segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Todo mundo é colega. Como assim?

Todo mundo é colega. Como assim?




Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais




       

       Você já reparou o quanto as relações perderam o formalismo e a hierarquia? Crianças e adolescentes tratando os adultos com a mesma informalidade e gírias que destinam aos colegas. E adultos imitando os jovens na esperança de chegar cada vez mais perto deles.

       Diante deste cenário confuso, jovens e adultos se mostram perdidos nas relações. Já não sabem mais o que é hierarquia, limite e respeito.

       As famílias, anulando as formalidades, não estão permitindo que seus herdeiros aprendam a respeitar os mais velhos, os professores, as autoridades. Sou da geração do pedido de benção aos pais, tios e avós; das palavrinhas mágicas: “licença”, “obrigada(o)”, “por favor”, “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, e mais e mais palavras de gentileza e educação.

        Hoje é um tal de “véi, foi mal” em vez de “desculpe-me, eu errei.” Errei? Está aí outra dificuldade desta geração. Estão tão acostumados com os adultos justificando as suas ações, que não assumem as suas falhas, aproveitando-as para crescer.
      
        Crescer? Será que estamos permitindo o crescimento dos nossos filhos? Quando expressamos que não desejamos que eles cometam os mesmos erros que cometemos, decidimos aí interferir muito mais do que deveríamos. Esse excesso de proteção tira-nos do papel de observadores e orientadores e nos passa para o papel de executores ou protagonistas da vida do outro. Se não lhes permitirmos o protagonismo, como farão em nossa ausência?

         Estamos observando uma busca enorme de conhecimento e um decréscimo significativo na evolução dos relacionamentos. Nossas crianças e adolescentes estão imaturos nas relações com o outro. Conflitos, frustrações, rejeições estão gerando violência. A violência é sinônimo da incapacidade de lidar com as situações através da argumentação e da estabilidade emocional ausente. Se não sabem dialogar, partem para o ataque verbal ou físico. Isso tem virado rotina. Como podem ser rejeitados ou frustrados em seus desejos se muitas vezes, em casa, estão reinando incondicionalmente?

         Bom, mas a vida não é pautada só nos desejos satisfeitos. É uma construção de ações positivas e negativas. São as relações com o outro em casa e fora dela que nos fazem crescer. E quando tentamos estender essa proteção para além do nosso lar? Também nos frustramos porque não conseguimos alcançar todos os lugares e aí nos deparamos com jovens e adultos cheios de queixas, muitas vezes despreparados para lidar com o mundo. É como se todos estivessem errados e somente “nós” estamos certos; então chega aquela sensação de cansaço diante das adversidades. Será que se permitirmos a nossos jovens pensar, avaliar e agir, sob nosso olhar atento e nossa conduta mediadora, não teremos mais sucesso? Por que muitas vezes supervalorizamos a queixa, impedindo-os de voltar o olhar para a situação como todo (positivo e negativo)? Vamos realizar um movimento de retomada dos valores e princípios? Que tal começarmos com uma reflexão sobre a importância da hierarquia familiar, estendendo, através desse exemplo, aos demais setores da nossa sociedade? Acredito que esse é o caminho.

         Quanto aos problemas que surgirão ao longo da vida dos nossos adolescentes, vamos dar a dimensão que cabe e imediatamente refletir com eles sobre as atitudes que poderão ser assertivas e trarão crescimento. Acredito que está na hora do equilíbrio das ações. O que isso significa? As famílias dos adolescentes relatam que vieram de uma educação muito rígida e que estão experimentando mais autonomia para os filhos. Concordo com a autonomia monitorada. Não precisamos ser tão rígidos e, muito menos, tão liberais. Esse desequilíbrio, acredito, é o que tem permitido todo esse cenário confuso, no qual os jovens acabam achando que são “colegas” dos adultos.


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