terça-feira, 11 de junho de 2019

Preconceito exercido em família se reflete na escola



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Preconceito exercido em família se reflete na escola

 Fabíola Sperandio Teixeira

Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação


Tudo que oferecemos ou deixamos de oferecer se refletirá em todos os ambientes em que nossos filhos vão caminhar. Isso é fato! Exemplo é tudo para os nossos pequenos. E que exemplo temos oferecido a eles?
Esta semana, a palavra “preconceito” apareceu fortemente como tema da redação do ENEM (preconceito religioso) e o exemplo que uma mãe nos deu de bom humor ao lidar com a dor que o filho sofreu. Estou me referindo à criança que possui pintas de nascença no rosto e a colega fez piadinhas de mal gosto e ainda teve o apoio de sua mãe, que postou comentários de risos. A mãe do garoto ofendido também desenhou pintas em seu rosto e postou fotos alegres e divertidas com seu filho em resposta à falta de amor e respeito da outra família envolvida.
Este é apenas um de muitos exemplos que poderia tecer aqui. Diariamente deparamos com situações de preconceito na família, na escola, na igreja que frequentamos, no bairro, no prédio, no clube, em todos os lugares. Mas como evitar que nossas crianças cresçam preconceituosas?
Indignar-se com os casos, comentá-los, mas continuar tendo atitudes diárias de preconceitos, com certeza, não será o caminho. Devemos rever os nossos conceitos, trabalhar cada um para conseguirmos oferecer algo mais respeitoso e valoroso aos nossos filhos. Trabalhar temas como cidadania, valores sociais, cooperação, coletividade, generosidade certamente darão suporte para formação de um cidadão de bem.
Outra situação muito relevante é a que temos oferecido aos nossos pequenos em nossa vida social. Hoje pouco se oferece de cultura. A vida deles tem se resumido a encontros com grupos de amigos dos pais em restaurantes, bares, recheados de conversas de adultos, nas quais é falado sem nenhum cuidado: transações comerciais, corrupção, conflitos conjugais, traições, “espertizes”, deboches sobre o físico de alguma pessoa presente, rejeição racial e preconceitos religiosos. É fato que tal aprendizado se refletirá nos ambientes os quais frequenta.
Atendi uma criança que um dia estava chorando porque amava um amiguinho, mas havia acabado de descobrir que este colega era “crente”. Perguntei a ele o que era ser “crente”. Ele, chorando, me contou que o pai dele disse que TODO crente é ex-alguma coisa do mal: ex-drogrado; ex-assaltante; ex-assassino; ex-do mal. E ele estava muito decepcionado por descobrir que o amigo querido “era do mal”. Este exemplo traz claramente o aprendizado de sua audição ao preconceito familiar. Chamei esta família, que relatou ter esta opinião sim. Que possuem uma empresa e todos “crentes” que exerceram alguma função em sua empresa deram problemas.  Percebem a situação? Esta criança participou de conversas de adultos e reproduz, porém, em sofrimento profundo, o fruto disso.
Outro caso muito assustador que atendi foi de uma criança que sentia nojo de um colega por seu físico. Ela dizia: “Mas tia, ele é gordo”. Ou seja, esta criança era só físico, não tinha mais nada. Não teve a menor chance de se mostrar como pessoa. E o que a criança “enojada” tinha de melhor que a outra criança?  Conversando com a mãe da criança preconceituosa pelo físico do colega, pude entender muita coisa. A mãe “fitness”, preocupada com o físico do filho, que se mostrava não adepto às atividades físicas e me contou que, para motivá-lo, dizia: “Filho, é melhor você escolher uma atividade física e se dedicar do que daqui a pouco você virar um gordo nojento, fedido e feio”.
Teria mais inúmeros exemplos, porém confesso que só de escrever estes, me senti mal. Precisamos ensinar as nossas crianças a reconhecerem os preconceitos e não se calarem diante deles. Combatê-los é a melhor forma de promover uma evolução social. Trabalhar as diferenças e conscientizá-las que as diferenças nos permitem crescer e ver as belezas da vida, é um caminho.
A solidariedade e a generosidade nos fazem melhor. Uma criança, quando percebe que teve um ato preconceituoso, se culpa e pode até adoecer. E adoece mais ainda quando toma conhecimento do ato e percebe que seus pais o comete sem nenhum pudor.
Conviver precisa ser com empatia, respeito e com oportunidades de mostrarmos as nossas virtudes. Relacionar ensina tolerância, paciência, aprendizado com a frustração, equilíbrio com as expectativas, receber e ceder, ser no lugar do ter.
Somos responsáveis pelo aprendizado dos nossos pequenos. O que temos ensinado? Quais as belezas e feiuras que tenho promovido na frente dos meus herdeiros? Que filhos tenho deixado para este mundo? Como me sinto diante da leitura deste texto: reflito ou desconsidero?
Que possamos ser mais sensíveis ao outro e usufruir da troca que a diferença nos oferece. Se o outro tem pintas de nascença, religião diferente, físico fora do que se impõe como padrão, dificuldade escolar, uma anomalia ou qualquer outra coisa que possa gerar preconceito, quero lembrá-los que este outro possui SENTIMENTOS e fica muito indignado com a insensibilidade e o desrespeito.
Se há algum culpado por este mundo ser assim, este culpado são as ações que permitimos acontecer. Calar não cessará. E aos que recebem o preconceito, eu digo NÃO permita que este ato traga uma baixa autoestima, mas que o faça sentir pena por aquele que ainda não entendeu que estamos neste mundo para trocar e crescer com respeito.

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