O lado
bom da crise econômica na formação das nossas crianças.
Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
O
momento é delicado, sofrido e muitas vezes desperta sentimentos ruins em nós:
crise econômica! Como lidar com essa crise sem que afetemos tanto as nossas
crianças? Elas são capazes de entender e aprender, basta sabedoria de nossa
parte. E como adquirir sabedoria em um momento a que também estamos nos
adaptando?
Tudo
que surge em nosso mundo adulto precisa ser refletido e digerido antes de
deixar as crianças participarem. Hoje presencio pais se aconselhando com as
crianças. Triste, né? Com isso nossas crianças estão sendo obrigadas a
amadurecerem muito cedo, sem o mínimo preparo cognitivo e emocional.
A
crise econômica está aí para nos desafiar em nossa missão de sermos pais
assertivos. Se encararmos todas as situações como oportunidades de ensinar algo
para os nossos filhos, essa missão se tornará menos pesada.
O
primeiro passo é rever os nossos próprios valores, afinal só conseguimos fazer
com que o outro entenda o que ensinamos se estamos seguros em nossa fala e se a
nossa prática corresponde com a nossa teoria. Então, nada de “pregar” o que não
irá fazer como exemplo.
Desenvolver
o conceito do que é necessário e o que é desejo será o nosso segundo passo. Explico:
a criança precisa desenvolver o conceito do que ela necessita e do que é uma
simples vontade ou modismo. Se exercitamos esse pensar, teremos muitas chances
de promover a sua formação voltada para o SER, totalmente desfocada do TER.
Os
pais muitas vezes afoitos em gerar momentos felizes aos nossos filhos, acabam
por comprar o que ela aponta em uma determinada loja sem ao menos refletir se é
algo que contribuirá para o desenvolvimento de seu filho ou algo que irá
alegrá-la momentaneamente. Já perceberam que o interesse da criança passa
rápido? Mudar o foco da compra pode ser um bom exercício para a sua percepção.
Você irá perceber que o interesse muitas vezes é momentâneo e por isso ela
abandona tão rapidamente o brinquedo adquirido e já parte para pedir outro. Ela
aprende a ter prazer em comprar e não em brincar. Nasce então, mais um
consumista neste mundo tão recheado de pessoas focadas no ter e aparecer.
Ter
e aparecer? É, infelizmente, nossos bebês estão aprendendo a comprar e mostrar.
Ele sente prazer em comprar, depois sente prazer nos comentários sobre o que
comprou e, quase que imediatamente deseja ter esse prazer de novo. Pareceu
viciante? Verdade! Consumismo vicia. Queremos
nossos pequenos viciados em prazeres breves? JAMAIS ! Hoje o prazer é em TER e
amanhã? Prefiro nem imaginar os vícios que poderão surgir para gerar pequenas
satisfações.
Outra
situação muito vivenciada nos dias de hoje é a compensação de algo que a
criança fez com dinheiro. A criança ajudou em casa, recebe dinheiro. Tirou nota
alta? Lá vem mais um dinheirinho. Essa atitude da recompensa financeira tem
gerado crianças muito focadas no dar para receber. Faço se me pagar. Estamos
transformando, sem querer, os nossos filhos em verdadeiros avarentos,
completamente focados no dinheiro. E como recompensar financeiramente em tempos
de crise? Pois é, se eles aprenderam a colaborar se receberem dinheiro, como
irão colaborar com o economizar?
Por
isso devemos cuidar muito da educação de nossos filhos voltada para a formação de
um pensar consciente, mostrando os valores importantes da família focados na
contribuição dos deveres e rotinas familiares, na importância da reflexão sobre
aquisições que envolvam finanças, mostrar o que é importante para família e o
que é vontade de consumir, falando sobre o momento de adquirir e o momento de
retrair.
Falar
sobre o momento econômico do país, explicar sobre políticas públicas e destilar
toda a sua ira sobre o atual momento não construirão absolutamente em nada no
crescimento da criança, ela se sentirá impotente e não poderá mudar esse
quadro, é distante dela essa realidade. Fazê-la entender a “crise econômica” ou
o momento de prosperidade será essencial para que ela cresça equilibrada e
certa de como agir consciente e madura nesse mundo que a impulsiona a cada
segundo a ser uma consumidora compulsiva.
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