quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

LUTO INFANTIL: COMO TRABALHAR A PERDA DURANTE A INFÂNCIA


LUTO INFANTIL: COMO TRABALHAR A PERDA DURANTE A INFÂNCIA


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Desde que nascemos, aprendemos a comemorar pela vida. Começa na maternidade onde recebemos muitos parentes emocionados pela nossa chegada. Depois, uma das primeiras canções que aprendemos é a “Parabéns para você”, porque todos adoram ver criança batendo palminhas. E, ao longo da nossa infância, somos poupados de dores e frustrações. Até que, de repente, ao nosso redor, tem um monte de adulto de olhos arregalados e apreensivos porque algo deu errado.
Assustados, sentimos um aperto sem entendimento, esperando pelo que virá. Acredito ser bem assim (se uma criança tivesse maturidade para tal narrativa) que seria descrito o despreparo que os deixamos diante de um luto. Não permitimos a nossos filhos experimentarem o sofrimento, a dor. Se compramos um animalzinho de estimação e ele morre, logo compramos outro, dando a falsa ideia de que é possível substituir, procurando fazer com que o nosso pequeno não perceba a morte. Nem permitimos tal assunto em casa. Por vezes até ligamos para os parentes e pedimos para fingirem não notarem que é outro bichinho. Colocamos até o mesmo nome.
A falsa ideia de proteção gera uma consequência desastrosa quando a morte chega para um dos membros da família. Não permitindo que a criança tenha contato com a realidade e o sofrimento, não a preparamos para elaborar as suas perdas de maneira sadia e madura. Contribuímos para que nossas crianças adoeçam emocionalmente quando as impedimos de lidar com a realidade da vida.
Precisamos aprender a utilizar o que aparece em nossa vida como oportunidades de crescimento. Se a criança perdeu um animal de estimação, permita que ela se depare com a dor, seja verdadeiro quanto à realidade de despedida sem retorno. Mostre que a morte faz parte do ciclo da vida. A acolhida generosa e amorosa dará a segurança de poder chorar a sua dor e elaborar o seu luto. Sei que nunca estamos totalmente prontos para essas despedidas, mas podemos ser preparados. 
Pensar que uma criança não é capaz de entender e lidar com o tema é uma ideia completamente errônea. É subestimar a capacidade de compreensão e percepção do conceito de morte. O desenvolvimento de qualquer conceito é construído paralelamente ao desenvolvimento cognitivo. Toda experiência da criança será determinante para a sua reação diante dos fatos. Isso só reforça que, se a família permite a criança experimentar a dor da perda de seu animal, perdas de significados, mas não tão fortes como de um parente próximo, ela irá lidar com a dor da perda de um ente querido com muita dor, mas sem traumas ou desequilíbrio. Será uma vivência dolorosa, porém sem graves consequências. Uma situação que fará parte da sua vida e que ela irá elaborar. Se há morte, há período de luto. 
Outro grande erro é querer forçar uma recuperação da tristeza rapidamente. É necessário viver o tempo de luto até que consiga ir retomando a vida cotidiana. O luto trará um comportamento que precisa ser entendido e aceito. A criança pode sentir muita raiva da morte e até raiva de quem morreu, como se a culpasse por deixá-la. Depois, pode entrar em processo de negar a morte, como se isso não tivesse ocorrido com a pessoa que tanto estimava. Ao se sentir compreendida, a criança se sentirá mais fortalecida para sair do processo de enlutamento com mais força emocional. Poderá passar por um processo de busca por entendimento, perceberá que está doendo muito até que aceitará o ocorrido. Uma aceitação que a leva à sobrevivência, um ato resiliente.
Apesar da dificuldade de aceitarmos o tema e ainda pensarmos na hipótese de termos que lidar com ele com os nossos filhos, é muito importante encararmos que o ciclo ocorre: nascemos, crescemos, morremos. Mas se isso mobiliza muito, ao ponto de não conseguir ajudar seus filhos, o ideal é buscar ajuda profissional. Fará um bem emocional enorme a todos. 

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