segunda-feira, 3 de junho de 2019

“Eu prefiro amigos virtuais, Fabíola!”



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“Eu prefiro amigos virtuais, Fabíola!”


Fabiola Sperandio T. do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de família e Casais


         Assim começou o diálogo com uma jovem de apenas 12 anos.  Como assim prefere amigos virtuais? Ela tem amigos virtuais aos 12 anos? Preocupei. Grudei meu olhar nela e prestei atenção em cada palavra. Ela prefere amigos virtuais, mas estava aqui comigo sedenta de vontade falar e adorava quando eu a tocava.
        A narrativa foi longa. Ela não se cansava. Ofereci água para ver se tinha uma pausa, porém a danadinha falava sem parar. E o que tanto falava?  Então, estava confusa. Embora iniciara com a fala afirmando que preferia amigos virtuais, na verdade, sentia-se tão sozinha e desejosa de ter amigos presenciais. Pode isso? A maior queixa era a perda da confiança das amigas. Não conseguir lidar com o afastamento.
        Naquele momento, percebi que os amigos virtuais eram a fuga. Sobre os amigos virtuais, a gente tem controle. Basta dar um “clique” e deixamos de falar com eles. Basta dizer: “Vou ter que desligar” e nos afastamos. Os presenciais eu preciso enfrentar mais de perto.
        Comecei trabalhando por aí mesmo. Ela não percebia esse movimento inconsciente de domínio. Assim como não percebia o domínio das colegas presenciais em relação aos seus sentimentos. Uma judiação, tamanha dor e isolamento.
        É exatamente aí que mora o perigo. Fragilizada por não ter controle sobre as suas emoções, desprovida de recursos para enfrentar o conflito com as amigas, torna-se um alvo fácil para as relações à distância.
        Amigos fazem um bem enorme porque é nessa relação que aprendemos a nos conhecer e a conhecer os outros. E nessa troca que aprendemos e evoluímos. Ter bons amigos nos faz viver melhor e ter forças para enfrentar os desafios. Agora, vamos pensar um pouco: neste século no qual as redes sociais e os jogos interativos online possibilitam ao indivíduo ter milhares de “amigos”, que te estimulam com cada “curtida” ou “likes” mexendo com o ego, envolvendo uma gama de desconhecidos, como uma criança ou adolescente saberá lidar com isso se nem os adultos estão sabendo?
        Sabe aqueles amigos que conservamos desde a época da escola e nos acompanham até a vida adulta? Será que essa geração está sabendo cultivar isso? Terão esses amigos? E são esses mesmos amigos que promoverão o bem-estar de que necessitamos quando estamos inseguros, carentes ou confusos. São esses amigos que nos despertam quando estamos entrando em uma “roubada”.
        A amizade nos faz ser solidários, generosos, empáticos e muito mais. Basta experimentar dividir uma situação com um amigo verdadeiro que verá ele mover o mundo para ajudar a resolver. E os amigos virtuais? Bom, se for gerar curtidas e popularidade virtual, eles até se movem. Mas o que precisamos não são de “curtidas”. Precisamos sentir o amor próximo através do aconchego, do abraço e do cheiro que o amigo tem.
        E como despertar o desejo de nossos filhos em ter amigos presenciais?
        Devemos ensinar-lhes a não desistir dos amigos porque tiveram um desentendimento, porque foram contrariados ou rejeitados momentaneamente. Isso faz parte do processo.  Precisamos gerar situações de encontro. Momentos de aproximação: sessão de filme em casa, momentos ao ar livre juntos de bicicleta, lanche em uma tarde na varanda com muita contação de história, um final de semana em uma chácara, uma noite do pijama amanhecendo contando causos.
        Precisamos ensinar aos nossos filhos a beleza e a doçura de ter companheiros. Que é muito bom trocar ideia e brincar juntos. Que a sensação de não ser só prolonga a nossa vida e nos faz querer repetir o encontro.
        Somos responsáveis por afastar nossos filhos das armadilhas do isolamento. Pensem nisso!

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