
Autoridade X autoritarismo na relação familiar
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Costumo repetir muito em minhas
palestras que criar é muito fácil, basta oferecer alimentos, escola e coisas
materiais que você cria seu filho. Agora, EDUCAR é muito difícil, mas bastante
gratificante. EDUCAR é trabalhar princípios e valores incansavelmente. Para
educar, precisamos compreender que passaremos por um aprendizado diário e a
longo prazo através do qual pais e filhos crescem como pessoas e evoluem
espiritualmente. Começa aí uma corrida interna dos pais para que possam dar o
melhor de si, e entre erros e acertos, acertos e erros, alguns pais acabam por
promoverem consequências muitas vezes complexas. No processo educativo, é
necessário manter uma rotina de avaliação e reflexão sobre os próprios
conceitos e ações e, quando for preciso, readaptá-los e modificá-los.
Outro aspecto que influencia este
movimento educacional familiar é o modelo recebido na família de origem. Ao
formar a nossa própria família, temos a tendência a repetir o que nos foi
passado pelos próprios pais, esquecendo que aconteceram mudanças, estamos em um
novo momento, e o principal, cada criança precisa ser conhecida e receber um
tratamento individualizado.
No desejo de sermos bem-sucedidos
como pais e preparar os nossos filhos para o mundo, muitas vezes, ao trabalhar
hierarquicamente com combinados e regras, não conseguimos desenvolver a
autoridade e acabamos por agir de forma autoritária. E esse movimento gera um
desgaste e consequências que merecem muita atenção.
E como podemos ser pais com
autoridade e não autoritários? Primeiro, entendendo o significado de cada
palavra. Vamos lá!
Um pai ou uma mãe autoritária
possui atitudes inflexíveis, intransigentes e ditatoriais. Apresenta um desejo de dominar e impor suas
vontades. Não quer escutar, quer falar. Acredita que, se abrir espaço para o
filho, poderá ser dominado ou exposto. Pai ou mãe autoritária não consegue
lidar com a possibilidade de que o filho está crescendo quando argumenta;
enxerga como afronta ou desrespeito qualquer argumentação ou insistência.
Já o pai ou mãe que desenvolve a
autoridade, enxerga a relação pais e filhos como um movimento de diálogo para o
crescimento familiar. Preocupa-se com a formação humana e não com a opinião
alheia se é “bravo” ou “bonzinho”, até porque ser autoridade não significa
fazer o que os filhos querem. Ter autoridade é conquistar respeito e obediência
às regras por compreensão e aceitação.
Já os filhos precisam perceber o
tipo de pais que possuem para serem assertivos em sua relação familiar. Filhos
de pais autoritários precisam entender as suas dificuldades em ser diferentes e
conquistar a mudança para a autoridade.
E como podem ajudar os pais neste
processo?
O primeiro passo é identificar a
dinâmica familiar. Como tem ocorrido o processo quando discordo de alguma coisa
em casa ou quando desejo abrir novas possibilidades? Da mesma forma os pais:
Como tenho reagido às mudanças de meus filhos quando parece que estão fugindo
do meu controle?
Neste ir e vir de emoções de
ambos é necessário que o afeto esteja de mãos dadas com a autoridade. Que a
compreensão e a autoridade sejam parceiras. Que dentro da família, não precisa
existir “estou certo ou estou errado” e sim construir um caminhar para que a
família movimente-se de acordo com o crescimento dos filhos e a evolução do
mundo, porém sempre dentro do PRINCÍPIOS e VALORES arraigados desde sempre
(início da família nuclear + origem familiar).
Filhos precisam SEMPRE enxergar
seus pais como autoridade e respeitá-los mesmo em momentos em que não conseguem
entender as suas atitudes. Pais precisam sempre dar oportunidade para a escuta
de qualidade a seus filhos. E neste processo de abertura dos dois lados, nem
tudo são flores. Uma família que só concorda e aparenta apenas harmonia gera um
estranhamento, afinal, onde entram verdades e enfrentamento, mostra-se entrega.
Onde há entrega, há diferença de opiniões. Onde as opiniões divergem, gera-se o
conflito. Onde há conflito, há crescimento. Desta forma, pais e filhos que se
propõem a falar e ouvir um ao outro, consequentemente, permitem o conhecimento.
O conhecimento gera respeito e autoridade entre todos.
Se este processo ocorre de uma
forma respeitosa e sem apontamentos, pois o objetivo é um só para a família, não
há competição ou medição de força para ver quem ganha ou tem sua vontade
satisfeita; tudo tende a acontecer para contribuir para criação do hábito de
uma relação familiar saudável. Acontece que filhos de hoje estão esquecendo a
importância afetiva da figura dos pais em suas vidas e muitas vezes, reportam-se
a eles apenas como provedores materiais. E muitos pais estão se esquecendo da
importância de permitir a criação de memórias afetivas em seus filhos e só
querem enchê-los de coisas materiais.
O processo educacional precisa
permitir que os filhos compreendam que, vivendo em sociedade, precisam
respeitar uns aos outros. Temos direitos e deveres. O aprendizado sobre os
direitos e deveres inicia-se em casa. Não se pode, pois, fazer tudo o que se
tem vontade e isso a criança precisa saber desde os primeiros anos de vida. O
exemplo dos pais é primordial para a aquisição de conceitos. A criança aprende
muito observando os pais, e desta forma, entende os limites do direito do
outro.
Agora, se mesmo com todo este
cuidado, a criança ainda insiste em não compreender autoridade dos pais, é
preciso que a mesma seja repreendida. Claro que uma repreensão explicada e que
leve à compreensão. Uma atitude firme e doce. Já ouviu falar em “pais rapadura”?
São aqueles pais duros/ firmes e adocicados. Jamais repreenda seu filho com uma
carga de frustração ou conteúdo internos que se projetem neles. O contar até 10
ou o encher a boca com água enquanto escuta (para não falar por impulso),
sempre funciona. Ao fazer uma escuta de qualidade e pensar sobre o que foi
dito, a família tem a chance de permitir uma aproximação e uma assertividade de
ação. Não recuar em um posicionamento ou ceder, não quer dizer que os pais
foram intransigentes ou bobinhos. Não temos que focar no medo de perder ou
ganhar e sim no resultado da qualidade na convivência familiar.
Pais, estabeleçam, desde o
nascimento de seus filhos, combinados entre os responsáveis e cuidadores para
que não haja divergência nas ordens e regras. Uma família coesa em suas ações
evita muitos conflitos. Uma criança confusa entre o que pode e não pode na
família não conseguirá estabelecer relação de autoridade; o respeito se perderá
e o conflito trará possibilidades de competição por autoritarismo. Não deixe
sua família caminhar para isso. Pais e filhos precisam se respeitar sempre.
Filhos precisam saber que pais erram, mas desejosos de acertarem. Pais precisam
compreender que filhos buscam seus espaços, no entanto, isso não significa
rejeição. Aprender a reivindicar atitudes, presença e diálogo construtivo é o que
deve ser feito como prioridade em nossas famílias.
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