O efeito do
divórcio na vida dos filhos
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
A cada dia
mais comum e aparecendo em idades diversificadas, o divórcio dos pais traze um
impacto enorme em seus filhos. Hoje quero falar sobre o impacto em cadeia do
divórcio dos pais em filhos maduros. Por que em cadeia? Porque o divórcio dos
avós dos pequenos tem ocorrido com alguma frequência e causa uma onda de
consequência começando pelos pais das crianças até refletir no comportamento de
toda família: divorciados com idade de 60 anos, por exemplo, nos filhos com
seus 40 anos e seus netos.
Lidar
com a separação dos papais em idade de infantil já não é nada fácil, mas lidar
com o sofrimento dos papais por verem seus avós o divorciarem tem sido algo
ainda mais forte para as crianças nos dias atuais.
Acontece
que com a perspectiva de uma vida mais longa e de qualidade, os adultos estão
cada vez mais ativos e animados com a vida. A vida moderna ainda trouxe mais
acesso a tudo o que é possível realizar, mesmo após a aposentadoria: grupos de
academia, excursões, tempo de qualidade com a família, disposição para amigos,
entre tantas coisas que as pessoas da terceira idade possuem. Além do amadurecimento
e da percepção que tais pessoas obtiveram uma vida cheia de restrições em prol
do cônjuge e desejam uma liberdade que não é concedida se permanecem no enlace.
E de
repente os pais soltam esta notícia aos filhos como uma bomba. Filhos que
muitas vezes não percebiam que um dos pais se sentia reprimido, sufocado ou
magoado, precisa encarar uma decisão tomada e aceitar que não os terão mais
juntos.
A
avalanche emocional interfere na relação destes filhos adultos com os seus
filhos pequenos. Isso! Filhos não desejam ver pais separados e sonham com o
amor mágico para eles. Os filhos aprendem, durante o seu crescimento e
desenvolvimento, o exemplo apresentado da relação dos pais. Esse legado apresentado
dia a dia passa a ser referência para as suas relações. Tudo fica harmonioso e
“adequado” até que a cortina se abre e um novo cenário é apresentado. Diante
dessa nova realidade, uma busca incansável de respostas aos porquês atormenta a
criação.
E
como ficam os filhos dos filhos, os netos, diante desta nova vivência? Os netos
começam a sentir o sofrimento dos pais e se perguntam se possuem uma relação
saudável ao ponto de também não os perder a qualquer momento.
Quando
todo susto dá lugar à compreensão, uma nova relação se estabelece. Junto com
essa nova perspectiva de relacionamento com os pais, somada à análise do “que
eu perdi, ou não vi, ou não quis ver” durante esta convivência que não percebi,
todos amadurecem e formam um novo caminhar.
A dor
vai dando lugar ao aprendizado e amadurecimento. E de repente a saída da zona
de conforto faz com que toda a família aprenda a ficar mais atenta.
Nesse
momento, os filhos começam a se autoavaliarem dentro das suas relações. Um novo
formato se estabelece em seus relacionamentos para que não passem pelo mesmo e
gerem segurança aos seus filhos. Os netos passam a dedicar mais atenção a seus
pais para que também não os percam como casal.
E o
que tem levado casais de longo relacionamento e com filhos maduros a se
separarem? Entrevistas com famílias que passam por isso têm mostrado que o
desejo dos pais de relacionar-se com outros adultos, poder ter seus próprios
momentos com afazeres que lhe geram prazer, o entendimento que os filhos
crescidos já estão aptos a cuidarem de si e que agora podem se dedicar mais e
nutrir o amor próprio são relatos constantes.
Outro
aspecto importante é que a decisão de se divorciar tem partido muito das mulheres
e elas explicam: “Com a cultura machista em que estamos inseridas, o homem
possui muito mais oportunidades de momentos de lazer e relaxamento que a
mulher”; “ Por ter que estar presa a tantas obrigações domésticas enquanto meu
marido estava a caminhar por aí, não tinha as mesmas oportunidades de cuidar de
mim e conversar com amigas”; “Acredito que cumpri a minha missão e agora posso
fazer aquilo para o qual nunca sobrava tempo ou era impedida pelo meu
parceiro”; “Cansei de ser mandada e ainda abusada financeiramente. Tudo o que
promovia em dinheiro era revertido para o que ele decidia”; “O desrespeito as
minhas ideias e vontades me fez cansar e buscar a liberdade”.
Os
filhos, por sua vez, se deparam com aquilo que conheciam e não imaginavam que
seria tão penoso ou se surpreendem por acharem que era algo aceitável e
acordado entre eles. Retornam a seus lares, se questionam como cônjuges e a
onda da dor chega aos pequenos, que percebem tudo e também avaliam.
A
insegurança da nova situação mostra a importância de uma assistência mais
próxima aos pequenos. Enquanto os pais digerem o divórcio dos avós das crianças,
as crianças precisarão entender o que se passa de acordo com a idade que elas
têm, ou seja, sem riquezas de detalhes sem comoção, para que, em breve, tudo
siga o curso da vida.
Filhos
com pais felizes são muito mais felizes do que filhos com pais juntos e
infelizes. Toda separação é difícil, porém se se mantém o respeito e a harmonia
entre todos, afinal, a relação marital findou, mas o vínculo parental
permanece, tudo caminhará sem sequelas graves emocionais.
Uma
boa dica é passarmos a usufruir do romantismo e da mágica que se cria em volta
do amor dos nossos pais e avós, sem tirar o pé da realidade. Buscar entender as
necessidades emocionais dos nossos pais, sem dúvida nenhuma, permitirá
estabelecer um vínculo real e com muito mais chance de ajuda aos ajustes
necessários ao longo da vida.
Os
pais podem sim se cansar da rotina ou da opressão que a relação muitas vezes estabelece,
mas nada como uma rotina de diálogo saudável para reestabelecer a rota. Este
exercício deve ser realizado e aprendido pelo nosso pequeno. Inicialmente lhes
ensinando nos vínculos com os amiguinhos e depois se entendendo às futuras
relações amorosas.
Em um
mundo onde o egoísmo tem dado lições dolorosas, cabe aqui um alerta sobre a
repercussão de um divórcio de uma relação acima de qualquer suspeita. O que
quero dizer? Não deixe de estar próximo a seus pais e entender os sentimentos
que possuem só porque você já constituiu um lar e tem tantas obrigações com
seus filhos. Saiba que, estando por perto, você poderá ser um mediador e
proporcionar ajustes ou oferecer ajuda profissional para que compreendam o
momento e achem um caminho que possam seguir juntos e mais felizes. Toda a
família agradecerá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.