Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Essa
foi a frase que desestabilizou a mãe por muitas horas. A mãe não sabia o que
pensar e como agir. Ficou paralisada. Tão paralisada que não conseguiu
perguntar os motivos que levaram a filha a não querer mais se encontrar a avó.
Desta forma, foram parar em meu consultório.
Após
o estabelecimento do vínculo, fui chegando até a frase motivadora da sessão
terapêutica. Com muito jeitinho, fui traduzindo os sentimentos que levaram à
elaboração de tal frase de impacto.
A
linda garota de 7 anos estava exausta emocionalmente em razão das investigações
que a avó fazia ao encontrá-la. O desejo de estar com a avó só para ser neta,
existia. Ela ama a sua vovó, mas quando a vovó começava o “inquérito”, ela se
entristecia, sentia-se invadida e com sentimento de traição à família nuclear
(pais). Era tão desgastante que ela decidiu abrir mão do amor que sentia da vovó
com a decisão de não a ver mais.
Durante
a sessão, fui dramatizando a cena diária: ela era a vovó e eu fazia o seu
papel. Confesso que senti o mesmo desgaste. Senti muito a dor que vivia com
esta ação desta avó investigativa, invasora, curiosa e que não tinha a mínima
ideia do que desencadeava na netinha. Ficava claro nas perguntas que fazia que
o controle e a curiosidade se sobrepunham ao respeito dos sentimentos da
netinha. Por que afirmo isso? Por que a neta verbalizou para avó que não queria
responder a tantas perguntas, mas a avó não respeitou.
Esta
situação ilustra muito as relações familiares nas quais os diálogos entre os
adultos não existem ou não são suficientes para retratar acontecimentos e
utilizam as crianças para aprofundar ou investigar como anda a vida dos entes
queridos. Essa intromissão ocorre muito em famílias de pais separados. Uma ação
muito comum entre um dos pais ou demais parentes, porém também ocorre como o
retratado acima.
Crianças
não podem ser responsáveis por levarem informações ou saciarem a curiosidade de
adultos. Isso é um prejuízo emocional enorme e devemos ficar atentos. Perguntas
como: ”Seu pai está trabalhando? ”; “Sua mãe continua só dormindo? ”; “Seu pai
tem bebido? ”; “Sua mãe tem chegado tarde por causa das reuniões? ”; “Sua mãe
não faz a sua comida mais? ”; “Seu pai está namorando? ”; “Sua mãe tem saído
com quem? ”. Essa ação é muito covarde. Aquilo que o adulto não assume e
pergunta ao outro adulto, utiliza a criança sem pensar nos sentimentos que a
mesma tem por seu pai ou sua mãe. Muitas
vezes, acaba minando sentimentos ou gerando insegurança na criança pelo que se
desperta por cada indagação.
Meu
desejo aqui é despertar os adultos para a responsabilidade pelo estado
emocional de nossos pequenos. Não é justo usá-los para investigar adultos e
isso tem sido muito comum nos lares. Precisamos proteger nossas crianças do
mundo adulto e não as trazer para este mundo. Enquanto os adultos não
aprenderem a olhar suas crianças na idade que elas possuem, teremos este número
de crianças tão infelizes nas relações familiares.
As
vovós não podem querer controlar a vida de seus filhos e netos. Precisam
respeitar a dinâmica da família que constituíram. Se discordam de algo, chamem
os adultos para conversar. Tenham um diálogo maduro com filho e nora ou filha e
genro, mas bem longe das crianças.
A
tristeza da garotinha era exatamente por estar dividida entre o colo gostoso
que a vovó dava e o inquérito que a mesma fazia. Colocando na balança entre o recebido e o
dolorido, ela optou pelo afastamento. Triste, né?
Se
você identificar algo parecido em sua família, não se cale. Tenha um diálogo
reflexivo. Mostre os prejuízos que esta criança tem obtido que, com certeza, o
amor prevalecerá e o ajuste de comportamento fará bem a todos. Lute pela saúde
emocional de sua família SEMPRE. Atente-se para os sinais.
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