sido confundida no ato de educar de muitos pais quando os mesmos acusam a criança de ser mentirosa ou dramática ao contar para família experiências recheadas de invenções. O medo familiar em não conseguir trabalhar valores está tão exacerbado e confuso que estamos perdendo a riqueza infantil. Frases como: Isso não é verdade! Você está mentindo! Pare de inventar! estão sempre prontas em nossa boca.
O equilíbrio está exatamente em olhar para esse ser com a idade que ele tem. Não é porque as nossas crianças estão espertas e além da nossa época que isso nos faz agir com elas como se fossem mais velhas. As crianças precisam ser tratadas e respeitadas conforme a fase em que se encontram.
A literatura infantil traz elementos em seus contos de fadas, por exemplo, que muito contribuirão no desenvolvimento das nossas crianças: dilemas existenciais descritos de forma simplificada e com leveza. Isso proporciona ao leitor aprender a lidar com situações que aparecerão em sua vida: medo, angústia, perdas, conflitos. O imaginário agirá no subconsciente dando recursos de sobrevivência às dores emocionais e a tomadas de decisões.
Antecipar as fases tem prejudicado muito o desenvolvimento das nossas crianças e precisamos acordar para isso. E voltando ao imaginário, estamos em plena época de Natal... O que você programou para aguçar o imaginário da sua criança envolvendo o Papai Noel? O que o Papai Noel representa para a sua família? Já pensou em transformar essa figura, muitas vezes trazendo só bens materiais (brinquedos, eletrônicos e hoje até dinheiro em envelopes), em uma figura que possa trazer mensagens de reflexão? Um Papai Noel que incentive os estudos e a participação da família para um mundo melhor? É, podemos apresentar um Papai Noel que aguce a vontade das nossas crianças para pensar em ações que permitam uma mudança social, sem perder a alegria do presente que receberá também. Afinal, a criança aguarda muito este momento.
Uma criança com riqueza no imaginário é uma criança mais feliz. Dar asas para sonhar, fazer e acontecer é colheita certa de uma mente mais resistente às castrações futuras. Segundo Fanny Abramovich, “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!”.
Terminarei esta reflexão com um convite! Que tal tirar uma horinha do seu dia para ler com a sua criança, diariamente? Permita-se dar asas ao seu imaginário também. Relembre as histórias que você ouvia e mergulhe nesta aventura. Desta forma, vocês irão construir um vínculo em um momento lúdico que facilitará futuramente quando precisarem conversar sobre as etapas racionais da vida.

Falando em imaginação e ludicidade... Você já escreveu a sua cartinha para o Papai Noel?


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015