Não me
sinto amado por um dos meus genitores.
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
De
repente entra um jovem bonito, com uma postura educada e respeitosa: “Como vai
a senhora? Desculpe o atraso.” Uma atitude muito bonita para um rapaz de 14
anos que veio ao meu encontro.
Perguntei
se tinha noção do que faríamos na sessão. Ele disse que acreditava que eu
poderia ajudá-lo a dominar a ansiedade e o estresse. Pensava em seus erros e
atrapalho. Se culpava e culpava um dos seus genitores por ser reativo.
A
conversa fluía sem muitas dificuldades. Ele sentia vontade de falar. Parecia
que era a chance de tirar tudo que apertava o peito e provocava nó na garganta.
Com
serenidade e muita lucidez ele traçou uma linha do tempo. A linha do tempo
trouxe falas sofridas, doloridas e fortes que escutou ao longo dos anos.
Sentia-se humilhado e desconfirmado pela família. O sentimento de injustiça e
raiva o afastava de seus pais.
Como
já havia feito uma escuta anterior de um dos seus pais, vi ali um círculo
vicioso. O filho reagia defensivamente aos que os pais propunham e os pais
agiam severos e ríspido pela atitude do filho. Não conseguiam ver isso, apenas
reagiam.
A dor
desse filho me tocou profundamente. Ele tinha fatos bem concretos em sua mente.
Lembranças afetivas cheias de rancor e mágoa. Queria reverter a situação, porém
não tinha ferramentas para isso.
Do
outro lado podia perceber pais aflitos e desejosos de uma relação melhor.
Lutavam pela união com estratégias que só os afastavam. Percebia sofrimento dos
dois lados. Percebia muito amor sem manifestação harmoniosa. Procurei traduzir
isso a ele.
Ele
ouvia tudo atentamente. As lágrimas eram contidas como se não tivesse o direito
de chorar. Era um garoto ferido e cheio de dúvidas do amor dos pais.
Pensava
na situação e percebia que tinha na minha frente um rapaz prestes a escorregar
pelas mãos dos pais. Estava tão magoado que não sentia vontade de vê-los.
A
medida que conversávamos veia a fala mais surpreendente: “Fabíola, quero muito
poder trabalhar com meus pais. Sinto que eles gastam muito comigo e preciso
retribuir.”
Neste
momento ele encheu os olhos de lágrima. Percebi, claramente, que havia muito
amor mal resolvido. A dor era exatamente pela contradição: rejeição X desejo de
união; raiva X vontade de estar junto.
Propus
um encontro com os pais. Ofereci mediar essa conversa. Mostrei que eu
conseguiria sensibilizar os três para reconstrução desta relação familiar. Ele
se animou. Já queria marcar. O acalmei e expliquei que o próximo passo seria o
meu encontro só com os pais e depois os três.
Gabriel,
sim esse é o nome do rapaz, Gabriel aceitou o movimento que propus. A sessão
havia terminado e ele não consegui se levantar. Queria falar mais e mais. Eu
permiti. Ele merecia essa oportunidade. Eu estava diante de um jovem diferente,
mas que enfrentava as situações recorrentes da idade dele. Eram necessários
pequenos ajustes para tudo ficar bem.
Liguei
para os pais. Expliquei que era necessário encontrarmos na próxima semana. Os
pais ficaram muito curiosos. Percebi que também desejavam um novo ciclo nessa
relação.
Estou
aguardando o agendamento. Meu coração está em festa. Afeiçoei pelo Gabriel. Ele
me envolveu com seus encantos e dores. Quero poder fazer a diferença na vida
dessa família. Estou ansiosa por este encontro.
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