segunda-feira, 3 de junho de 2019

“Mamãe, estou amando!”




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“Mamãe, estou amando!”

Fabiola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e casais


            Pedro, um menino tímido de 6 anos, chega até a sua mãe e diz: ”Mamãe, acho que estou amando!” Sua mãe larga tudo e pede para ele repetir: “O que você disse? Você acha que é gente? Acha mesmo que é grande? Larga mão dessa conversa boba e vai caçar o que fazer!”

            Pedro abaixa a cabeça e sai de perto de sua mãe, mas leva consigo a sua sensação mágica de estar enamorado. A mãe, por sua vez, continua os seus afazeres acreditando que o assunto estava encerrado. Como se a sua fala fosse determinante para apagar tal sentimento.
            Pedro passa a ficar isolado, recluso em seu mundo e sem a menor disposição para nada.
Após uma semana de má alimentação e reclusão, o menino apaixonado apresenta sinais de estar adoecido. A mãe ocupada leva o filho ao médico. Uma consulta breve acompanhada com vários pedidos de exame.
            O retorno ao médico foi marcado, e há um mês Pedro não muda seu quadro. Os exames estão perfeitos. O garoto está em plena saúde física. Encucado com o estado da criança, o médico resolve dar voz a ele.
As perguntas começam sobre a alimentação, as atividades físicas, a rotina. Pedro olha nos olhos do médico e pergunta: “O senhor é doutor do coração?” O médico explica que é pediatra. Pedro dá um leve sorriso, o primeiro após dias e diz: “Ah, por isso você não sabe o que eu tenho.”
O médico se interessa pelo caso e a criança se agrada com a atenção recebida. Dessa forma, ele se confidenciou, estava no fundo com a dor do coração por amar uma colega.
Naquele momento, sua mãe relembra, “o diálogo” e percebe que precisa rever sua postura. Saem do consultório e batem em minha porta. Toda essa narrativa é exposta.
Encontro-me com o Pedro. Ele é tímido, mas muito afetuoso. Conversamos e ele, com lágrimas nos olhos, conta a dor que sentiu no diálogo com a mãe. Organizamos o ocorrido como uma linha do tempo e refletimos. Procurei mostrar a ele os motivos da reação da mãe.
Em um outro momento, refleti com a mãe sobre o distanciamento causado com a sua reação. Embora a acolho e entendo o seu susto, mostro-lhe como é importante nos preparar para ouvir e reagir com cuidado.Não concordar com namoro na idade de Pedro é perfeitamente aceitável, entretanto a forma de lidar com a situação precisa ser analisada.
Nossos filhos precisam ser acolhidos e orientados. Dar liberdade para falar sobre qualquer tema permitirá a aproximação e a confiança. Demandas cada vez mais precoce têm batido em nossas portas. Pedro interpretou os seus sentimentos, de acordo com os seus conteúdos internos. Baseou-se em conceitos sobre o que é amar.
Mostrar a ele que pode amar a colega como amiga próxima ou preferida tirou a dor que sentia. Entendeu que amá-la não significava ter gestos e ações adultas de enamorados.
A mãe, por sua vez, também compreendeu que apenas estava confuso diante dos estímulos do mundo. E que o papel dos genitores é mostrar a sua opinião sobre o que é melhor para a sua família em cada momento.
Pedro sarou das consequências físicas. A sua mãe aliviou e aprendeu. Pedro continua amando a colega, amando a sua mãe e agora me ama também.

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