Não temos
controle sobre nada, certo? Como preparar a sua criança para essa realidade?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga-
Psicopedagoga
Terapeuta
de Família e Casais
Recebi um
pai aflito por perceber que o filho tem experiências virtuais inesperadas. E para
piorar, o filho se decepcionou. A criança tinha a impressão de que podia
controlar suas ações e as ações do outro e deparou-se com a fragilidade ao
perceber que não controlamos nada e muito menos alguém.
Pai e
filho inertes na minha frente, buscando ajuda para lidar com a frustração. Pai,
pela decepção de se perceber alheio ao que o filho fazia. Criança, apavorada
por se ver refém de outra pessoa. Como
ensinar a eles que a vida prega esta peça: pensamos que dominamos tudo, mas na
verdade, não controlamos nada?
Calmamente
fui me inteirando de detalhes. Precisava entender o todo. A cada partilha,
percebia duas pessoas encolhidas na poltrona. De repente, o pai solta a seguinte
frase: “Uma modernidade que passa essa rasteira.” Busquei entender a essência
dessa frase. O pai se culpava por não ter percebido que as ferramentas
oferecidas ao filho, dentro de casa e em suas mãos (o mesmo, aos 8 anos,
possuía um aparelho celular de último modelo), tinham possibilitado que o filho
precocemente se envolvesse com algo tão assustador.
Agora esta
criança não sabia o que fazer com o sentimento despertado. E o pai? Também não.
Estavam reféns, fora do conforto que o “controle” aparentemente oferecia. E
qual era a situação?
A criança
tão pequena, com vocabulário tão aprimorado, havia entrado em um comércio
virtual de compra e venda de jogos. Seduzida pelo dinheiro fácil e com a sua
mesada significativa ( para não dizer exagerada para uma criança), ela foi
facilmente atraída para “o mundo de negócios”.
Acontece
que “este mundo” não trouxe apenas a transação monetária. Junto com este
movimento, a criança se encantou e foi seduzida por um adulto sexualmente. E
ela acreditava que estava apaixonada e namorando este rapaz. Já se dizia, aos 8
anos, que estava segura de sua opção sexual.
Aprofundando
mais no assunto com ambos, percebi no pai, além do peso da culpa, o medo do
campo desconhecido. Já a criança, à medida que eu a levava a pensar sobre cada
passo que ela trilhou, adquiriu uma postura na poltrona que ia mudando de
encolhimento para projeção corporal em minha direção. Ambos estavam ansiosos
por entender o que acontecia com eles.
À medida
que fui mostrando que o controle que eles achavam que possuíam, pai achando que
sabia tudo sobre o filho e o filho acreditando que tinha maturidade para tudo
que fazia, na verdade, não existia e precisavam assumir isso e se abrirem para
ajuda, ambos me encaravam e olhavam como se pedissem socorro.
Outra
estratégia foi trabalhar a culpa e a vergonha. Mostrar para eles que esses
sentimentos estavam controlando-os, e aí sim, existe controle, permitiu abrir ainda
mais o canal de escuta para trilharmos um novo caminhar.
O atendimento
se encerra com a clareza de que o pai precisava aproximar-se deste filho com
uma presença de diálogo, redução de favorecimentos materiais e uma partilha de
convivência mais efetiva. E à criança, com a certeza de que precisava ser
pertencente ao mundo apropriado a sua idade.
Claro que
este foi apenas o “pontapé” para um novo ciclo. Deixei muito claro a ambos que
novos hábitos teriam que ser formados e isso iria requerer esforço e desejo de
mudança.
O meu desejo
com este relato é alertar às famílias que o falso controle está muito presente
em nossa vida. Que possamos abrir nossa mente para a compreensão de que
controlar não é possível, mas se fazer presente, orientar, acompanhar, acolher,
ajudar é o nosso papel.
Gostaria,
também, de orientar aos pais que se interessem pelo que os filhos estão fazendo: o que acessam na
Internet; o que negociam; onde gastam o dinheiro que ganham em mesadas ou datas
comemorativas; por onde têm “andado” no mundo real e virtual. Encantar-se com
filhos “empreendedores” é fácil. Agora, interessar-se em acompanhar o passo a
passo de seu empreendedorismo é o segredo. Com quem estão negociando? Quem tem
o controle? Controle! Controle?
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