terça-feira, 11 de junho de 2019

Qual o olhar que você tem para o seu filho?




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Qual o olhar que você tem para o seu filho?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

Estranha essa pergunta? Mas hoje percebo que os pais não estão sabendo olhar para os seus filhos e vê-los na idade que possuem. Ora os infantilizam, ora os adultizam. Que idade tem seu filho? Experimente tratá-lo de acordo com a idade dele e verá grandes mudanças na relação de vocês.
            Preocupo-me muito com a infância prolongada na mesma proporção que me preocupo com a extinção da infância. As crianças precisam viver intensamente cada etapa. Viver a etapa significa permitir que descubram o mundo com o olhar da idade que têm.
            Uma criança curiosa e ativa não significa que tenha hiperatividade. Uma criança observadora e seletiva não significa que seja autista. Por que as famílias estão insistindo em ler artigos na internet, muitas vezes não confiáveis, rotulando seus filhos e insistindo em consultas até acharem um médico que ateste algo para eles? Dá medo a quantidade de laudos que tem chegado às escolas. Laudos muitas vezes emitidos em uma única consulta com um determinado “profissional”.
            Hoje gostaria de dizer que criança tem fome de viver. Criança tem personalidade, vontades e ousadia. Muitas vezes é apenas isso. E é nossa obrigação permitir vivências e descobertas. É nossa obrigação colocar limites para o que extrapola, mas nunca buscar um laudo na intenção de rotular o filho e justificar a nossa “falha” ou “preguiça” de educar.
            Sinto “arrepio na espinha” quando alguns pais chegam lavando as mãos com um laudo na mão. Sinto-me triste e preocupada. Um laudo precisa ser construído por diversas mãos, mãos de sérios profissionais. Estamos falando de crianças. Crianças que deveriam estar seguras por ações maduras dos adultos. Crianças que, na sua vontade de explorar este “mundão de meu Deus”, vão agir conforme seus estímulos internos e externos. Crianças únicas, que não devem ser comparadas com outras. Crianças cuja evolução é avaliada comparando-as com elas mesmas, pelos estágios vividos.
            A criança se sente controlada por seus desejos e impulsividades, e só o crescimento orientado permitirá que ela aprenda a controlá-los. Vale exemplificar, lembrando-os das atitudes das crianças quando estão em grupo: elas empurram, batem, gritam, mordem, avançam e prendem o objeto de desejo e mostram uma fisionomia de posse.
            Criança precisa ser criança para passar para outras fases de forma saudável. Criança precisa chorar, rir, frustrar-se, entender, machucar, sarar, brigar, conciliar, vivenciar oportunidades que a façam aprender a dominar seus sentimentos e impulsos.
            Por que os pais estão eliminando a infância de seus filhos? Por que não aceitam o filho sofrer? Por que não permitem a seus filhos resolverem suas situações diárias com os pais ao lado e não à frente?  Por que os pais estão procurando síndromes, doenças, “rótulos” para os seus filhos? Por que os pais de hoje não aceitam os filhos experimentarem e ousarem?  Por que não colocam limite saudável: permitir, ensinar e corrigir?
            Pais, não aceitem taxarem seus filhos. Sentiram que precisam de ajuda? Busquem profissionais que estão desenvolvendo um trabalho sério de investigação sobre a sua queixa e não aceitem que, em uma consulta, seu filho saia “laudado”.  Um laudo pode afetar o desenvolvimento de seu filho por toda vida. Da mesma forma que a negligência de não buscar conhecer o filho. Desta forma, clamo para que os pais sejam maduros e sensatos ao analisarem os filhos, escutarem a escola e buscarem ajuda.
            É nosso dever, como responsáveis por esses seres pequenos, permitir que sejam crianças e protegê-los. Protegê-los de maus profissionais, de escolas descompromissadas, de “rótulos”, de atos irresponsáveis, da infância estendida (quando não permitindo crescer, por querer “o nosso bebê”) e do encurtamento da infância.
             



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