terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mamãe, eu não quero mais ser amigo do José.

Mamãe, eu não quero mais ser amigo do José.


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Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


Quantas vezes nos surpreendemos com as oscilações dos nossos filhos em suas amizades? De repente o melhor amigo já não é tão interessante, mas inesperadamente a gente escuta: “Mamãe, posso convidar o José para passar o final de semana comigo? ” “Ué, mas você não estava triste com o José ainda ontem? ” “Vai explicar”, indigna-se a mãe.

Eu não vou explicar, vou propor um pensar. Todo esse vai e volta proporciona um amadurecimento na construção social, por isso não podemos ir até “o José” para intervir a favor do nosso filho. Devemos sim fazer o nosso pequeno refletir sobre os acontecimentos que o levaram se magoar com o amigo.

Relacionar traz muito crescimento porque proporciona lidar com prazer e sofrimento ao mesmo tempo. E é assim que nossos filhos irão aprendendo que estamos inseridos em um mundo que não é totalmente bom nem totalmente ruim. E esse movimento revela as diferenças entre eu e o outro ou os outros.

Nossas crianças e adolescentes, quando fazem novas amizades, depositam uma enorme expectativa no mais novo (a) amigo (a), acredita que corresponderá exatamente aos ideais criados em sua mente. O tempo vai passando e a expectativa enorme traz grandes frustrações. E por que isso acontece? Porque buscamos o que desejamos ter no próximo (o imaginário) e não nos permitimos verdadeiramente conhecer e aceitar o outro como ele é e com o que tem a nos oferecer e nos acrescentar. Essa gangorra entre o que espero e o que recebo nos torna reais.

Um outro ponto muito importante é buscar entender o motivo do desencantamento partindo do que você conhece do seu filho e do que você vê no amigo eleito. Explico. Muitas vezes desistimos de alguém por ver nesta pessoa o que chamamos da técnica do espelho. O outro reflete o que eu tenho e é ruim e não consigo lidar com isso. Esta percepção está, no caso dos nossos pequenos, no campo do inconsciente. É como se eu dissesse com o afastamento: “Não consigo lidar comigo mesmo. ” Exemplo: uma criança possessiva que encontra uma amiga a qual também é possessiva. Ela, sendo privada de fazer novas amigas, depara com os sentimentos que o autoritarismo proporciona (privação), que é o que ela faz com as demais amiguinhas. Imediatamente, e inconscientemente afasta a amiga o que a faz pensar em suas ações parecidas.

Acontece que esse movimento é extremamente saudável para o caminhar da vida adulta. 

Quando um adulto conhece uma pessoa, ele também faz projeções e exceptivas e, este vivenciar na infância e adolescência permitirá chegar à vida adulta mais preparado e maduro. Ao apontarmos um dedo para alguém, três outros dedos apontam, automaticamente, para nós. Se determinadas “diferenças” do outro me incomodam tanto, talvez o outro não seja tão diferente de mim, não é mesmo? Daí uma excelente oportunidade de conhecer seu filho. Dialogue sobre os seus incômodos e frustrações em relação aos amigos e o conhecerá muito mais do que pensa. O que ele rejeita no outro poderá ser o que ele nega em seu ser.

Esta reflexão que proponho nos permite repensar até nos nossos papéis. Adultos também chegam à vida amorosa ou social sem perceber que muitas vezes rejeitamos o outro por nos perceber em suas atitudes. Lidar com o que não gostamos refletido no outro não é nada fácil, mas se temos consciência, poderá se tornar terapêutico. E esse movimento consciente permitirá assumir nossos pontos de vistas, sermos integrais assumindo quem somos, não culpabilizar o outro por refletir o que nos incomoda, mas nos voltarmos para dentro de nós e evoluirmos.

Precisamos ajudar os nossos pequenos a entenderem que não precisam deixar de ser eles para estar ao lado de quem escolheu como amigo. Desta forma, o amigo não precisará de ser ele para estar com seu filho. Precisamos desenvolver o conceito de que estou para você, amigo, assim como você está para mim e, juntos, estamos para os outros. Agora imagina quão tamanha riqueza será desenvolvida com este diálogo maduro se agirmos assim, não é mesmo?

Aqui peço uma reflexão diante do que tenho presenciado nos inúmeros lugares que frequento: família, igreja, escola, clube, condomínio, etc. Pais que, basta os filhos reclamarem de um amiguinho, já tomam as dores, rejeitam o amigo e aconselham a arrumar outro: “Filho olha o tanto de crianças que tem aqui. Você não precisa deste amigo que não quer brincar ou fazer o que você deseja. ” Será que não está perdendo uma grande chance de preparar melhor esta criança para vida adulta e tudo o que esta vida envolve? É isso que quero mesmo para o meu filho, uma criança que descarta tudo que mexe com o que ela tem de bom ou ruim dentro de si? E cadê o diálogo? Não desperdicei desta forma uma possibilidade de desenvolver uma relação mais inteira? E para aguçar ainda mais o seu pensar, quero dizer que uma ação impulsiva e de enxergar só o outro e não encarar o seu filho tirará uma grande possibilidade de você conhecer a sua cria. Bom, espero que tenha feito você pensar um pouquinho que neste mundo atual, onde buscamos culpados e desejos satisfeitos você, na verdade, busque uma relação mais inteira com a sua criança, permitindo que ela cresça e você também evolua no seu papel de uma paternidade responsável.





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