segunda-feira, 3 de junho de 2019

Filho único



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Filho único
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

Talvez você tenha se sentido atraído para esta leitura pensando que aqui seria discorrido sobre uma série de desvantagens de ter um filho único. Não trilharei este caminho.
Acredito que baseados em nossos ensinamentos que latejam em nosso inconsciente, somos, muitas vezes, repetidores de argumentações contrárias à opção de gerar um único filho. Porém, temos que levar em consideração que deparamos com filhos únicos oriundos de diversas situações: viuvez de um dos cônjuges, separação de casal, impossibilidade de ter outro filho pela genética ou pelo financeiro, “produção independente” ou opção mesmo.
O filho único tem todas as chances de aprender a socializar-se, dividir, ser generoso, cortês, companheiro da mesma forma do que se tivesse irmãos em casa. Por quê? Porque o filho único está inserido na família com primos, inserido no prédio ou bairro com amigos; e, sobretudo, participa do convívio escolar, local onde   promove o convívio igualitário e estimula a troca entre os indivíduos.
Quanto à  fama de que filho único é mimado,  é preciso fazê-los pensar que quando uma família possui atitudes de mimar a  criança, ela faz isso independente de ter um ou mais filhos. Vale ressaltar que muitas vezes nos deparamos com primogênitos ou caçulas muito mais cheios de vontade do que alguns filhos únicos.
A família de filho único não precisa compensar a ausência de irmãos. Está aí muitas vezes o erro. Uma eterna culpa que muitos genitores carregam que só atrapalha. Precisamos estar bem com as nossas escolhas ou possibilidades, porque estando feliz com um ou mais filhos, a chance de acertar na relação é muito maior.
 Não existem formas de lidar com os filhos ou com o filho único, existem sim necessidades e formatos diferentes. Exatamente porque são crianças com as suas individualidades e isso independe da quantidade de filhos. Encarar a escolha de ter um ou mais filhos é o melhor caminho para encontrar acertos na criação. Com a cabeça livre de fantasmas sobrará mais tempo para pensar e criar estratégias de convivência saudável.
Existem famílias que se sentem obrigadas a corresponder às expectativas da sociedade. Acham que precisam seguir a “ditadura” conceitual de modelo de família. Precisamos nos sentir livres da ideia de que ter um filho ou até não tê-lo  não pode ser um determinante para aceitação social ou para saúde emocional.
         Algumas pessoas defendem a redução do número de filhos,justificando condição financeira. Não vou me pautar por esse caminho porque não penso desta forma. Quem tem o desejo de ter filhos e os tem, com certeza até se sentiria muito capitalista se fosse justificar a quantidade pelo gasto de investimento. Filhos não custam caro. Nunca!  Eu os vejo sempre com o olhar do ganho que eles nos proporcionam de amadurecimento pessoal e espiritual. Então, mesmo com teses que defendem a redução de números de filhos associadas à   ascensão da mulher moderna no mercado de trabalho e no alto custo financeiro gerado, eu me recuso a ir por esse viés, mas respeito todos que pensam e escrevem partilhando dessa preocupação atual.
         Existe um ganho que as famílias de mais de um filho precisam aprender com os pais de filho único. Os pais acabam favorecendo o convívio com ele. Não há um pensamento de que o filho está com o irmão brincando, então estou livre para fazer outra coisa. Pais de um só filho se preocupam mais em marcar presença. Focam mais em seu filho, aproximam-se  e permitem  que ele acompanhe com maior proximidade a sua rotina. Com essa rotina de aproximação, pais e filho ampliam sua vivência e crescem muito juntos.
         Alguns filhos únicos se sentem tão completos que nem cobram irmãos. Outros se sentem tão amados que também gostariam de ter um irmão para usufruir do amor dos pais junto com ele. Com isso, temos filhos únicos que não cobram a continuidade da família, mas também temos os que cobram dos pais que tenham mais filhos. Essa situação só se tornará um problema se não houver transparência dos objetivos e metas familiares. Se a família está segura quanto à decisão ou  imposição da natureza (caso haja o desejo associado à impossibilidade), todos entenderão e conseguirão seguir com harmonia e alegria.
         O período que requer mais atenção de pais de único filho, acredito que seja a chegada da adolescência. A mistura de sentimentos e a busca da identidade muitas vezes traz a introspecção e a família precisa entender esse processo. Entender significa compreender o momento, mas jamais deixar de ser pai para ser amigo. Não é isso que o adolescente precisa. Serem pais passando segurança, oferecendo exemplo e presença é muito importante nesta fase. Oferecer um colo para confidências significa permitir a partilha de suas angústias para alguém que precisa ser o porto seguro sempre.
         Outro aspecto que percebo como muito angustiante nas famílias que atendo de filho único é o receio do filho se deparar com a morte dos pais e se sentir sozinho. Então eu pergunto: ter irmãos garante a companhia eterna? A família precisa dedicar-se  à criação de um vínculo saudável e que propicie o crescimento autônomo. É impossível prever o que acontecerá com a nossa família, independente se ela é grande ou pequena. Com a ausência dos pais, ter irmãos permite partilhar o luto, mas seria apenas uma parte dessa experiência dolorosa e não ela por inteiro.
         Se a opção foi um ou mais filhos, o importante é buscarmos a sabedoria para crescermos na convivência. Lutar para ter um lar harmonioso e recheados de momentos felizes, em meio às obrigações cotidianas, é o que nos realizará no final.
         Que sejamos pais livres das paranoias sociais! Viva a liberdade de escolha e a tranquilidade de lidar com aquilo que não podemos escolher.

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