Educando meninas em
pleno século XXI
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Na semana passada postei um artigo falando sobre a educação
de meninos nos dias de hoje. Agora, quero refletir com vocês sobre o educar
meninas em pleno século XXI e com tudo o que ele oferece.
A chegada de uma menina sempre encanta a família. Logo os
vestidos e os laços vão aparecendo em seu closet e o incentivo de se enfeitar e
portar-se como princesa é discurso certo dos familiares. Mas será que este
modelo de ser uma princesa é o ideal nos dias de hoje? E o que é ser princesa?
Os pais, focados em seus sonhos e modelos, acabam por impor uma série de
caminhos que muitas vezes não irão corresponder ao perfil e desejo da filha.
A menina de hoje tem apresentando um comportamento de muita
independência e desejo de crescer com suas opiniões e escolhas respeitadas, mas
isso não significa que temos que acatar e obedecer. Afinal, ter vontades
próprias tão precocemente não é sinônimo de maturidade e sabedoria. As meninas
precisam muito da orientação dos pais em sua caminhada. Estamos presenciando
pais se afastando da sua obrigação como promotores de reflexões sobre as
escolhas, o que geraria amadurecimento, para meros obedientes de uma argumentação
tão esperta e perspicaz de sua cria.
As meninas estão sim mais sábias para dobrar seus pais quando
o objetivo é obter um sim para o que pretendem fazer e, acreditem, os pais por
omissão, facilidade ou fraqueza, estão cedendo e empurrando sua filha para um
mundo de muita precocidade.
Senti necessidade de fazer o alerta por estar tão próxima
desta geração do descompromisso com a reputação, respeito e pudor. Digo isso
também baseada em dados. Hoje estamos nos deparando com meninas cada vez mais
jovens com comportamentos que, de longe, deveriam ter na idade de 8 a 18 anos.
Com a era digital, a preocupação só aumenta. Meninas estão
tão envolvidas com a tecnologia que a sua maior vivência social tem sido
virtual. Desta forma, o empobrecimento na relação, aquela relação que permite
amadurecer com a troca presencial entre as amigas, tem ocorrido de forma
superficial e muitas vezes leviana, através das redes sociais. Precisamos estar
atentos ao que nossas jovens meninas estão fazendo com aquele aparelho que
compramos e colocamos com o mundo em suas mãos: o celular com internet.
Precisamos nos perguntar sempre: Em que idade minha filha
está preparada para receber um aparelho celular que a coloca em contato com
tudo e todos? Qual a necessidade de ter um celular? O celular da minha filha é
privativo ou compartilhado com a família? O que é privacidade ou a partir de
quando devo oferecer privacidade?
As pesquisas atuais trazem dados alarmantes quanto ao uso de
celular. Uma pesquisa recente divulgou que de 8 a 10 meninas:
·
enviam
uma média de 30 mensagens por dia;
·
publicam
uma média de 3 selfs;
·
53%
publicam mensagens e fotos com conotação sexual;
·
26%
sofrem bullying virtual;
·
22%
mandam nudes (imagens delas sem roupa)
*Fonte: Revista Veja – 20 de abril de
2016.
Quais são
os malefícios de toda esta exposição pessoal ou o simples fato de acompanhar a
exposição de celebridades e amigas? Vamos lá! Deparamos com crianças de 6 anos
que se encontram entristecidas por não se sentirem populares. O que é ser
popular? Hoje, na cabecinha delas, ser popular é ser requisitada pelas amigas,
convidada para todas as festas, ser copiada pelo que usa e ter lideranças em
tudo, na escola, família e redes sociais. Ser popular, traduziu uma menina de 7
anos, é ser uma celebridade na escola. Vamos pensar! Se adultos muitas vezes
não possuem amadurecimento para “ser popular “, imaginem uma criança! E se
adultos muitas vezes nos surpreendem com atitudes imaturas por não serem
destaque, imaginem uma criança. O que estamos fazendo com a cabecinha das
nossas meninas?
Atendi uma
garotinha de 10 anos em meu consultório que chorava muito dizendo que a sua mãe
não se conformava por ela (a criança) não ter sido convidada para a festa de
uma colega cuja a família era importante para a mãe dela. Com isso, a criança
estava se sentindo culpada pela frustração da mãe. Como poderia ter feito a mãe
tão triste por não ter sido convidada, indagava. A mãe tão focada na
possibilidade do encontro social, não percebia o mal que fazia à filha. Muito
menos tinha consciência da mensagem que estava passando a ela, quais valores
ela estava aprendendo com esta atitude (tenho que ter e não ser).
As meninas
também estão sofrendo com a ditadura da moda. O que é belo não pode se sobrepor
ao que eu tenho de belo. Precisam focar nas suas qualidades: “Minha beleza
interna faz brilhar o que sou externamente? Infelizmente isso não tem sido
aprendido. As nossas crianças estão buscando se vestir como mulheres, querem se
expor como atraentes e belas para que sejam notadas. Notas por quem? Está aí
uma preocupação que muitos pais estão deixando passar.
Outra
situação bem comum é assistir a crianças e adolescentes tão focados no que as
redes sociais ditam que o estudo tem ficado para terceiro ou quarto plano.
Acessar a internet tem sido um vício; preocupar-se com o que estão vestindo,
festas e saídas até para dormir fora de casa tem ocupado o lugar das atividades
escolares e extras (esporte, música, etc).
Mas por que
isto tem acontecido? Porque estamos incentivando uma vida social que nem sei
dizer se é correta no mundo adulto, mas, que com certeza, não aconselho para o
mundo das nossas crianças.
Comecei a
escrever falando sobre a educação de meninas porque, embora perceba que muitos
meninos têm sofrido com essa tal modernidade, são elas, nossas meninas, que têm
sido as maiores vítimas da nossa omissão, incentivo à precocidade e por que não
dizer, da nossa irresponsabilidade em não abrirmos os olhos para o que as
nossas pérolas estão se interessando e com o que estão se envolvendo.
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