“Eu
prefiro amigos virtuais, Fabíola!”
Fabiola Sperandio T. do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de família e Casais
Assim
começou o diálogo com uma jovem de apenas 12 anos. Como assim prefere amigos virtuais? Ela tem
amigos virtuais aos 12 anos? Preocupei. Grudei meu olhar nela e prestei atenção
em cada palavra. Ela prefere amigos virtuais, mas estava aqui comigo sedenta de
vontade falar e adorava quando eu a tocava.
A narrativa foi longa. Ela não se
cansava. Ofereci água para ver se tinha uma pausa, porém a danadinha falava sem
parar. E o que tanto falava? Então,
estava confusa. Embora iniciara com a fala afirmando que preferia amigos
virtuais, na verdade, sentia-se tão sozinha e desejosa de ter amigos
presenciais. Pode isso? A maior queixa era a perda da confiança das amigas. Não
conseguir lidar com o afastamento.
Naquele momento, percebi que os amigos
virtuais eram a fuga. Sobre os amigos virtuais, a gente tem controle. Basta dar
um “clique” e deixamos de falar com eles. Basta dizer: “Vou ter que desligar” e
nos afastamos. Os presenciais eu preciso enfrentar mais de perto.
Comecei trabalhando por aí mesmo. Ela não
percebia esse movimento inconsciente de domínio. Assim como não percebia o
domínio das colegas presenciais em relação aos seus sentimentos. Uma judiação,
tamanha dor e isolamento.
É exatamente aí que mora o perigo.
Fragilizada por não ter controle sobre as suas emoções, desprovida de recursos
para enfrentar o conflito com as amigas, torna-se um alvo fácil para as
relações à distância.
Amigos fazem um bem enorme porque é
nessa relação que aprendemos a nos conhecer e a conhecer os outros. E nessa
troca que aprendemos e evoluímos. Ter bons amigos nos faz viver melhor e ter
forças para enfrentar os desafios. Agora, vamos pensar um pouco: neste século no
qual as redes sociais e os jogos interativos online possibilitam ao indivíduo
ter milhares de “amigos”, que te estimulam com cada “curtida” ou “likes”
mexendo com o ego, envolvendo uma gama de desconhecidos, como uma criança ou
adolescente saberá lidar com isso se nem os adultos estão sabendo?
Sabe aqueles amigos que conservamos
desde a época da escola e nos acompanham até a vida adulta? Será que essa
geração está sabendo cultivar isso? Terão esses amigos? E são esses mesmos
amigos que promoverão o bem-estar de que necessitamos quando estamos inseguros,
carentes ou confusos. São esses amigos que nos despertam quando estamos
entrando em uma “roubada”.
A amizade nos faz ser solidários,
generosos, empáticos e muito mais. Basta experimentar dividir uma situação com
um amigo verdadeiro que verá ele mover o mundo para ajudar a resolver. E os
amigos virtuais? Bom, se for gerar curtidas e popularidade virtual, eles até se
movem. Mas o que precisamos não são de “curtidas”. Precisamos sentir o amor
próximo através do aconchego, do abraço e do cheiro que o amigo tem.
E como despertar o desejo de nossos
filhos em ter amigos presenciais?
Devemos ensinar-lhes a não desistir dos
amigos porque tiveram um desentendimento, porque foram contrariados ou
rejeitados momentaneamente. Isso faz parte do processo. Precisamos gerar situações de encontro.
Momentos de aproximação: sessão de filme em casa, momentos ao ar livre juntos
de bicicleta, lanche em uma tarde na varanda com muita contação de história, um
final de semana em uma chácara, uma noite do pijama amanhecendo contando
causos.
Precisamos ensinar aos nossos filhos a
beleza e a doçura de ter companheiros. Que é muito bom trocar ideia e brincar
juntos. Que a sensação de não ser só prolonga a nossa vida e nos faz querer
repetir o encontro.
Somos responsáveis por afastar nossos
filhos das armadilhas do isolamento. Pensem nisso!
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