Criança
furta?
O que
fazer quando a minha criança chega em casa com algo que não é seu?
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
Existe uma fase na vida da
criança em que ela sente a necessidade de saciar seus desejos: a fase do eu; do
“tudo é meu”. É exatamente neste período que, muitas vezes, ela leva para casa
algo que não lhe pertence: uma boneca da coleguinha, um apontador, um enfeite
de cabelo, um carrinho. O primeiro alerta que quero fazer é que ela não possui
nenhuma noção de FURTO e, diante disso, devemos deixar de lado o nosso desespero
recheado de medos e julgamentos e agir com naturalidade.
Até os 4 e 5 anos, a criança não
tem clareza que cometeu um furto, portanto ela não compreende que cometeu um
delito, fez “um mal”. Ela simplesmente se afeiçoa ao objeto e o deseja. Ao desejá-lo,
o subtrai para si e o leva. Não percebe que tirou do outro, mas que o trouxe
para realizar a sua vontade de tê-lo.
Diante desta situação, os pais
devem ser pacientes e companheiros. Deverão levar a criança a compreender que,
quando ela pega algo do colega, o colega fica triste; proporcionar o movimento
de colocar-se no lugar do outro (empatia) e motivá-los a devolver e se
desculpar. É importante levá-los a entender que não é uma atitude correta, mas
sem exageros e castigos, e sim aprendizado.
É preciso ficar claro que até os
5 anos, isso é bem comum acontecer. E que este ato não significa que existe
algo emocional por trás: muitos falam em manifestação de carência afetiva, mas
não vejo como um reflexo disso; apenas experiências que a vivência coletiva proporciona
e que nos dão oportunidade de trabalhar valores e reforçar princípios.
Preocupo-me muito com os alarmes exagerados, que assustam as crianças.
Furto é diferente de roubo. Furto
está ligado ao contato com algo que estava à vista, fácil, ao alcance. Roubo já
significa que tomou posse de algo que está com alguém e, que munido de
violência física ou psicológica, a criança apropria, toma do outro. Desta forma,
o roubo tem uma conotação diferenciada e pode aparecer após os 6 anos.
“Achado não é roubado” é um
ditado que não podemos aceitar. Cabe aí, uma necessidade de educar para
aprender quais são os valores morais e éticos. Tudo o que surge no caminhar de
nossas crianças precisa ser trabalhado para evolução e não para um escândalo
que possa assustá-las e não ajudá-las a crescer.
Lembrar que a criança pequena tem
uma dificuldade de entender que, fora do ambiente de casa, existem objetos que
não lhe pertencem, é o primeiro caminho para compreender que seu filho não está
cometendo um delito, apenas experimentando ações que saciam seu egocentrismo
característico da faixa etária.
Um diálogo afetuoso mostrando as
regras de convivência social e despertando para que nem tudo o que desejamos
teremos, trará um momento riquíssimo na relação pais e filhos.
Se o objeto de que ela se apossou
for de um familiar, de um colega do condomínio ou da escola, ensiná-la a devolver
sem humilhá-la (sem longos discursos ou atos públicos) fará com que ela
concretize o que aprendeu com os pais através do gesto de correção. Porém repito:
não trate a situação como se a sua criança tivesse um desvio de conduta. Ela
apenas desejou e achou que poderia obter. O desvio ocorrerá se tratarmos como
fase sem orientação e, com certeza, ela internalizará a conduta como algo
natural em sua vida. E, quando já estiver com a consciência de que não está
certo tal atitude, como não houve ação da família, verá como um ato tão normal
que não se importará com sentimento do outro (quem perdeu o objeto para ela) e
se tornará insensível ao coletivo e focado no seu desejo pessoal a qualquer
preço. Vamos dar o peso que cada ação tem a cada fase, mas vamos agir com
sabedoria.
Nós somos os responsáveis por
nossas crianças. Somos responsáveis pelo que apresentam e corrigimos,
permitindo a sua evolução ou pelo que permanecem por nossa omissão. Sejam pais
atuantes.
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