Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
Existe diferença entre a criação
de menino e menina? Você já parou para pensar sobre isso? Quero refletir sobre o que temos ensinado aos
nossos meninos. São tantos acontecimentos atualmente que percebo as famílias
voltadas para a reflexão de qual tem sido a sua colaboração na criação dos
filhos.
Falando em meninos posso destacar
com tranquilidade que ao receber a notícia da chegada de um garotinho à
família, vários comentários já começam a surgir entre os familiares.
Comentários que só são feitos ao gênero masculino: “Segurem as cabritas que o
bode chegou”; “Mais um sacudo para honrar a família”; “Já temos o nosso time de
futebol com esse artilheiro”, entre tantas outras frases de comemoração entre
os membros do mesmo sexo da família.
Sem perceber, perpetuamos através
das frases um comportamento instalado há muitos anos, que nada tem a ver com o
momento e a evolução que vivemos, ou deveríamos viver. Um menino ao chegar não
pode trazer consigo a perpetuação de um comportamento que o faz sentir-se
responsável por dar continuidade ao que os adultos do mesmo sexo, às vezes, nem
mais acreditam, porém reproduzem falas por tradição. Tradição?
Precisamos entender o menino de
hoje. Primeiro as famílias e as escolas precisam perceber que os meninos e as meninas
possuem diferenças e que as diferenças são comuns entre as pessoas, o que
significa que somos diferentes independentemente do gênero: masculino e
feminino. Se acreditamos nisso, derrubamos a tradição de determinados
comportamentos, como, por exemplo, a escolha da profissão, os tipos de brincadeiras
e vocabulários.
Meninos e meninas precisam ser
criados para:
- · serem gentis com as pessoas independentemente se são meninos ou meninas, criança ou idoso, todos merecem respeito e um vocabulário adequado;
- · que ambos sejam importantes, que possuem a mesma capacidade intelectual e podem experimentar o aprender das habilidades e competências. Não é o sexo que determinará se aprenderão ou não determinado conteúdo e sim a dedicação e determinação;
- · serem colaboradores nas tarefas domésticas. Que arrumar uma cama, secar uma louça ou qualquer outra tarefa só os tornará pessoas mais preparadas para vida: morar fora por motivos de estudo; criação de filhos e uma vida matrimonial colaborativa;
- · que entendam que ambos são importantes no mercado de trabalho. Cada um terá a chance de mostrar suas habilidades e competências e colherem o fruto do sucesso. Que não se determina o provedor pelo gênero e sim, pelo momento que cada um se encontra profissionalmente;
- · que a escolha do esporte é por afinidade. Que ambos podem se destacar em qualquer modalidade esportiva e ser respeitados por suas escolhas;
- · que percebam que a sensibilidade não os tornará menos ou mais. Que saibam perceber que podem expressar suas emoções sem julgamentos ou que isso os transforme em um chorão e/ou uma sensível. Que meninos e meninas choram, sensibilizam, são empáticos, solidarizam e que este conjunto os torna humanos;
- · que meninos e meninas sejam expostos apenas ao que diz respeito a sua idade. Que jamais sejam agredidos com a inserção à pornografia, por exemplo, que não sejam estimulados ao “papel de machão” e “princesa moderna”. Que durante a sua vida infantil até a adolescência meninos e meninas sejam respeitados e não estimulados a relacionamentos: paqueras e namoros (muitas vezes ensinamentos de frases e gestos para meninos “pegarem” meninas).
Enfim, se ensinamos aos meninos
os valores éticos e morais, não iremos deparar com jovens e adultos sofridos em
relações desastrosas porque não se respeitam e não sabem respeitar. Se a
criança cresce estimulada a entender as diferenças além do gênero (masculino e
feminino), evitaremos situações de constrangimento entre meninos e meninas,
rapazes e moças, homens e mulheres, ao depararem com assédio, deselegância no
vocabulário e ações preconceituosas.
Meninos precisam ser entendidos e
respeitados em suas diferenças. Meninas precisam ser entendidas e respeitadas em
suas diferenças. Entender e respeitar as suas escolhas e não impor o como devem
se portar, escolher ou tratar o outro. Encontramos em pleno século XXI pessoas
que ainda criam os seus filhos, quando falamos na criação diferenciada de
meninos e meninas como o início dos tempos, lá na idade da pedra. Tenho
absoluta certeza de que, ao ler “idade da pedra”, veio a sua memória a cena de
um homem arrastando uma mulher pelos cabelos em um sinal de poder e submissão
que não pode existir mais. Quem tem um filho, um menino, tem a missão de
adequar a sua criação, deixando um legado de respeito e igualdade para que
possamos ter um mundo melhor. Que meninos e meninas entendam que estão aptos à
convivência saudável neste mundo ainda doentio.
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