segunda-feira, 3 de junho de 2019

“Eu tenho um filho líder.” Será?






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“Eu tenho um filho líder.” Será?



Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

No momento que vivemos de estímulos exagerados, empurrando nossas crianças para a vida social, muitas vezes confundimos atitudes egoístas, birrentas, cheias de empáfia e exibicionismo com liderança.
Ao observar uma criança em um parque público, consegui ver, no semblante dos pais, a satisfação em ver seu filho “interagindo” com as outras crianças. Interagindo ou exigindo? Muitas vezes, exigindo obediências ao que ele propunha como brincadeira. Propunha ou mandava? Na verdade, os pais não percebiam que seu filho estava exercendo um autoritarismo desmedido e passava longe de ser um líder do grupo.
E por que os pais tentam ver em seus filhos uma liderança a qualquer custo? Porque estão contaminados por conceitos profissionais do mundo adulto e a pressa os faz querer que aquele ser tão pequeno já demonstre algo que soe como sucesso futuro. Mas só tem sucesso quem é líder? Por que as famílias atuais projetam nas crianças desejos de comando? Aí já geramos uma outra reflexão.  Incluindo o pensar sobre acreditar que liderança só pode ser nata e não desenvolvida.
Voltando ao exemplo da criança do parque, ela era tão incisiva em suas ações que repelia os outros amiguinhos. Percebendo o afastamento dos outros, ela se irritava e quase os obrigava a retornar. E os pais? Os pais, observando o movimento, continuavam orgulhosos, acreditando que o filho era uma forte liderança e com persistência em seus ideais. Mas ser líder não é exatamente o oposto do movimento da criança? Os pais não viam assim.
Acontece que as famílias, por estarem envolvidas emocionalmente com as suas crias, perdem a noção de que, para ser líder, é preciso ter carisma, empatia, sinergia, generosidade, ser ouvinte, comunicativo e gerar um sentimento de ajuda mútua. A criança em questão colocava o seu desejo em primeiro lugar, não era acolhedora e estava, autoritariamente, dando ordens. Afinal, estar à frente da brincadeira não significa liderança, e os pais não conseguiam, dentro do orgulho que sentiam, enxergar isso.
Na primeira negativa de uma das crianças do parque, diante do que o garotinho propunha, ele se desestabilizou. Mostrou claramente que não sabia lidar com conflito e que não estava preparado para ser contrariado, não conseguia ter “jogo de cintura” para remanejar a ideia ou conquistar adeptos pela argumentação. Ele não sabia ver o todo, ouvir as ideias das outras crianças e pensar no que era melhor para o grupo. Novamente imperava a sua vontade acima de tudo e todos, mas, como falava alto e a imagem corporal era de se debruçar na situação, os pais continuavam acreditando que tinham um pequeno líder em casa.
Uma criança líder consegue ter senso de justiça aguçado, escuta aprimorada, é curiosa por natureza, incentiva os coleguinhas a participarem, tem a simpatia de todos e comunica-se de forma atraente. Muito diferente do menino, que era impulsivo e mandão.
Outra característica da criança líder: é ela quem é solicitada pelo grupo. O grupo a elege e não precisa mostrar força de comando. Tudo ocorre naturalmente. Não precisa ser na força, no grito ou exibicionismo. A criança líder consegue reunir todos a sua volta não porque tem o melhor brinquedo, mas porque tem as melhores ideias e as sabe dividir com todos.
É fácil perceber a liderança de uma criança. Geralmente elas são proativas em casa: oferecem-se para ajudar nos afazeres, ajudam nas listas de compras, dão recados e sugestões, são gentis nos gestos e atenciosas com quem tem o que lhes ensinar.
Liderança é aprendida. Os exemplos são importantes. Crianças podem desenvolver-se a partir de aprendizados e estímulos. Ensinar nossas crianças a ouvir o outro, respeitar as diferenças, ter paciência para ensinar, saber a hora de se destacar e a hora de observar, mostrar que todos possuem habilidades e competências e devemos valorizá-las e aproveitá-las é um excelente caminho.
Dar oportunidade de a criança exercer em sociedade este papel com justiça e humildade para aprender com cada erro e acerto, é essencial para que ela cresça saudável em sociedade. Permitir ações autônomas e analisar junto com ela é outro caminho de motivação.
Uma criança com autoestima bem trabalhada tem muita facilidade para desenvolver a liderança. Estar bem consigo mesma é o primeiro passo. Como uma criança que não acredita em si irá acreditar que outros se apoiarão nela ou a seguirão?
Todo este processo precisa ser recheado de muito bom senso. Pais ansiosos em ter filhos líderes pressionam tanto que, no desejo de exercerem o papel complementar, acabam se tornando mandões e agressivos. Querem forçar a situação para não decepcionar a família. Desta forma, estas crianças tornam-se chatas, inapropriadas, solitárias e infelizes. Podem até, futuramente, exercer um cargo de chefia, mas nunca serão líderes.

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