Criança
não namora
Fabíola Sperandio
Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Uma campanha
que tem repercutido e chegado até os nossos pequenos. Que bom! Chegou até eles e eles estão
curiosos quanto aos motivos pelos quais uma criança não pode namorar. Mas esta
preocupação ou vocabulário deveria estar “rolando” entre eles? É, está sim.
“Uma criança
pequena pode namorar? ” Perguntou Diego (nome fictício), ao me encontrar.
Criança pequena para ele significava criança da idade dele, exatos 6 anos. Ao
ver aqueles olhinhos cheios de vontade de obter a “resposta ideal”, sentei-me a
seu lado e perguntei: Diego, o que é namorar?
Aquela
criança cheia de alegria me disse que namorar é ter uma amiga do coração. Voltei a perguntar, afinal precisava entender
o que o incomodava. Ele me explicou que amiga do coração era aquela amiga que a
gente namora. Entendeu?
Com um
sorriso interno diante de tamanha pureza, expliquei que, entre crianças, a
amiga do coração é uma amiga de quem a gente gosta mais, mas que não vira
namorada. Falei sobre empatia (claro que na linguagem dele) e carisma.
À medida que
íamos conversando, ele ia se ajeitando na cadeira. Eu percebia que a apreensão com
que ele chegara estava passando no conforto das trocas de palavras. Ao
percebê-lo mais tranquilo, eu perguntei por que ele queria saber se criança
namora. Foi, então, que ele me disse que o aniversário estava chegando, que iam
cantar o “com quem será” e ele não queria que falassem o nome da Sofia (nome
fictício). Ele disse que tinha medo de ela se chatear e deixar de ser amiga
dele.
Diego estava
sofrendo por algo que deveria ser só alegria: sua festa de aniversário. E
quantas vezes agimos assim com as nossas crianças: antecipando fases; não
respeitando as vontades; expondo seus sentimentos mais secretos?
Brincar de
namorar, espontaneamente, é comum sim. É uma imitação do mundo adulto assim
como brincar de escolinha, de casinha, etc. E é totalmente saudável. A questão
é quando os adultos interferem e incentivam. Exemplo: “Filho, sua namorada
chegou.” Um pai falando de uma amiguinha que acabara de entrar na festa do
aniversário.
E quando a
criança chega em casa contando que está namorando? Interesse-se pelo assunto.
Faça perguntas. “Namorando? Como é namorar?” Ao contar o que fazem, repita
dando ênfase à brincadeira e amizade: “Que legal, você gosta de brincar com a
amiga Sofia!”. “Que lindo, filha, você ajudou seu amigo a abrir a lancheira”.
Reforce que na idade em que está, não é namoro, é amizade, porque criança não
namora.
Por que será
que surgiram tantas campanhas sobre este assunto? Acredito que os pais e os
profissionais estão vendo o reflexo desta precocidade em seus lares, escolas e
consultórios. Estão percebendo crianças erotizadas, adultizadas, preocupadas
com aparência, escravas da opinião alheia e muito tristes quando não
correspondidas. Isso é muito sério. Deparamos
com crianças preocupadas com a imagem corporal e com muita distorção da imagem.
Muitas se alimentando mal e perdendo a saúde em prol de uma ditadura corporal.
Precisamos
permitir a nossas crianças se relacionarem livremente. Precisam conhecer os
amigos, aprender a respeitá-los, lidar com as diferenças e, nesta troca,
evoluírem. Enquanto alguns adultos estão apenas “se divertindo” com as tiradas
das crianças ou os embaraços com que elas ficam diante da afirmação de namoro, estamos
criando, desnecessariamente, situações que as tiram da naturalidade e da
convivência social saudável. Antecipando uma fase sem que as mesmas tenham
maturidade para lidar. Gerando crianças expostas à aceitação ou não aceitação
do outro tão precocemente.
Para fazer
escolhas da pessoa que irá ser companheira e que receberá o título de namorado
ou namorada, a criança precisa ter estrutura emocional que gere amor próprio.
Precisa primeiro se namorar. Primeiro atender a suas demandas internas. Ser
estimulada a atender expectativas alheias é um grande erro. Eu me amo e assim
saberei amar o outro.
Você tem se
preocupada em dar estrutura emocional a seu filho? O que você tem feito para
que ele aprenda a se amar? Você conhece as demandas emocionais de sua criança?
Antes de
pensar em incentivá-la a se encantar pelo outro, ensine-a a se encantar por si
mesma.
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