Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
A inspiração veio após um momento de observação de uma cena em um shopping da cidade. Estavam em uma mesa um casal jovem e uma criança de mais ou menos quatro anos de idade. A mãe, muita atenta ao celular. O pai observando as pessoas que caminhavam ou comiam em volta da mesa deles. Todos saciavam o paladar com um copo grande de um milkshake famoso.
Não deu para saber o motivo, mas de repente a mãe deu um tapinha na mão da criança. Assim que a criança recebeu o tapa, ela imediatamente devolveu não só um, mas três tapas seguidos na mão da mãe. Terminada a sequência de tapas, olhou assustada para mãe, como se esperasse uma reação negativa a sua ação. Percebendo que a mãe nem tirou os olhos do celular, olhou depressa para o pai, que gargalhava da situação. Ao ver que o pai só achava graça, a criança olhou feio para mãe, que deu de ombros para o pai, como se dissesse “não ligo” e a criança voltou ao enorme copo de doce.
Continuando a observação, percebi que aquela situação havia passado uma mensagem para aquela criança. Lamentei profundamente por esses jovens pais. Naquele momento, a criança percebeu que estava em “pé” de igualdade com os pais.
Atualmente enfrentamos uma crise de identidade na autoridade parental. Esta ausência de autoridade tem se refletido no comportamento social. Basta olhar ao nosso redor o que tem ocorrido em nossa casa (ausência de hierarquia familiar), o que aparece nos noticiários (desrespeitos, intolerância, agressões) e nas escolas (não conseguem resolver as situações próprias da faixa etária). É bem claro a todos que o exemplo vem de berço. Educação familiar é a base.
Como a criança irá adquirir a consciência dos seus limites vivendo em um lar sem regras e autoridade? Serão jovens que caminharão para uma tendência a viver inseguros, frustrados e infelizes. Crianças sem limites apresentam sensações de angústias frequentemente. Limite é amor. Se sou amada, fico preenchida. Sendo preenchida, não terei espaço para descontentamento.
Uma criança que bate nos pais, mesmo que em uma reação impulsiva, como um ato de reflexo, no velho estilo “bateu levou”, se não há uma correção por parte dos responsáveis, uma conversa para que a leve à compreensão sobre o que é respeito e amor, crescerá completamente sem equilíbrio emocional e sem a oportunidade de obter crescimento pessoal.
Como responsáveis pela formação das nossas crianças, precisamos assumir o papel da autoridade de pais. Filhos não podem erguer a voz para seus genitores e jamais levantar a mão com menção de um “ataque” físico, que irá se concretizar em um tapa.
A cena ficou muito presente em minha cabeça durante todo o dia. Foi uma sensação de impotência que me incomodou. Como adultos podem permitir que uma criança de 4 anos tome conta da situação? Por que delegamos, até mesmo pequenas decisões como onde almoçar, aos nossos filhos?
Existe uma enorme confusão sobre educação participativa com educação transferida. O que quero dizer com isso? Pais acreditam que se o filho se envolver com as questões familiares, eles estão preparando-os para o futuro. Pergunto: uma criança de 4 anos sabe o que é melhor para a sua alimentação? Uma criança de 10 anos sabe escolher a sua escola? Lembrando que essas decisões se refletirão em toda a sua vida.
É muito triste ver pais acomodados, deixando os seus filhos fazerem o que desejam porque é muito difícil educar. Criar realmente é fácil. Educar é o verdadeiro papel de pais responsáveis. Vamos nos responsabilizar por nossos filhos antes que seja tarde demais.
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