Quando
percebemos que nossos filhos internalizaram os valores que ensinamos?
Fabiola Sperandio T. do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de família e Casais
“Mãe, preciso de ajuda. Estou com conflito moral?
” A mãe escuta, tenta entender e responde: “Oi? ” (Tenta ganhar tempo). Uma
surpresa imediata a invade e uma interrogação preenche todo o seu ser: “O que
virá da boca desse menino? ”
Refeita, fingindo naturalidade, ela
pergunta ao filho: “O que te angustia, meu filho? ”.
Ele prossegue contando que precisa
muito de um livro e que está na fila de espera da faculdade. Porém um colega
influente ofereceu solicitar a um conhecido para burlar a fila, o que, desta
forma, ele resolveria a questão, mas sabia que não foi ensinado a levar vantagens.
Continuou dizendo que, por outro lado, o
acesso gratuito ao livro faria com que não tivesse que dar mais essa despesa ao
pai desempregado. Sentia um peso enorme por ser “só” estudante, tornando-se
dependente financeiramente da família.
A mãe coçou a cabeça e pediu-lhe para
que ele continuasse a falar. E ele continuou.
Falou que, desde a tentativa de ajuda do amigo, ele não conseguia ficar
em paz com a sua consciência. E que
precisava decidir isso, afinal, a leitura não havia começado, ele não tinha
condições emocionais de pedir mais essa ajuda aos pais e o amigo aguardava o ok
para falar com o “tal influente”.
Vendo o desejo de estudar do filho, um
ótimo aluno que primava em honrar a oportunidade, a mãe tentou mediar o
conflito moral instalado em sua cabeça madura e tão ética.
Começou elogiando-o por ter parado para
refletir em todos os pontos da questão. Mostrou-se orgulhosa quanto a não
resposta imediata a uma oportunidade de privilégio, depois, começou ponto a
ponto a refletir com ele.
“Filho, você se sentirá bem em esperar a
sua vez para leitura? “ Ele explica que a ansiedade o deixará muito apreensivo
com a data e o desejo de aprender. E que, por outro lado, ficava triste em ver
colegas de faculdade colocando o nome na lista só por pensar que o professor
poderá conferir o interesse do aluno ou para amanhã, culpar a faculdade por não
possuir muitos exemplares. E que ele, que desejava mesmo estudar, talvez não
tivesse a chance em tempo hábil. Completou dizendo que se sentiria muito culpado
de ter a chance de ler gratuitamente, de usar o “recurso da amizade” e, por
outro lado, fazer o pai pagar pelo livro sem ter este recurso agora.
A mãe, então, lançou outra reflexão: “ E
se você deixar o amigo tentar, isso não significará conseguir; e caso você seja contemplado você fizer o
compromisso de, no seu primeiro pró-labore, doar uma quantidade de livros à biblioteca
para beneficiar mais alunos? Como se sente com essa ideia? “
Ele fitou os olhos da mãe e sentiu que
ali havia uma possibilidade de aliviar a sua “dor moral”. Ficou pensativo. Não manifestou a sua
decisão. Respirou fundo, abraçou a sua mãe e agradeceu por escutá-lo.
O que ele decidiu ficará no imaginário
de cada leitor. Aqui, só quis ilustrar o quanto colhemos o que plantamos. É
notório que esse garoto é filho de pais éticos e que forneceram exemplos
claros. A preocupação responsável com a tomada de decisão diante do impasse
gerado mostra que este jovem será um GRANDE HOMEM.
Percebemos que nossos filhos aprenderam
o que ensinamos quando, mesmo longe dos nossos olhares, eles agem como se estivéssemos
observando. Percebemos que nossos filhos possuem princípios e valores quando
nos procuram com o “conflito moral”.
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