O papel dos avós dentro
do contexto familiar
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Diante de tanta mistura de sentimentos entre pais, filhos e
netos, resolvi escrever sobre o papel dos avós na vida familiar. Sempre ouço a queixa de mães que relatam que
suas mães estão estragando seus filhos. Algumas se mostram assustadas ou
enciumadas dizendo que a mãe é para a sua filha o que não foi para ela. Isso me
mobiliza e me instiga a um posicionamento.
Vamos pensar juntas: qual a sua rotina diante de suas
preocupações de mãe? Hoje você corre atrás do profissional, procura manter-se
estudiosa, cuida da casa, dos filhos, do esposo/companheiro. Entre tantas
atribuições, a sua principal preocupação é conseguir dar uma boa educação ao
seu filho, certo? Exatamente igual à época em que sua mãe exercia o papel de
mãe. Hoje, ela é telespectadora da própria história, repetindo através de você.
Como ela já venceu a fase dela, já galgou outro patamar, goza de tempo e
experiência para aproveitar os netos como gostaria de ter aproveitado os
filhos. Diante deste olhar, você consegue ver com mais leveza as ações de seus
pais/avós de seus filhos?
Hoje os avós querem brincar, transgredir regras, comer
livremente, divertir por três motivos: possuem tempo; podem fazer isso sem
culpa, não são os responsáveis diretos pela educação das crianças e essas ações
devolvem o espírito infantil, enche-os de energia e vitalidade.
Não é à toa que temos recordações doces, saudosas e lúdicas
dos nossos avós. O cheiro, a textura da pele, a voz ao cantarolar, as
expressões faciais ao contarem histórias, tudo isso fica muita registrado em
nossa memória. Se nos fez tão bem a ponto de suspirarmos hoje ao recordar,
porque impedir os nossos filhos de usufruírem da companhia descompromissada dos
nossos pais, seus avós?
Acontece que hoje as famílias estão olhando os avós como
parceiros da criação. Incluem-nos como coparticipantes ou até terceirizam seus
filhos aos seus pais. E ainda se veem no direito de cobrar como devem proceder
com a sua cria. Será justo isso?
Por outro lado, os avós podem ser lúdicos, brincalhões e
sapecas com seus netos, mas precisam saber a hora de falar sério também: não
desautorizar uma ordem importante dos pais, exigir que respeitem a hierarquia,
ou seja, nem 8 nem 80. Nem tanta “sapequice” com os netos, nem tanta
responsabilidade na educação.
Avós possuem amor dobrado. Como não amar o fruto do meu
fruto? É mesmo muito amor em toda esta relação. E temos a obrigação de
compreender isso. Por outro lado, os avós precisam compreender a necessidade de
colocar limites nos netos, afinal seus filhos cresceram e prosperaram exatamente
porque foram educados com regras. Então, avós, pais e netos precisam entender
que estão juntos em momentos de diretos e deveres.
Posso até assustar vocês com o que vou dizer, mas nem todos os
avós amam seus netos, assim como hoje em dia o amor incondicional dos pais anda
abalado. É, isso mesmo! Estamos deparando com avós que nem querem ser chamados
de vovó ou vovô, porque se sentem tão jovens e com uma fome de achar que a tão
falada felicidade está associada a uma vida egocêntrica, que acreditam que “cada
um que siga o seu caminho, que eles seguiram os deles”: “Filhos criados, já fiz
minha parte”. Desta forma, quem tem seus pais “babando” em seus filhos pode
comemorar por estes se fazerem tão presentes e por seus olhos brilharem a cada
vez que um netinho fala vovô ou vovó.
Avós significam enriquecimento familiar, perpetuação da
história, oportunidade de aprender a relacionar-se com mais pessoas diferentes,
experiência social, ampliação de vocabulário, valorização parental, estímulo
para aprendizagem. Avós aguçam os sentidos: tato, com os seus afagos e cafunés;
audição, com a sua doce voz de defesa; visão, com a sua vivência nos levando a
ver o que ninguém consegue nos mostrar; olfato, porque seu cheirinho de cuidado
corporal com seus cremes e perfumes são inesquecíveis e paladar, porque ninguém
tem o tempero tão saboroso como o deles.
Mas em uma sociedade tão consumista e imediatista, estão
descartando os mais velhos como ultrapassados. Os jovens estão perdendo muito a
oportunidade de aprender com a experiência do ancião e acabam por impedir que
seus filhos aprendam também e amanhã, repetirão a história, criticando e até
impedindo seus pais de serem avós doces e presentes de seus filhos. Ou seja, o
seu exemplo proporcionará a colheita.
Crianças que convivem com os avós possuem mais equilíbrio
emocional, são mais compreensivas, negociam melhor e conseguem, através do
vínculo e da cumplicidade estabelecida, serem reprodutoras da cultura familiar.
Outro aprendizado do mundo moderno é que os vovôs e vovós estão muito mais
ativos e antenados. Eles estão cuidando da saúde através do esporte e da
alimentação, estão tecnológicos, procuram envolver-se com leituras de atualidades,
viajam mais e se divertem muito mais também. Estão contribuindo com exemplos
saudáveis, com uma variedade de interesses e modernos. Aquela imagem do vovô e
da vovó de cabelinhos brancos, na cadeira de balanço e frágeis está cada vez
mais distante do cotidiano.
É preciso estabelecer um estreitamento dos laços entre pais e
avós para o bem da criançada. Enxergar a relação com a clareza de que existirão
muitos benefícios e alguns desencontros de opinião. Isso é inevitável. O
respeito na relação será de fundamental importância. Avós não são cuidadores,
funcionários, nem seus filhos. Isso mesmo: tem filhos que querem inverter papéis
e passam a mandar em seus pais, ou os tratam como funcionários caso precisem de
deixar as crianças parte do dia com eles. Parece meio óbvio, mas preciso
lembrar que o respeito aos genitores é muito importante. Você pode até pensar
diferente de seus pais, avós dos seus filhos, mas nunca esqueça que, se você é
fruto deles, eles merecem todo o seu respeito.
Por outro lado, os avós também precisam saber conversar com
seus filhos, hoje adultos e pais, quando não concordarem com algo que assiste
na criação dos netos. Os papéis precisam ficar muito bem definidos: o que é meu
e o que é seu. Não podem usar da autoridade de pai para impor as regras ou agir
arbitrariamente. Uma boa conversa regrada de negociações sempre funciona.
Para finalizar, toda família precisa estar empenhada em
promover uma convivência saudável, alegre e cheia de boas lembranças, afinal,
momentos felizes conquistamos sempre ao lado de quem amamos.
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