“ Papai, por que a mamãe vai embora com outro homem?” Continuidade
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais
Mestre em Educação
Se você não leu o artigo anterior,
clique no link e acesse http://fabiolasperandiodocouto.blogspot.com/2019/06/papai-por-que-mamae-vai-embora-com.html
Paulo retorna. Estava ainda em
sofrimento, porém mais tranquilo quanto à forma de lidar com a filha. Estava
tentando seguir a rotina para que ambos não sofressem ainda mais.
Paulo contou que à esposa havia dado
entrada na papelada do divórcio. Estava determinada e constituiu um advogado.
Com as orientações do nosso encontro anterior, não permitiu que a filha ouvisse
nada sobre esse assunto. Foi cuidadoso com as ligações telefônicas e evitou
encontrar parentes ao lado dela. Assim, a protegeu da falta de senso de muitos
adultos.
Paulo também foi a escola. Solicitou
que observassem o comportamento da filha. Explicou que os pais haviam se
separado e que ele ficou responsável por ela, até as próximas decisões.
A criança parecia tranquila. Foi
participativa no diálogo com o pai. Estava mais carinhosa com ele, como se
percebesse a sua dor. A mãe da criança só falava com ela por telefone. Não a
viu pessoalmente. Por telefone, disse à filha que a amava, no entanto, deixou
claro que não pretendia que ela fosse morar com ela. Alegou estar em um momento
de muito trabalho e que o papai teria mais tempo. Paulo reforçou à filha que a
mamãe estava certa e a protegendo. E que ele daria conta do recado, brincou. A
criança estava com o olhar triste, porém doce.
Foi neste momento que Paulo desabou na
sessão. Não entendia como uma mulher podia abrir mão da própria filha: “Não me
querer mais, até tenho que aceitar e entender, mas como entender a ação dela de
colocar a filha no pacote? ”. A dor
de Paulo era a não compreensão das atitudes de uma mãe, somada ao amor que
tinha por essa mulher.
Cheguei mais perto dele. Olhei-o nos
olhos dele e disse-lhe: “Paulo, você está procurando entender a sua ex mulher
como se ela pensasse como você. Você está olhando o coração dela como se fosse
o seu. Você não é capaz de abandonar um filho, mas nem todo mundo é como você.
“ Paulo chorou. Continuei. “Paulo, não busque julgar a sua ex mulher. Apenas
lide com a sua dor, para se refazer, e cuide da sua pequena. Tentar achar
respostas ou julgá-la não mudará o quadro. Levante a cabeça e siga em frente.
Você é capaz!”
Paulo levantou da cadeira. Fiquei sem
saber o que iria fazer. Ele caminhou em volta das poltronas de uma sala
pequena. Sentou-se de novo. Eu fiquei em silêncio. Respeitei o momento dele.
Ele ficou em silêncio por uns minutos. Para mim pareciam horas. De repente, ele
disse: “Sabe, Fabíola, fui um esposo fiel e trabalhei duro para oferecer o
melhor. Desde o nascimento da nossa filha, redobrei os cuidados materiais e de
tempo a ela e a minha esposa. Não entendo como ela não pode valorizar isso!!!”
Paulo estava bravo. Coloquei uma mão em
seu joelho e disse-lhe: “Paulo, não se arrependa por nada que tenha feito. Você
fez o que achou certo no momento e o que lhe dava satisfação. Não podemos
cobrar do outro reconhecimento. Quando amamos de verdade, fazemos por amor e
pronto. Se o outro não entendeu ou não recebeu, já passa a ser um problema do
outro e não seu. Não mude a sua essência por esta experiência. Aprenda com ela
e amadureça. Ficar se lamentando e mergulhando no sofrimento, não o ajudará.
Avalie o que aconteceu, faça um filtro sobre o que é seu e o que não é seu,
transforme em experiência e siga”.
Paulo, chorou e disse: “Estou
entendendo. Vou não vou agir mais com revolta, vou procurar entender. ”
Intervi. “Procure se entender e entender a situação. Seja atencioso com você.
Seja amoroso com você. E viva esse momento prazeroso de pai e filha. E continue
a protegendo do que ainda ela não tem amadurecimento emocional para entender.
Deixe-a saber do básico. ”
Encerramos a sessão com um abraço. Um
abraço demorado e significativo. O abraço transmitiu força. Paulo saiu da
sessão para a escola da filha. Já estava na hora de buscá-la. Lá da escola, ele mandou uma foto dos dois
abraçados com uma frase: “Vamos vencer esta fase, Fabíola. Obrigado. E até a
próxima sessão.”