segunda-feira, 3 de junho de 2019

Criança não namora




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Criança não namora

Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

            Uma campanha que tem repercutido e chegado até os nossos pequenos.  Que bom! Chegou até eles e eles estão curiosos quanto aos motivos pelos quais uma criança não pode namorar. Mas esta preocupação ou vocabulário deveria estar “rolando” entre eles? É, está sim.
            “Uma criança pequena pode namorar? ” Perguntou Diego (nome fictício), ao me encontrar. Criança pequena para ele significava criança da idade dele, exatos 6 anos. Ao ver aqueles olhinhos cheios de vontade de obter a “resposta ideal”, sentei-me a seu lado e perguntei: Diego, o que é namorar?
            Aquela criança cheia de alegria me disse que namorar é ter uma amiga do coração.  Voltei a perguntar, afinal precisava entender o que o incomodava. Ele me explicou que amiga do coração era aquela amiga que a gente namora.  Entendeu?
            Com um sorriso interno diante de tamanha pureza, expliquei que, entre crianças, a amiga do coração é uma amiga de quem a gente gosta mais, mas que não vira namorada. Falei sobre empatia (claro que na linguagem dele) e carisma.
            À medida que íamos conversando, ele ia se ajeitando na cadeira. Eu percebia que a apreensão com que ele chegara estava passando no conforto das trocas de palavras. Ao percebê-lo mais tranquilo, eu perguntei por que ele queria saber se criança namora. Foi, então, que ele me disse que o aniversário estava chegando, que iam cantar o “com quem será” e ele não queria que falassem o nome da Sofia (nome fictício). Ele disse que tinha medo de ela se chatear e deixar de ser amiga dele.
            Diego estava sofrendo por algo que deveria ser só alegria: sua festa de aniversário. E quantas vezes agimos assim com as nossas crianças: antecipando fases; não respeitando as vontades; expondo seus sentimentos mais secretos?
            Brincar de namorar, espontaneamente, é comum sim. É uma imitação do mundo adulto assim como brincar de escolinha, de casinha, etc. E é totalmente saudável. A questão é quando os adultos interferem e incentivam. Exemplo: “Filho, sua namorada chegou.” Um pai falando de uma amiguinha que acabara de entrar na festa do aniversário.
            E quando a criança chega em casa contando que está namorando? Interesse-se pelo assunto. Faça perguntas. “Namorando? Como é namorar?” Ao contar o que fazem, repita dando ênfase à brincadeira e amizade: “Que legal, você gosta de brincar com a amiga Sofia!”. “Que lindo, filha, você ajudou seu amigo a abrir a lancheira”. Reforce que na idade em que está, não é namoro, é amizade, porque criança não namora.
            Por que será que surgiram tantas campanhas sobre este assunto? Acredito que os pais e os profissionais estão vendo o reflexo desta precocidade em seus lares, escolas e consultórios. Estão percebendo crianças erotizadas, adultizadas, preocupadas com aparência, escravas da opinião alheia e muito tristes quando não correspondidas. Isso é muito sério.             Deparamos com crianças preocupadas com a imagem corporal e com muita distorção da imagem. Muitas se alimentando mal e perdendo a saúde em prol de uma ditadura corporal.
            Precisamos permitir a nossas crianças se relacionarem livremente. Precisam conhecer os amigos, aprender a respeitá-los, lidar com as diferenças e, nesta troca, evoluírem. Enquanto alguns adultos estão apenas “se divertindo” com as tiradas das crianças ou os embaraços com que elas ficam diante da afirmação de namoro, estamos criando, desnecessariamente, situações que as tiram da naturalidade e da convivência social saudável. Antecipando uma fase sem que as mesmas tenham maturidade para lidar. Gerando crianças expostas à aceitação ou não aceitação do outro tão precocemente.
            Para fazer escolhas da pessoa que irá ser companheira e que receberá o título de namorado ou namorada, a criança precisa ter estrutura emocional que gere amor próprio. Precisa primeiro se namorar. Primeiro atender a suas demandas internas. Ser estimulada a atender expectativas alheias é um grande erro. Eu me amo e assim saberei amar o outro.
            Você tem se preocupada em dar estrutura emocional a seu filho? O que você tem feito para que ele aprenda a se amar? Você conhece as demandas emocionais de sua criança?
            Antes de pensar em incentivá-la a se encantar pelo outro, ensine-a a se encantar por si mesma.        

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