
Fabíola
Sperandio Teixeira
Pedagoga-
Psicopedagoga
Terapeuta
de Família e Casais
A cada dia que passa,
fico impressionada como somos vulneráveis aos termos. Vocês já observaram o
quanto o termo bullying tem sido
usado no mundo todo e a quase todo momento?
Bullying são ações maldosas e repetitivas, feitas por uma ou mais
pessoas. Se são ações intencionais e repetitivas, um fato isolado não pode ser
considerado bullying. Fatos corriqueiros da fase de crescimento também
não são bullying. E por que agora alguns pais recorrem à escola por quaisquer
motivos e utilizam essa palavra?
A criança de dois anos chega mordida a sua casa: “Ela está
sofrendo bullying”. Vamos à escola. Desde a minha época escolar, as crianças do
maternal que se encontravam na fase oral, mordiam umas às outras. Às vezes,
mordiam até como sinal de amor. Amam tanto que dava vontade morder. E isso não
mudou. É também uma forma de expressar carinho.
A minha maior preocupação é com o excesso de proteção que impede os
filhos de conviverem com os desentendimentos e frustrações característicos de
cada fase. Pais que a cada pequeno atrito tomam frente da situação, nomeiam o
acontecimento, buscam a escola para exigir providências. Muitas vezes, não se
abrem para ouvir os dois lados e, com isso, impedem os filhos de lidar com os
sentimentos que a convivência oferece: medo, raiva, alegria, tristeza, revolta,
justiça, injustiça. Essa mistura é que nos faz amadurecer. Se forem impedidos
de senti-los, como irão lidar com isso durante a adolescência e a fase adulta?
Depois, nos surpreendemos quando deparamos com o jovem que não
sabe lidar com as emoções ao vivenciar as seguintes situações: uma amiga que
agora não quer mais a sua amizade; um grupo de colegas que foi ao cinema e não
o convidou; um fora de uma paquera. Diante disso, procura fugir desses
problemas através de vícios (drogas, por exemplo), deseja interromper a vida,
isola-se no quarto, fica agressivo, demonstra rebeldia. Será que já paramos
para pensar que não podemos impedir os nossos filhos de
crescerem?
A violência exposta pelos veículos de comunicação nos assusta e, por
muitas vezes, nos vemos tão distantes dela, como se não pudesse atingir nossa
família. Como a violência praticada por um garoto de 10 anos, excelente aluno,
educado, bom filho, que, de repente, mata a professora e depois se mata,
deixando todos por entender o que o motivou a ter essa atitude. Esse mesmo
aluno, oriundo de uma escola pública e reconhecida pelo excelente desempenho
educacional por índices e exames estaduais e nacionais, no bairro Mauá, em
São Caetano, marcou essa instituição com uma tragédia.
Violência como a de Suzane, que nasceu numa famíliade classe média alta da capital de São Paulo e morava em um bairro nobre da zona sul paulistana (Brooklin). Filha do engenheiro Manfred Albert Freiherr von Richthofen e da psiquiatra Marísia von Richthofen. Seu pai, nascido em Erbach (Alemanha), emigrou para o Brasil após um convite de trabalho, recebido
devido a sua capacitação como engenheiro. Essa jovem foi cúmplice na morte dos
pais, demonstrando frieza e crueldade. O que a fez praticar um ato tão violento
contra seus próprios genitores?
Realmente, essa violência toda
exposta através dos veículos de comunicação parecem distantes até o
momento em que aquilo que vi acontece ao meu lado. As interrogações surgem de
várias partes: “Por quê? Por que ele fez isso? O que deixei de fazer? O que não
percebi?”
Não percebi que impedi meu filho de viver cada fase de forma saudável,
resolvendo suas intrigas, seus relacionamentos de amizade cheios de altos e
baixos. Não o deixei experimentar a conquista de novos amigos; fui à frente e
quase implorei para os amigos o aceitarem. Não o deixei experimentar as perdas
e depois, deliciar-se com os ganhos. Deixei de ouvi-lo e o enchi de “Faça assim”,
“Faça assado”, “EU VOU LÁ!” Ele só queria ser ouvido e você só queria
falar.
Vamos deixar nossos jovens viverem! Não vamos querer amenizar as passagens
necessárias para que eles se tornem adultos bem resolvidos, felizes e
autônomos.
Lembrem-se de que as nossas gerações, cito as décadas de 1970,
1980 e 1990, não tinham pais tão protetores, que visitavam as escolas por
motivos corriqueiros. Tínhamos pais que atribuíam aos filhos tarefas como as de
resolver seus problemas de amizade na escola, negociar datas de entrega com os
professores, sanar suas dúvidas com os educadores, procurar ter atitudes
assertivas que pudessem gerar um sentimento na criança de que conseguiu e foi
capaz de resolver as situações que apareceram em seu caminhar. Pais que
distribuíam funções domésticas como arrumar a própria cama, levar o prato até a
cozinha, ajudar a cuidar dos animais e não permitiam desrespeitos às pessoas de
profissões mais simples.
Por que mudamos tanto em nossa forma de educar? Vamos resgatar aquilo em que
acreditamos de nossa educação; aquilo que nos ajudou a ser o que somos hoje -
pessoas de bem. Não aceitar como normal o que nos apresentam pela TV, nas
escolas, nos condomínios e em nossa própria família no que diz respeito ao
abuso de autoridade, à imoralidade e ao desrespeito às diferenças.
Outro fator importante é que o bullying
não ocorre somente na instituição escolar. Bullying pode ocorrer entre membros
da família (irmãos, primos, tios, avós), na religião em que estamos inseridos
(colegas do grupo da catequese ou no retiro espiritual), no prédio, rua ou
condomínio onde residimos, no clube que frequentamos, cursos extras (futebol,
ballet, inglês) entre tantos outros locais que frequentamos assiduamente. Vejo
famílias perdendo um tempo precioso investigando a escola quando o filho se
mostra arredio, triste ou agressivo quando deveria ampliar a busca em todos os
locais que a família ou a criança se relaciona.
A LEI Nº 13.185, DE 6 DE NOVEMBRO DE 2015 institui
o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) e deverá ser
aplicada a todos. Fico pensativa quando vejo os programas televisivos debatendo
a lei focando na instituição escolar e ignorando as outras possibilidades
citadas acima. Se não ampliarmos o olhar, admitindo que todo local que reúne
pessoas é possível ter ações de bullying, deixaremos de acudir crianças, jovens
e adultos que são acometidos desta ação dolorosa que muitas vezes até os
paralisam.
Suplico
para que, em vez de focarmos nas consequências para quem pratica ou fomenta
práticas de bullying, nos concentremos na prevenção e em desenvolver
ferramentas de defesa. Vamos esclarecer e promover o combate ao bullying e, para
que isso aconteça, os adultos precisam motivar suas crianças à busca do
equilíbrio emocional e ao enfrentamento. Toda vez que saímos como leões e leoas
em defesa de nossas crias, nós a impedimos de amadurecer. Estejam sempre ao lado,
instruindo e promovendo suporte, mas jamais agindo por eles. Outro alerta é que
precisamos estar abertos para conhecer os vários lados da história. Não compre
uma única versão como verdade absoluta. Vá atrás da real situação. Investigue,
avalie e se posicione.
O
nosso papel é sempre criar condições de crescimento aos nossos filhos.
Trabalhar os valores éticos e morais promoverá o senso de justiça. Ser justo é
buscar o equilíbrio entre a razão e emoção. Hoje estamos tão focados em nossos
direitos que acabamos por não observar se cumprimos os nossos deveres. Pensem
nisso!
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