quarta-feira, 22 de junho de 2016

EDUCANDO MENINAS EM PLENO SÉCULO 21



EDUCANDO MENINAS EM PLENO SÉCULO 21

Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Na semana passada postei um artigo falando sobre a educação de meninos nos dias de hoje. Agora, quero refletir com vocês sobre o educar meninas em pleno século 21 e com tudo o que ele oferece.
A chegada de uma menina sempre encanta a família. Logo os vestidos e os laços vão aparecendo em seu closet e o incentivo de se enfeitar e portar-se como princesa é discurso certo dos familiares. Mas será que esse modelo de ser uma princesa é o ideal nos dias de hoje? E o que é ser princesa? Os pais, focados em seus sonhos e modelos, acabam por impor uma série de caminhos que muitas vezes não irão corresponder ao perfil e desejo da filha. A menina de hoje tem apresentando um comportamento de muita independência e desejo de crescer com suas opiniões e escolhas respeitadas, mas isso não significa que temos que acatar e obedecer.
Afinal, ter vontades próprias tão precocemente não é sinônimo de maturidade e sabedoria. As meninas precisam muito da orientação dos pais em sua caminhada. Estamos presenciando pais se afastando da sua obrigação como promotores de reflexões sobre as escolhas, o que geraria amadurecimento para meros obedientes de uma argumentação tão esperta e perspicaz de sua cria. As meninas estão sim mais sábias para dobrar seus pais quando o objetivo é obter um sim para o que pretendem fazer e, acreditem, os pais, por omissão, facilidade ou fraqueza, estão cedendo e empurrando sua filha para um mundo de muita precocidade.
Senti necessidade de fazer o alerta por estar tão próxima desta geração do descompromisso com a reputação, respeito e pudor. Digo isso também baseada em dados. Hoje, estamos nos deparando com meninas cada vez mais jovens com comportamentos que, de longe, deveriam ter na idade de 8 a 18 anos. Com a era digital, a preocupação só aumenta. Meninas estão tão envolvidas com a tecnologia que a sua maior vivência social tem sido virtual. Dessa forma, o empobrecimento na relação, aquela relação que permite amadurecer com a troca presencial entre as amigas, tem ocorrido de forma superficial e muitas vezes leviana, através das redes sociais.
Precisamos estar atentos ao que nossas jovens meninas estão fazendo com aquele aparelho que compramos e colocamos com o mundo em suas mãos: o celular com internet. Precisamos nos perguntar sempre: em que idade minha filha está preparada para receber um aparelho celular que a coloca em contato com tudo e todos? Qual a necessidade de ter um celular? O celular da minha filha é privativo ou compartilhado com a família? O que é privacidade ou a partir de quando devo oferecer privacidade?
As pesquisas atuais trazem dados alarmantes quanto ao uso de celular. Uma pesquisa recente divulgou que de 8 a 10 meninas:
• Enviam uma média de 30 mensagens por dia;
• Publicam uma média de três selfs;
• 53% publicam mensagens e fotos com conotação sexual;
• 26% sofrem bullying virtual;
• 22% mandam nudes (imagens delas sem roupa)
*Fonte: Revista Veja – 20 de abril de 2016.
Quais são os malefícios de toda essa exposição pessoal ou o simples fato de acompanhar a exposição de celebridades e amigas? Vamos lá! Deparamos com crianças de seis anos que se encontram entristecidas por não se sentirem populares. O que é ser popular? Hoje, na cabecinha delas, ser popular é ser requisitada pelas amigas, convidada para todas as festas, ser copiada pelo que usa e ter lideranças em tudo, na escola, família e redes sociais. Ser popular, traduziu uma menina de sete anos, é ser uma celebridade na escola. Vamos pensar! Se adultos muitas vezes não possuem amadurecimento para “ser popular”, imaginem uma criança! E se adultos muitas vezes nos surpreendem com atitudes imaturas por não serem destaque, imaginem uma criança. O que estamos fazendo com a cabecinha das nossas meninas?
Atendi uma garotinha de 10 anos em meu consultório que chorava muito dizendo que a sua mãe não se conformava por ela (a criança) não ter sido convidada para a festa de uma colega cuja família era importante para a mãe dela. Com isso, a criança estava se sentindo culpada pela frustração da mãe. Como poderia ter feito a mãe tão triste por não ter sido convidada, indagava. A mãe tão focada na possibilidade do encontro social não percebia o mal que fazia à filha. Muito menos tinha consciência da mensagem que estava passando a ela, quais valores ela estava aprendendo com essa atitude (tenho que ter e não ser). 
As meninas também estão sofrendo com a ditadura da moda. O que é belo não pode se sobrepor ao que eu tenho de belo. Precisam focar nas suas qualidades: “minha beleza interna faz brilhar o que sou externamente? Infelizmente isso não tem sido aprendido. As nossas crianças estão buscando se vestir como mulheres, querem se expor como atraentes e belas para que sejam notadas. Notadas por quem? Está aí uma preocupação que muitos pais estão deixando passar. 
Outra situação bem comum é assistir a crianças e adolescentes tão focados no que as redes sociais ditam que o estudo tem ficado para terceiro ou quarto plano. Acessar a internet tem sido um vício. Preocupar-se com o que estão vestindo, festas e saídas até para dormir fora de casa tem ocupado o lugar das atividades escolares e extras (esporte, música etc.).
Mas por que isso tem acontecido? Porque estamos incentivando uma vida social que nem sei dizer se é correta no mundo adulto, mas que, com certeza, não aconselho para o mundo das nossas crianças. Comecei a escrever falando sobre a educação de meninas porque embora perceba que muitos meninos têm sofrido com essa tal modernidade são elas, nossas meninas, que têm sido as maiores vítimas da nossa omissão, incentivo à precocidade e, porque não dizer, da nossa irresponsabilidade em não abrirmos os olhos para o que as nossas pérolas estão se interessando e com o que estão se envolvendo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.