“Mamãe, estou amando!”
Fabiola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e casais
Pedro, um menino tímido de 6 anos,
chega até a sua mãe e diz: ”Mamãe, acho que estou amando!” Sua mãe larga tudo e
pede para ele repetir: “O que você disse? Você acha que é gente? Acha mesmo que
é grande? Larga mão dessa conversa boba e vai caçar o que fazer!”
Pedro abaixa a cabeça e sai de perto
de sua mãe, mas leva consigo a sua sensação mágica de estar enamorado. A mãe,
por sua vez, continua os seus afazeres acreditando que o assunto estava
encerrado. Como se a sua fala fosse determinante para apagar tal sentimento.
Pedro passa a ficar isolado, recluso
em seu mundo e sem a menor disposição para nada.
Após
uma semana de má alimentação e reclusão, o menino apaixonado apresenta sinais
de estar adoecido. A mãe ocupada leva o filho ao médico. Uma consulta breve
acompanhada com vários pedidos de exame.
O retorno ao médico foi marcado, e
há um mês Pedro não muda seu quadro. Os exames estão perfeitos. O garoto está
em plena saúde física. Encucado com o estado da criança, o médico resolve dar
voz a ele.
As
perguntas começam sobre a alimentação, as atividades físicas, a rotina. Pedro
olha nos olhos do médico e pergunta: “O senhor é doutor do coração?” O médico
explica que é pediatra. Pedro dá um leve sorriso, o primeiro após dias e diz:
“Ah, por isso você não sabe o que eu tenho.”
O
médico se interessa pelo caso e a criança se agrada com a atenção recebida.
Dessa forma, ele se confidenciou, estava no fundo com a dor do coração por amar
uma colega.
Naquele
momento, sua mãe relembra, “o diálogo” e percebe que precisa rever sua postura.
Saem do consultório e batem em minha porta. Toda essa narrativa é exposta.
Encontro-me
com o Pedro. Ele é tímido, mas muito afetuoso. Conversamos e ele, com lágrimas
nos olhos, conta a dor que sentiu no diálogo com a mãe. Organizamos o ocorrido
como uma linha do tempo e refletimos. Procurei mostrar a ele os motivos da reação
da mãe.
Em
um outro momento, refleti com a mãe sobre o distanciamento causado com a sua
reação. Embora a acolho e entendo o seu susto, mostro-lhe como é importante nos
preparar para ouvir e reagir com cuidado.Não concordar com namoro na idade de
Pedro é perfeitamente aceitável, entretanto a forma de lidar com a situação
precisa ser analisada.
Nossos
filhos precisam ser acolhidos e orientados. Dar liberdade para falar sobre
qualquer tema permitirá a aproximação e a confiança. Demandas cada vez mais precoce
têm batido em nossas portas. Pedro interpretou os seus sentimentos, de acordo
com os seus conteúdos internos. Baseou-se em conceitos sobre o que é amar.
Mostrar
a ele que pode amar a colega como amiga próxima ou preferida tirou a dor que
sentia. Entendeu que amá-la não significava ter gestos e ações adultas de
enamorados.
A
mãe, por sua vez, também compreendeu que apenas estava confuso diante dos
estímulos do mundo. E que o papel dos genitores é mostrar a sua opinião sobre o
que é melhor para a sua família em cada momento.
Pedro
sarou das consequências físicas. A sua mãe aliviou e aprendeu. Pedro continua
amando a colega, amando a sua mãe e agora me ama também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.