Fabíola Sperandio Teixeira
Pedagoga – Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Especialista em Gestão e Organização em Centros Educacionais.
Mestre em Educação
Por que estamos envolvendo as crianças no mundo adulto? Colheita:
desenvolvimento de ansiedade e medo nos pequenos.
Não é raro ser preciso acolher crianças e adolescente em
minha sala com um aspecto bem característico de uma ansiedade ou de uma crise
de medo. Basta uma conversa acolhedora que logo vão contando o que estão
sentindo no campo físico e emocional.
Não estamos atentos a que as crianças estão participando de
uma série de situações que de longe elas não possuem alcance em sua maturidade.
Famílias que sequer possuem cuidado em separar ambientes de crianças e adultos.
Muitas vezes me remeto a lembranças da época de quando os
pais recebiam visitas e os filhos tinham que ir para outro ambiente brincar.
Era uma proteção instintiva ou uma sabedoria por vivência, experiência de vida.
Hoje, agimos como se essa privacidade fosse desnecessária. Crianças escutam as
conversas dos adultos e ainda se sentem no direito de dar palpite ou são
convidadas a opinar.
Toda esta inserção antecipada está produzindo sentimentos e
emoções desfavoráveis aos nossos pequenos. Crianças que escutam detalhes da
separação de um parente próximo, muitas vezes passam uma noite ou parte dela em
claro, pensando na possibilidade dos pais se separarem também. Crianças que
presenciam conversas sobre doenças de um ente querido passam a fantasiar com a
possibilidade de perder um dos pais também.
Lembro-me de que meus pais me colocavam para dormir assim que
era anunciado o início do Fantástico, no domingo. Mesmo no quarto, por muitas
vezes eu ouvia a notícia de um meteoro a caminho. Pronto! Era o suficiente para
temer o fim do mundo, para chorar por pensar que meus pais morreriam e para
morrer de medo do tema musical do programa.
Vejo mesas enormes em restaurantes com até quatro famílias reunidas
e as crianças na mesma mesa, ouvindo sobre negócios, “fofocas” de adultos como
traições e desrespeito, formando conceitos de relacionamentos conjugais,
traições entre sócios, corrupções políticas de pessoas muito próximas, entre
outros assuntos. Nem de longe estas mesmas famílias descuidadas estão
percebendo que as crianças estão absorvendo todo este conteúdo e “digerindo-o”
de uma forma imatura que só pode gerar insegurança na convivência com o outro.
Enquanto participam de tal cenário, as crianças entram em um
círculo de pensamento construtivo, passando pela emoção e pela construção do
comportamento a curto e longo prazo. O assunto fica latejante em sua mente e
ela começa a elaborar aprendizados. Este movimento pode produzir uma ansiedade
ou um medo enorme de se relacionar e até de crescer. Crescer significará ser
inserido neste mundo apresentado nas rodas de conversas dos adultos.
Enquanto em sua solidão de pensamento, ela reelabora tudo o que
ouviu, podendo ativar um conjunto de sensações físicas e emoções geradas pelos
conceitos e crenças construídas. Estas emoções podem levar a uma dimensão tão
incontrolável que ela passa a não conseguir ser mais forte que o medo
produzido. E a sensação aliada à construção de conceitos gera uma resposta
emocional de ansiedade, medo e até pânico.
Crianças pequenas têm apresentado palpitações, sudorese
excessiva nas mãozinhas e pés (extremidades), dificuldade na respiração, perda
de sono no meio da noite ou dificuldade para dormir e choro sem conseguir
explicar o motivo.
Muitas vezes todas estas sensações estão trazendo um
comportamento regressivo aos nossos pequenos: busca de colo constantemente,
pedido para dormir com os pais, queixa de dores e mal-estar na escola,
desistência de aulas esportivas e lúdicas, regressão com os cuidados na higiene
pessoal e até alimentar.
É muito importante um despertar para os adultos sobre como
estamos agindo na frente das nossas crianças. Precisamos leva-las a todos os
eventos sociais? Aquela velha conversa de “onde não cabem meus filhos, não nos
cabe” precisa ser repensada. “Programa de adulto é de adulto”, parece uma frase
óbvia, mas precisa ser repetida muitas vezes. As famílias precisam proporcionar momentos com
as crianças em família e momentos do casal com adultos. Isso é muito sadio para
a relação familiar.
É preciso rever alguns hábitos da tal modernidade. Vamos
pensar nisso?
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