Imaginário Infantil: o que temos feito
com ele?
Fabíola
Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga-
Psicopedagoga
Terapeuta de
Família e Casais
Tenho me preocupado com as nossas
atitudes em relação ao imaginário infantil. Será que a realidade atual está permitindo
com que as nossas crianças possam utilizar a riqueza desta ferramenta?
Vivemos uma situação atual de muita
incompreensão diante de uma criança criativa e imaginativa. Agimos como se
fôssemos responsáveis em puxá-las para realidade adulta. Vamos pensar um pouco:
criança tem que ser criança, certo? Precisa criar, dramatizar, cantarolar e aos
poucos ir transitando entre a emoção e a razão. A construção do pensamento
racional será feita à medida que ela for crescendo. Isso significa que permitir
à criança criar, ler histórias infantis e eleger heróis não a fará
infantilizada posteriormente. Ela apenas consegue sonhar acordada e ainda
partilhar com os amiguinhos reais e imaginários, mas depois entenderá quem são
os verdadeiros heróis.
Esse movimento infantil permite a
ampliação do vocabulário, aguça a curiosidade infantil e ainda proporciona
repertório para que possa, futuramente, ser autora de suas próprias histórias.
Esta riqueza tem sido confundida no ato de educar de muitos pais quando os
mesmos acusam a criança de ser mentirosa ou dramática ao contar para família
experiências recheadas de invenções. O medo familiar em não conseguir trabalhar
valores está tão exacerbado e confuso que estamos perdendo a riqueza infantil.
Frases como: Isso não é verdade! Você está mentindo! Pare de inventar! estão
sempre prontas em nossa boca.
O equilíbrio está exatamente em olhar
para esse ser com a idade que ele tem. Não é porque as nossas crianças estão espertas
e além da nossa época que isso nos faz agir com elas como se fossem mais
velhas. As crianças precisam ser tratadas e respeitadas conforme a fase em que
se encontram.
A literatura infantil traz elementos
em seus contos de fadas, por exemplo, que muito contribuirão no desenvolvimento
das nossas crianças: dilemas existenciais descritos de forma simplificada e com
leveza. Isso proporciona ao leitor aprender a lidar com situações que
aparecerão em sua vida: medo, angústia, perdas, conflitos. O imaginário agirá
no subconsciente dando recursos de sobrevivência às dores emocionais e a
tomadas de decisões.
Antecipar as fases tem prejudicado
muito o desenvolvimento das nossas crianças e precisamos acordar para isso. E
voltando ao imaginário, estamos em plena época de Natal... O que você programou
para aguçar o imaginário da sua criança envolvendo o Papai Noel? O que o Papai
Noel representa para a sua família? Já pensou em transformar essa figura,
muitas vezes trazendo só bens materiais (brinquedos, eletrônicos e hoje até
dinheiro em envelopes), em uma figura que possa trazer mensagens de reflexão?
Um Papai Noel que incentive os estudos e a participação da família para um
mundo melhor? É, podemos apresentar um Papai Noel que aguce a vontade das
nossas crianças para pensar em ações que permitam uma mudança social, sem perder
a alegria do presente que receberá também. Afinal, a criança aguarda muito este
momento.
Uma criança com riqueza no imaginário
é uma criança mais feliz. Dar asas para sonhar, fazer e acontecer é colheita
certa de uma mente mais resistente às castrações futuras. Segundo Fanny
Abramovich, “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o
ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o
querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum
texto!”.
Terminarei esta reflexão com um
convite! Que tal tirar uma horinha do seu dia para ler com a sua criança,
diariamente? Permita-se dar asas ao seu imaginário também. Relembre as
histórias que você ouvia e mergulhe nesta aventura. Desta forma, vocês irão
construir um vínculo em um momento lúdico que facilitará futuramente quando
precisarem conversar sobre as etapas racionais da vida.
Falando em imaginação e ludicidade... Você
já escreveu a sua cartinha para o Papai Noel?
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