Meu pai compete comigo o amor da minha filha
Fabiola
Sperandio Teixeira
Pedagoga-
Psicopedagoga
Terapeuta de
Família e Casais
De repente, um pedido
de socorro. Um pai aflito por perceber que o avô de sua filha está disputando
com ele o amor. Não sabe como agir, pois o avô é o seu pai. E a relação dos
seus filhos com este avô é bem estreita e diária, uma vez que o mesmo o ajuda
ficando com as crianças enquanto ele e sua esposa trabalham.
O pai
não quer magoar o seu pai, mas precisa pontuar que não está legal esse jeito de
agir. No desabafo, ele mostra muita dor e preocupação.
Comecei
mostrando que precisamos entender que os amores são diferentes. Que um amor não
se sobrepõe ao outro. Que ambos poderiam usufruir do amor dessa pequena sem
medidas. Sem medidas? Sim! No sentido de amar sem medo, mas não medir quem ela ama mais.
Aí
percebi uma tristeza no olhar do pai. Ele narrou que o pai dele, avô da linda
menina, sente enorme prazer em provocar situações nas quais os coloca em
disputa e ela opta por ele. Dessa forma, deixa o pai desconfortável e perdido.
Acolhi
este pai. Mostrei que temos que nos alegrar sempre que alguém ama nossos filhos,
no entanto, é necessário colocar limites, porque essa competição não é saudável
para criança. A criança deve ficar em uma situação muito difícil em ter que
demonstrar por quem tem mais apego. Afinal, um é o pai e outro é o avô.
Propus
uma conversa franca com todos. O avô acabava por ficar em vantagem, já que
passava o dia todo com ela e, estando fora do papel de pai, acabava por
favorecer uma relação sem limite. Era o avô do brincar, passear, rir e divertir-se.
Já o pai, como figura educadora, cabia a ele impor limites e correções. Claro que a criança se aproveitará dessa
diferença de papéis.
De
repente, após algumas reflexões, o pai me pergunta como agir quando a criança
se recusa a vir com ele e, ao olhar a face do pai (avô paterno dela), vê um largo sorriso
autorizando a birra. Naquele momento, pude sentir a dor desse jovem pai. Ele
não queria magoar o seu genitor, todavia também não podia autorizar tamanha
“afronta”.
Olhei fixamente
nos olhos dele e disse: Nesse momento, não aja com força física nem com tom de
voz de autoritarismo. Lembre-se de que esse avô não faz por mal, respire e mude
a estratégia. Aja com segurança, mas com “disfarce da sua indignação”. Peça ao
avô para colocá-la na cadeirinha enquanto “bebe água”. Assim, caberá ao avô
ajeitar a criança no carro passando uma mensagem para a neta de que está na
hora de ir.
Procurei
mostrar a esse pai que era necessária uma conversa franca e adulta entre eles.
Por mais que já houvesse tentado, deveria insistir. Mostrar gratidão pelo que o
pai faz pela família e dizer que admira o amor dos dois e que esse amor não
precisa ser medido, somente sentido. Não precisa ser mostrado, apenas
experimentado. Não precisa ser colocado à prova pela pequena em toda despedida.
Outro
ponto a pensar junto com esse avô dedicado é que a linda menina fica em uma
“saia justa” com essa atitude. Afinal, o papai dela também é amado e se ele não
pode oferecer a mesma quantidade de tempo para ela, é pelo mesmo motivo que,
quando esse avô era pai dele, também não podia dedicar com ele por ser o
provedor, por estar no auge de sua vida de trabalho.
Os
avós geralmente são mais liberais porque podem, nesta fase da vida, serem
apenas avós, não precisam exercer o papel de educar, uma vez que já cumpriram
esse papel com os filhos. Porém podem usufruir desse direito, mas não chegar ao
ponto de prejudicar a relação dos seus filhos com os filhos, entende?
A
relação com os avós é tão importante e delicada que, em uma situação diferente,
eu me dediquei à escrita do artigo https://ludovica.opopular.com.br/blogs/educar-faz-parte/educar-faz-parte-1.962126/n%C3%A3o-quero-encontrar-a-vov%C3%B3-mam%C3%A3e-1.1319599
.
Reflexões
importantes para relação da família nuclear (formada com a união com o
companheiro (a) e com a família de origem (de onde viemos):
- ·
A cada relação se
constrói um tipo de amor: amor de pai, amor de mãe, amor de avô, amor de avó,
amor de amigos, etc;
- ·
Não deve medir o amor,
afinal cada um não é diferente? Nem mais, nem menos, apenas diferente;
- ·
Os avós precisam ser
solidários com seus filhos compreendendo que este é o momento profissional e
que por este motivo o tempo destinado aos filhos é diferente do tempo que eles
podem destinar aos netos;
- ·
A criança sofre quando
percebe a expectativa de um dos seus amados em obter um amor maior dela.
Permita que ela experimente amar sem medidas. Ensine-a os vários amores para
que ela não precise ser disputada ou disputar;
- ·
Entendam que todo esse
movimento de exibir amor gera um desamor. Não compensa, então.
·
Encare a situação por
papéis. Papéis diferentes, ações diferentes. Ações diferentes sem envolver quem
ama mais ou menos. Ensinar as crianças os papeis diferentes a favorecerá na
relação com o mundo. Afinal, não estamos preparando as nossas crianças para enfrentar
o mundo?
·
Mostrem o que é
família. Que família é um conjunto de pessoas que convivem em amor e harmonia.
Que possuem alguns desencontros de pensamentos ou ações, mas se respeitam em
amor. Amanhã essa criança repetirá o exemplo.
·
E por último, ensine
hierarquia. Os pais são as autoridades máximas. Se os avós burlam essa
autoridade estão ensinando os seus netos a não respeitar nenhuma autoridade.
Amanhã não respeitarão chefias, autoridade policial, judiciária...
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