Filho único
Fabíola Sperandio Teixeira do
Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Talvez você
tenha se sentido atraído para esta leitura pensando que aqui seria discorrido
sobre uma série de desvantagens de ter um filho único. Não trilharei este
caminho.
Acredito que
baseados em nossos ensinamentos que latejam em nosso inconsciente, somos,
muitas vezes, repetidores de argumentações contrárias à opção de gerar um único
filho. Porém, temos que levar em consideração que deparamos com filhos únicos
oriundos de diversas situações: viuvez de um dos cônjuges, separação de casal,
impossibilidade de ter outro filho pela genética ou pelo financeiro, “produção
independente” ou opção mesmo.
O filho
único tem todas as chances de aprender a socializar-se, dividir, ser generoso,
cortês, companheiro da mesma forma do que se tivesse irmãos em casa. Por quê?
Porque o filho único está inserido na família com primos, inserido no prédio ou
bairro com amigos; e, sobretudo, participa do convívio escolar, local onde promove
o convívio igualitário e estimula a troca entre os indivíduos.
Quanto à fama de que filho único é mimado, é preciso fazê-los pensar que quando uma
família possui atitudes de mimar a criança,
ela faz isso independente de ter um ou mais filhos. Vale ressaltar que muitas
vezes nos deparamos com primogênitos ou caçulas muito mais cheios de vontade do
que alguns filhos únicos.
A família de
filho único não precisa compensar a ausência de irmãos. Está aí muitas vezes o
erro. Uma eterna culpa que muitos genitores carregam que só atrapalha.
Precisamos estar bem com as nossas escolhas ou possibilidades, porque estando
feliz com um ou mais filhos, a chance de acertar na relação é muito maior.
Não existem formas de lidar com os filhos ou
com o filho único, existem sim necessidades e formatos diferentes. Exatamente
porque são crianças com as suas individualidades e isso independe da quantidade
de filhos. Encarar a escolha de ter um ou mais filhos é o melhor caminho para
encontrar acertos na criação. Com a cabeça livre de fantasmas sobrará mais
tempo para pensar e criar estratégias de convivência saudável.
Existem
famílias que se sentem obrigadas a corresponder às expectativas da sociedade.
Acham que precisam seguir a “ditadura” conceitual de modelo de família.
Precisamos nos sentir livres da ideia de que ter um filho ou até não tê-lo não pode ser um determinante para aceitação
social ou para saúde emocional.
Algumas
pessoas defendem a redução do número de filhos,justificando condição
financeira. Não vou me pautar por esse caminho porque não penso desta forma.
Quem tem o desejo de ter filhos e os tem, com certeza até se sentiria muito
capitalista se fosse justificar a quantidade pelo gasto de investimento. Filhos
não custam caro. Nunca! Eu os vejo
sempre com o olhar do ganho que eles nos proporcionam de amadurecimento pessoal
e espiritual. Então, mesmo com teses que defendem a redução de números de
filhos associadas à ascensão da mulher moderna no mercado de
trabalho e no alto custo financeiro gerado, eu me recuso a ir por esse viés,
mas respeito todos que pensam e escrevem partilhando dessa preocupação atual.
Existe
um ganho que as famílias de mais de um filho precisam aprender com os pais de
filho único. Os pais acabam favorecendo o convívio com ele. Não há um
pensamento de que o filho está com o irmão brincando, então estou livre para
fazer outra coisa. Pais de um só filho se preocupam mais em marcar presença.
Focam mais em seu filho, aproximam-se e
permitem que ele acompanhe com maior
proximidade a sua rotina. Com essa rotina de aproximação, pais e filho ampliam
sua vivência e crescem muito juntos.
Alguns
filhos únicos se sentem tão completos que nem cobram irmãos. Outros se sentem
tão amados que também gostariam de ter um irmão para usufruir do amor dos pais junto
com ele. Com isso, temos filhos únicos que não cobram a continuidade da
família, mas também temos os que cobram dos pais que tenham mais filhos. Essa
situação só se tornará um problema se não houver transparência dos objetivos e
metas familiares. Se a família está segura quanto à decisão ou imposição da natureza (caso haja o desejo
associado à impossibilidade), todos entenderão e conseguirão seguir com
harmonia e alegria.
O
período que requer mais atenção de pais de único filho, acredito que seja a
chegada da adolescência. A mistura de sentimentos e a busca da identidade
muitas vezes traz a introspecção e a família precisa entender esse processo.
Entender significa compreender o momento, mas jamais deixar de ser pai para ser
amigo. Não é isso que o adolescente precisa. Serem pais passando segurança,
oferecendo exemplo e presença é muito importante nesta fase. Oferecer um colo
para confidências significa permitir a partilha de suas angústias para alguém
que precisa ser o porto seguro sempre.
Outro
aspecto que percebo como muito angustiante nas famílias que atendo de filho
único é o receio do filho se deparar com a morte dos pais e se sentir sozinho.
Então eu pergunto: ter irmãos garante a companhia eterna? A família precisa
dedicar-se à criação de um vínculo
saudável e que propicie o crescimento autônomo. É impossível prever o que
acontecerá com a nossa família, independente se ela é grande ou pequena. Com a
ausência dos pais, ter irmãos permite partilhar o luto, mas seria apenas uma
parte dessa experiência dolorosa e não ela por inteiro.
Se
a opção foi um ou mais filhos, o importante é buscarmos a sabedoria para
crescermos na convivência. Lutar para ter um lar harmonioso e recheados de
momentos felizes, em meio às obrigações cotidianas, é o que nos realizará no
final.
Que
sejamos pais livres das paranoias sociais! Viva a liberdade de escolha e a
tranquilidade de lidar com aquilo que não podemos escolher.
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