segunda-feira, 3 de junho de 2019

Encarando a pedofilia. Como entender e prevenir?



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Encarando a pedofilia. Como entender e prevenir?
Fabiola Sperandio T. do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de família e Casais

Todo dia o assunto vem à tona. Parece que os casos aumentaram. Será? As notícias circulam mais e chegam os casos até os nossos ouvidos/lares. Acontece que cada vez mais nos assustamos com ocorrências graves de abuso sexual de crianças. Percebo pessoas confusas pela maneira como o assunto é tratado nos veículos de comunicação.
Muitos estudos já foram e têm sido feitos a respeito. O desejo de se compreender o fenômeno da pedofilia tanto do ponto de vista biológico quanto do social é intenso. Baseada em minha monografia do curso de Terapia de Família e Casais e nos atendimentos que tenho feito cujo tema foi esse, proponho um pensar sobre as consequências emocionais, sociais e físicas que milhares de crianças sofrem anos a fio.
         Começo por alertar que o abusador pode estar ao lado, mas que também nem todo abusador é um pedófilo, e nem todo pedófilo é um abusador. Confuso? Vamos lá!
         Pedófilo é um termo direcionado ao indivíduo que sente atração sexual por crianças. Acontece que nem todo indivíduo que tem o desejo pela criança realiza a vontade de si próprio. Ele sente o desejo, porém se contém em suas fantasias. É sabido que algumas pessoas chegam a buscar tratamento para inibir a libido por medo de chegar a cometer algum crime. E existem pessoas que abusam de crianças em uma situação eventual. Não são pessoas que fomentam a atração por crianças. Acontece o abuso. Esses não são pedófilos, são abusadores que não contiveram a atração sexual independentemente da idade do ser a sua frente. Até aqui compreensível?
         Outro mito é de que pedófilos são apenas do sexo masculino. Existem mulheres que cometem o crime da pedofilia. Em número menor, mas com muitos casos. Culturalmente desprezamos essa informação importante. Fica o alerta. Existem relatos de cuidadoras que manipulavam o pênis da criança e até faziam sexo oral.
         Os estudos a respeito têm avançado muito. E precisam avançar. Agressores e vítimas precisam de ajuda.  O distúrbio comportamental pode explicar a ausência de proteção que adultos costumam ter em relação aos pequenos. Vale a pena ler os resultados que foram publicados em 2008, na 3º edição do Periódico de Pesquisa Psiquiátrica, da Elsevier, na qual se fala sobre isso.
         Sabemos que o indivíduo não opta por ser pedófilo, por enfrentar tamanho sofrimento. Essa condição psicológica gera uma preferência sexual para a faixa etária que ainda não está preparada para o contato com conteúdo sexuais e muito menos experiências. O “doente” não consegue ter o mínimo de decência e ética. Não controla seus impulsos e vai em busca da satisfação a qualquer preço.
         Um aspecto muito importante para se observar é que geralmente os pedófilos possuem alguma dificuldade em se relacionar com adultos. Atenção especial a adultos que só querem ficar com crianças, sair com elas, acham formas de adquirir a confiança de outros adultos para terem mais tempo para agir. Já atendi pais que adoravam quando o tio se oferecia para ficar com as crianças para que pudessem ter saídas sociais. Não imaginavam que a boa vontade do tio tinha uma intenção bem diferente de colaborar. Não é uma regra, já que existem pedófilos altamente sociáveis, acima de qualquer suspeita. Pessoas que exercem cargos importantes, profissionais e sociais. Aqui fica claro que a atenção tem que ser constante nas ações dos adultos e no comportamento da criança.
         A criança que entra em contato com o pedófilo ou abusador, geralmente fica confusa de início sobre o que está acontecendo. Se a pessoa é do convívio, por ter confiança, ela demora a perceber que aquilo é uma invasão  de sua privacidade. Ao perceber, muitas vezes se paralisa por medo ou por receio de perder os ganhos que tem na convivência com o abusador. Por quê? Porque geralmente eles presenteiam, permitem fazer coisas que os pais não permitiriam, adoçam o paladar. No entanto, também há aqueles abusadores que desencorajam de qualquer busca de ajuda por ameaça, alegando que ninguém acreditará ou haverá consequências para a criança ou para quem ela ama se o entregar. Poderão ocorrer ameaças explícitas ou implícitas.
         Infelizmente enquanto chega às mídias um caso brutal de pedofilia, milhares de casos estão ocorrendo paralelamente sem nenhum registro. Vale lembrar que alguns abusos são “leves”, porém são abusos: exposição dos órgãos sexuais, masturbação na frente da criança, mãos passadas com “ar de sem querer” nas partes íntimas ou nas proximidades, observação por parte do adulto, com olhar malicioso para uma criança nua ou seminua.
         Você deve ter se assustado ao ler que a maioria dos casos ocorre com pessoas que convivem com a criança: pais, padrasto, madrasta, avós, tios, vizinhos, cuidadores (ambos os sexos, ok?), mas 90% dos casos têm registros de que foram pessoas do núcleo familiar que cometeram o abuso na criança.
         E como proteger a criança de abusadores?
1.     Ao dar banho em seu filho ou se ele já for grande, crie um momento de intimidade, converse com ele que, no corpo dele, só ele pode tocar. Que o papai e a mamãe podem ajudar a cuidar do corpinho, ensinando a lavar, passar remédio, mas nada além disso.
2.    Brinque com os “buraquinhos” do corpo. Comece falando dos cuidados para não se machucar. Mostre que não enfiamos objetos ou dedinho no ouvido, no nariz, na genitália. Tudo de uma forma leve. Sem exageros, porque, quando adulto, ele terá condições de escolher um(a) parceiro(a) e será autorizado(a) a tocá-lo.
3.    Se o abusador, na maioria dos casos, é do núcleo familiar, ensine-o a não temer contar tudo o que incomodar ou achar estranho aos pais quando ele estiver com outras pessoas. E escute a sua criança. Investigue qualquer sinal com muito cuidado e amor.
4.    Não force sua criança a se aproximar de alguém que ele rejeita. Atente-se para essa rejeição. Existe um motivo.
5.    Converse com a criança sobre os limites que precisam ser dados a estranhos. Mesmo que a maioria dos casos seja com pessoas conhecidas, não podemos desconsiderar a possibilidade de o abusador não fazer parte do convívio. Ele também existe.
6.    A Internet hoje é um facilitador da aproximação de abusadores. Ensine o seu filho a se comportar diante das redes sociais. Coloque limites e regras. Acompanhe o histórico e tenha a senha de tudo o que ele criar ou usar. Instale programas de filtro, monitoramento e segurança.
7.    Não exponha muitas fotos da sua criança. Sobretudo em trajes íntimos.
8.    Mudanças de comportamento precisam ser observadas. Sempre foi tranquilo, mas agora anda desconfiado, assustado, arredio, agressivo? Era falante e está isolado e calado? O sono mudou? Controle do esfíncter alterou? Quando brinca, imita atitudes de adultos de qual forma?
9.    Estabeleça vínculo e intimidade com o seu filho. Crie momentos de brincadeiras, histórias, etc. Aproximação gera conforto e segurança. Converse com a criança, mas, sobretudo, SAIBA ESCUTAR.

E por último, DENUNCIE. Pode ser quem for, denuncie. Ofereça a oportunidade deste abusador se tratar e não fazer novas vítimas, e da criança se sentir protegida. A denúncia poderá ser feita pelo Disque 100. Com certeza, não é fácil falar no assunto, principalmente admitir que ele acontece, porém a omissão é crime e facilita a vida do agressor, além de deixá-lo livre para cometer outros atos e para que eles continuem.

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