terça-feira, 4 de junho de 2019

Não me sinto amado por um dos meus genitores.




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Não me sinto amado por um dos meus genitores.
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


        De repente entra um jovem bonito, com uma postura educada e respeitosa: “Como vai a senhora? Desculpe o atraso.” Uma atitude muito bonita para um rapaz de 14 anos que veio ao meu encontro.
        Perguntei se tinha noção do que faríamos na sessão. Ele disse que acreditava que eu poderia ajudá-lo a dominar a ansiedade e o estresse. Pensava em seus erros e atrapalho. Se culpava e culpava um dos seus genitores por ser reativo.
        A conversa fluía sem muitas dificuldades. Ele sentia vontade de falar. Parecia que era a chance de tirar tudo que apertava o peito e provocava nó na garganta.
        Com serenidade e muita lucidez ele traçou uma linha do tempo. A linha do tempo trouxe falas sofridas, doloridas e fortes que escutou ao longo dos anos. Sentia-se humilhado e desconfirmado pela família. O sentimento de injustiça e raiva o afastava de seus pais.
        Como já havia feito uma escuta anterior de um dos seus pais, vi ali um círculo vicioso. O filho reagia defensivamente aos que os pais propunham e os pais agiam severos e ríspido pela atitude do filho. Não conseguiam ver isso, apenas reagiam.
        A dor desse filho me tocou profundamente. Ele tinha fatos bem concretos em sua mente. Lembranças afetivas cheias de rancor e mágoa. Queria reverter a situação, porém não tinha ferramentas para isso.
        Do outro lado podia perceber pais aflitos e desejosos de uma relação melhor. Lutavam pela união com estratégias que só os afastavam. Percebia sofrimento dos dois lados. Percebia muito amor sem manifestação harmoniosa. Procurei traduzir isso a ele.
        Ele ouvia tudo atentamente. As lágrimas eram contidas como se não tivesse o direito de chorar. Era um garoto ferido e cheio de dúvidas do amor dos pais.
        Pensava na situação e percebia que tinha na minha frente um rapaz prestes a escorregar pelas mãos dos pais. Estava tão magoado que não sentia vontade de vê-los.
        A medida que conversávamos veia a fala mais surpreendente: “Fabíola, quero muito poder trabalhar com meus pais. Sinto que eles gastam muito comigo e preciso retribuir.”
        Neste momento ele encheu os olhos de lágrima. Percebi, claramente, que havia muito amor mal resolvido. A dor era exatamente pela contradição: rejeição X desejo de união; raiva X vontade de estar junto.
        Propus um encontro com os pais. Ofereci mediar essa conversa. Mostrei que eu conseguiria sensibilizar os três para reconstrução desta relação familiar. Ele se animou. Já queria marcar. O acalmei e expliquei que o próximo passo seria o meu encontro só com os pais e depois os três.
        Gabriel, sim esse é o nome do rapaz, Gabriel aceitou o movimento que propus. A sessão havia terminado e ele não consegui se levantar. Queria falar mais e mais. Eu permiti. Ele merecia essa oportunidade. Eu estava diante de um jovem diferente, mas que enfrentava as situações recorrentes da idade dele. Eram necessários pequenos ajustes para tudo ficar bem.
        Liguei para os pais. Expliquei que era necessário encontrarmos na próxima semana. Os pais ficaram muito curiosos. Percebi que também desejavam um novo ciclo nessa relação.
        Estou aguardando o agendamento. Meu coração está em festa. Afeiçoei pelo Gabriel. Ele me envolveu com seus encantos e dores. Quero poder fazer a diferença na vida dessa família. Estou ansiosa por este encontro.      

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