Atrativos e perigos: Jogos On-line
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais
Mestre em Educação
A geração anterior, para não
dizer mais antiga, teve o privilégio de participar de muitos jogos presenciais.
Reuniam os amigos ao redor de uma mesa, na rua de casa, no pátio do condomínio
e todos eram envolvidos em uma brincadeira que permitia a interação social. Era
uma incrível oportunidade de apender com o outro a respeitar as diferenças,
exercer liderança ou a ausência dela, experimentar comando e ser comandado,
concordar e discordar, exercitar a verdadeira aprendizagem social.
Com a chegada da tecnologia,
primeiramente experimentamos uma oportunidade de jogar a dois em um mesmo
ambiente, os famosos videogames. Eles já oportunizaram o respeito à sua vez, o
aprender com as estratégias do outro e a competição in loco.
Com um avanço ainda maior, chegou
a nossos lares os jogos [na rede] nos computadores. Uma interação que permitia
jogar com alguém à distância. Os amigos passaram a se isolar em casa e alguns
se encontravam “nas salas de jogos” ou simplesmente interagiam com novos amigos
desconhecidos. Chegou a era da conectividade.
De repente aquilo que era para
ser mais um objeto de distração e lazer, foi tomando espaço na vida das
crianças, adolescentes e adultos como um refúgio para aliviar a rotina, o
estresse e até mesma a fuga das relações sociais e familiares. A crescente
ascensão às etapas dos jogos acaba gerando impulsos e sentimentos cada vez mais
envolventes e viciantes.
Junto com toda essa modernidade
no campo virtual dos jogos, a linguagem utilizada é bem característica e
reforça uma ideia aos “consumidores” que o comportamento aprendido deve ser
aplicado para ser aceito e dar o “gosto” da aceitação e do pertencimento. Um
ambiente virtual carregado de palavreados pesados, chulos e ofensivos. Além de promover um estado “raivoso” e
agressivo entre os componentes.
Voltando o olhar para o que
ocorreu na semana anterior, envolvendo um jovem adolescente e o jogo on-line,
posso dizer que o que inicialmente parecia ter sido um desafio proposto entre
integrantes, segundo investigações, parece, na verdade, não passar de um
acidente enquanto o jogo era conectado e ele, o adolescente, estava on-line com
os amigos, aguardando para jogar. Porém a dedução inicial de que o jogo teria
provocado a morte por um desafio, acendeu uma luz para os cuidados que devemos
ter com os nossos filhos em ambientes virtuais.
Os jogos on-line eram para ser um
ambiente de relaxamento e diversão, mas se percebe que têm promovido uma
proposta de competição, banalização, ausência completa de amor ao próximo e
propagação de um comportamento nada saudável desta geração. É muito comum, ao depararmos
com o histórico das conversas entre os jogadores, perceber que, em vez de se
cumprimentarem e formar amizades, disparam xingamentos compulsivamente e acabam
por ofender os jogadores que apenas queriam se divertir. Do outro lado, o
iniciante entende que deve aderir a este comportamento ofensivo para ser
aceito. E muitas vezes carrega tal forma de se relacionar do mundo virtual para
o mundo real, mudando o comportamento com os familiares e amigos.
Durante o ambiente virtual,
enquanto estão jogando e não correspondem a expectativas dos outros jogadores
ou acabam por eliminar os oponentes, os jogadores são tomados por um comportamento
neste mundo virtual ainda mais denso.
Este comportamento “vende” a ideia de que todos são obrigados a utilizar
o mesmo linguajar. Toda esta estratégia comportamental que vai sendo
implantada, começa a gerar um ambiente pesado, incorporando todos os
envolvidos.
Percebe-se que os jogos on-line oportunizam
a aparição de uma segunda face das pessoas. Não é raro o estranhamento dos
pais, cônjuges e familiares ao depararem com o ambiente virtual com que seus
entes estão envolvidos e assustarem-se com a diferença de comportamento entre o
real e o virtual. Pessoas que aparentam
uma timidez no ciclo social e familiar, no mundo virtual, talvez por terem a
impressão de que são protegidas pelo anonimato, passam a revelar e promover o
disparate de sentimentos negativos e demonstram sentir prazer com isso. E,
infelizmente, este comportamento é perceptível nas redes sociais, basta
acompanhar um fórum polêmico, um noticiário envolvendo política ou uma situação
que tenha tido grande repercussão midiática.
E o que deve ser feito para
reverter este ambiente hostil em um ambiente de diversão novamente?
·
Ter um olhar reeducador e buscar a promoção de
uma boa convivência. Não devolver a hostilidade como um padrão de aceitação.
·
Perceber que nossos impulsos são gerados
culturalmente e, dessa forma, devemos ser vigilantes para não ir contra os
nossos valores.
·
Se desejamos mudanças, devemos oferecê-la. Estar
próximo ao seu filho em momentos virtuais permitirá ensiná-lo a se comportar e
não se deixar contaminar por um ambiente tóxico.
·
Convivência social, seja real ou virtual,
precisa ser respeitosa e harmônica. Refletir com o filho que tudo que o agride
deve ser evitado. Aceitar xingamentos para ser aceito não é o caminho.
·
Permitir a utilização dos equipamentos
eletrônicos com monitoramento e determinação de horário (tempo determinado).
·
Deixar os computadores em ambientes partilhados
onde todos possam ter acesso e acompanhar o que estão fazendo.
Voltando ao caso do jovem, apesar
de se descobrir que não houve um desafio além da proposta do jogo, chamo a
atenção das famílias para que promovam desafios saudáveis aos nossos jovens. Na
ausência de desafios saudáveis na vida real às crianças e adolescentes, permitindo
que obtenham tudo o que desejam, tendo a resolução de seus “problemas”
facilitada pelos adultos, obtendo tudo com muita facilidade, não sendo vigiados
o suficiente para serem orientados, contribuímos para que se tornem presas
fáceis de situações que tragam um “barato” momentâneo. Arrepiou? Deu medo? É de
arrepiar mesmo. Vamos acordar!
Que possamos proporcionar
ambientes familiares e sociais a nossos amados para que tenham menos tempo de
virarem presas em situações virtuais que não acrescentam nada a suas vidas. Neste
sábado, tive a oportunidade de entrevistar dois jovens que passam horas nos
ambientes virtuais e eles relataram que são muito assediados sexualmente e para
compra de coisas ilícitas. Será que, para agradar nossos filhos, acabamos por
oferecer precocemente equipamentos eletrônicos que os colocam em contato com o
mundo e os expomos as situações completamente desnecessárias e com as quais,
muitas vezes, não possuem maturidade para lidar?
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