FAMÍLIA UNIDA NAS TAREFAS DOMÉSTICAS:
POR QUE NÃO?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Já foi o tempo em que tarefas domésticas eram obrigação da mulher. Hoje, sabemos que a divisão de tarefas com o companheiro é essencial. Afinal, a mulher moderna também vai à luta e provê o sustento do lar. E quanto aos filhos? Como inseri-los nesse processo? Lembrando que a família é a primeira convivência social, que permite relações interpessoais, aprender a conviver em grupo começa por aí: respeito mútuo, colaboração, negociações, afeto, gerência de conflitos, cooperação, entre tantos aprendizados da riqueza de estar em grupo.
Outro importante aspecto é que lutamos em causas sociais para necessidade de preservação do meio ambiente no mundo e não ensinamos nossos pequenos a serem cooperativos no ambiente do seu mundo, sua casa inicial. A criança precisa sempre partir do eu para o outro. E como aprender a cuidar do outro se não aprendi a cuidar de mim e de quem amo? Sentimento de pertencimento começará a existir se permitir fazê-lo ser ativo em seu grupo familiar.
E como começar esse processo? Desde bebê, precisamos dar tarefas de colaboração. Frases como: “pega o objeto para mamãe”, “vem ajudar o papai a arrumar os brinquedos”, “vamos ajudar a mamãe a pegar as roupinhas” precisam ser tornar familiares mesmo. Fazê-lo perceber que toda a família se ajuda é essencial para o processo se tornar normal. Mas essa é uma decisão que precisa ser tomada por todos os membros da família. Se o prazer de manter a casa em ordem se tornar o principal objetivo de todos, dessa forma, afastaremos queixas, desagradados e a tão famosa “preguicinha”. Todos os membros da família são responsáveis por criar um ambiente saudável, harmonioso e organizado. Esse é o clima que deverá ser gerado.
As tarefas vão sendo distribuídas de acordo com a faixa etária dos filhos. Podem-se introduzir, aos poucos, diferentes colaborações no dia a dia deles. Comecem com as tarefas que estejam relacionadas ao mundo dos pequenos e ao espaço que frequentam mais: quarto de brinquedos, sala de TV e outros objetos do seu quarto, por exemplo. A arrumação tem que fazer parte da diversão. Brincar tem começo, meio e fim. O fim é o reorganizar.
O mesmo irá ocorrer entre os 3 e 5 anos com os objetos pessoais: roupas, calçados, gavetas. As crianças já são capazes de recolher seus pertences e acomodá-los nos armários e gavetas correspondentes. Eles adoram colaborar e serem reconhecidos, portanto, elogie muito, nesse momento, toda colaboração. Insira-os, também, na organização e arrumação de um jantar, por exemplo. Levar os talheres para mesa, os guardanapos, chamar os familiares para a hora do jantar são tarefas fáceis e gostosas de realizar ao lado dos pais.
A partir dos 6 anos, as responsabilidades poderão ir além. Convidá-los para acompanhar o processo de lavagem da roupa (separar as peças por cor ou tecido, colocar na máquina, retirar e ajudar a estender no varal), lavar a louça, cuidar dos animais domésticos (necessidades fisiológicas, ração e água), esticar a cama e dobrar a coberta já são tarefas possíveis.
Já aos 7anos, oportunize a participação como “mestre cuca”. Permita a ajuda na confecção da alimentação. Nessa brincadeira, preparar os alimentos, cozer e lavar as louças serão grandes exercícios e uma verdadeira diversão. A partir dessa idade, caberá à família ampliar as ferramentas colaborativas, como retirar o lixo, ajudar a lavar o carro, cuidar de plantas, lavar um banheiro. É preciso mostrar aos filhos o quanto é prazeroso ver o resultado após cada colaboração. E dentro dessa participação diária, a riqueza que a família terá no convívio mais próximo, gerando afeto e aproximação. Perceber que cooperar gera prazer o despertará para as causas humanitárias e irá prepará-lo para vida.
Hoje, a família pode até contar como uma ajudante diariamente para as tarefas domésticas, mas isso não impede a colaboração. Não sabemos como será o futuro de nossas crianças e, dessa forma, estaremos ajudando-a a se defender em qualquer situação. Além do ganho pessoal, sentir-se útil, pertencente a nossa família e colaborativo é algo que só é possível adquirir em um ambiente como o descrito até aqui. É muito importante que as tarefas sejam introduzidas de forma festiva e harmoniosa. Colocá-las como castigo não terá os efeitos desejados. Colaborar em família tem que ser uma regra independente dos acontecimentos bons ou ruins do dia a dia.
Como as tarefas envolverão todos os moradores da casa, a criança sente que é justa a proposta e vê que estão trabalhando em equipe pelo bem de todos. Entra aí, outro benefício: teremos crianças líderes e não chefes. As crianças crescerão sabendo atrair as pessoas para o propósito ou as metas. Não precisam existir premiações e pagamentos. Isso tiraria toda a beleza do espírito colaborativo e passaria outro aprendizado (“toma lá, dá cá”). A valorização pela colaboração do bem-estar familiar deve ser a GRANDE recompensa. Ser feliz por ajudar a família a estar feliz é o que vale. Amanhã será feliz por ações nas quais promoverá o bem-estar de todos que o cercam. Uma dica de recompensa pela cooperação do grupo familiar é todos conseguirem fazer um passeio juntos por cumprirem as tarefas. Com isso, terá um reforço de economia de tempo que proporcionou após o dever, o lazer.
Experimente organizar uma rotina diária de tarefas fixas para todos, mas deixe claro que poderão negociar trocas entre os membros, que poderão ocorrer redistribuições (caso um dos membros esteja ausente ou doente), que outras atividades poderão surgir e que tudo acontecerá com muito diálogo, respeito e obediência à proposta familiar. E, claro, que a palavra inicial e final sempre deverá ser dos pais. Afinal, aprender o que é hierarquia ajudará muito as nossas crianças a enfrentarem o mundo. Bom trabalho!
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