segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Século XXI – Filhos Terceirizados









Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga-Psicopedagoga- Terapeuta de Família e Casais

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         Não tenho dúvidas de que estamos lidando com uma geração que está sendo relegada ao abandono. É assim que inicio minha fala quando perguntam-me sobre a terceirização dos filhos  no século XXI. A vida estressante e corrida tem contribuído para a falta de tempo e por isso cada vez pais e mães se dedicam menos aos filhos. É uma consequência da época em que vivemos, e isso  tem afetado significativamente a educação dos jovens. Esse preocupação com a relação entre família e escola se justifica por minha trajetória profissional. Trabalho no ambiente escolar desde 1983 e não consigo separar a escola da família e a família da escola.  Entristeço quando vejo quem não assume seu papel.
          Recebo diariamente, em minha sala, adolescentes carentes de atenção dos pais, reprodutores de falas inconsequentes das famílias que atribuem a terceiros a responsabilidade pelas suas ausências. É como se a família dissesse: “não tenho tempo para acompanhar e vocês que façam isso!” Ou “meu(a) filho(a) está com dificuldades na escola porque tal professor ou a coordenadora não lhe dá atenção suficiente”. Educação é parceria! Não se trata de culpados e sim de agentes colaboradores para formação desses cidadãos. E não podemos esquecer que o educando também tem que fazer sua parte.
Outro aspecto que  destaco  como mal deste século  é o medo que alguns pais demonstram ter dos filhos. Vejo famílias sendo subjugadas e comandadas por adolescentes. Sempre me  pergunto: quem é o adulto dessa história? Quem sabe o que é melhor para o adolescente, ele mesmo ou seus pais? Por que atribuem aos filhos decisões importantes como escolha de sua escola? Além de permitir que a formação do caráter aconteça de forma eletrônica: TV, vídeo game, computadores e a internet cuidam disso. Muitas adolescentes se vestem e agem imitando toda a sensualidade das estrelas de TV; maquiagem e assédio aos meninos já são comuns. Os meninos falam e se comportam seguindo os modelos  de violência e desrespeito. Chutam, batem e quebram. Todas essas ações ou falta delas têm seu papel na formação das personalidades, por isso nunca deveriam tomar o lugar que cabe aos pais.
         Por outro lado, percebo um movimento inverso de algumas famílias que acordam para “este mal” do século e estão voltando a sua atenção novamente para os filhos. Quando me deparo com essas  famílias, tenho vontade de aplaudi-las de pé! Conheço mães e pais que necessitam de muito tempo no trabalho, mas não abrem mão de seus filhos e investem tempo com qualidade ao lado deles. Sabem onde eles estão, quem são os amigos, como estão na escola, entendem as variações do humor e os percebem. Em suma: conhecem seus filhos. Amam, disciplinam, sabem colocar limites. Quando sentem dúvidas na forma de agir, procuram ajuda com profissionais e literaturas adequadas, sem, no entanto, transferirem a terceiros a missão de educar “suas crias”.
         Faço uma chamada especial aos educadores: tem sido cada vez mais difícil encontrar profissionais que entendam que seu verdadeiro papel vai além  do conteúdo programático. Que um educador precisa explorar valores e, acima de tudo, ser exemplo vivo. Ressalto a necessidade das escolas colocarem em primeiro lugar seu papel educacional, acima do comercial. Lamento assistir escolas que se portam apenas de forma mercantilista e quase leiloam seus serviços na busca por mais um aluno, transformando-o em número.
Devemos trabalhar conscientes de que escolhemos uma profissão para fazer a diferença no mundo. Precisamos ser formadores e para isso, temos que colocar a dedicação e a educação acima de tudo. Uma escola precisa agir como empresa para ser viável, porém reafirmo que pode fazer isto sem perder a ética.

               Finalizo ressaltando que, enquanto a sociedade não acordar para necessidade de colocar a educação em primeiro lugar, e a própria família assumir seus sucessos e fracassos, continuaremos a enfrentar os problemas sociais atuais: conflitos familiares, bullying, isolamento social, drogas, entre outros. Culpabilizar os outros só agravam o problema. Devemos sair da queixa e partir para ação. Vamos conscientizar nossos jovens do seu papel nesta sociedade tão sofrida e muitas vezes perdida. 



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