Ai! Que medo de crescer !
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Hoje
recebi uma visita de uma linda jovem que retornou para contar do término de
mais um ciclo de sua vida estudantil. Ao me abraçar, ela agradeceu pelo que
aprendeu em anos de convivência e depois falou no meu ouvido: “Eu tô com
medo...”
Pude
perceber, ao afastá-la e olhar bem nos seus olhos, o medo enormeeeeeeee de
crescer. Sim! Crescer muitas vezes amedronta.
Acontece
que, quando somos pequenininhos, recebemos estímulos para contar sobre o nosso
dia, sobre os amiguinhos e como estamos. A família espera que falemos
facilmente das nossas relações com os colegas, brinquedos, desenhos e
filminhos. Dentro de esse falar “facilmente”, os genitores procuram em suas
crias sentimentos, buscam conclusões e avaliam como tudo está acontecendo com o
desenvolvimento de seus filhos . A
criança é questionada sobre o seu dia e ainda atribuímos o comando de falar a
verdade, uma vez que pregamos que criança não mente jamais.
Aí está
o X da questão. À medida que nossos pequenos vão crescendo, eles deparam-se com
a distância entre o que pedimos e o que o mundo dos adultos pratica. Isso
mesmo! Por que o susto? Nossas crianças começam a flagrar pequenas situações
diárias nas quais percebem que ser adulto não é muito fácil e muitas vezes ,
também, não é muito verdadeiro.
De
repente a aproximação dos coleguinhas já não é mais tão facilitada. A agenda
está mais apertada com as aulas extras, a família já se preocupa com as
amizades e seus comportamentos, os primos, tios e avós já não possuem mais o
mesmo tempo de dedicação a eles. Esse conjunto de coisas culmina para a
experiência do distanciamento de tudo que era tão próximo. Então, crescer passa
a ter outro sentido: entender tudo isso!
Chega
a hora de caminhar para fase adulta e, junto com essa “hora”, começam as
descobertas que acontecem muitas coisas estranhas nas relações das pessoas.
Muita coisa que jamais foram pensadas até então: relações por interesses, desculpas
infundadas, fuga de situações, pequenas e grandes mentiras para se safar de algo,
jogos de “espertezas” e distanciamento dos valores.
Uai! Mas cadê o comando de não mentir jamais? Nessa hora algum flash passa pela cabeça e começa a reconstrução do caminhar. Na busca da rota, se tornam adultos. Daí, a decepção que muitos enfrentam quando, finalmente, se tornam adultos. Perceber que alguns conceitos se vão. E para “atormentar “ ainda mais, muitos conceitos que serão refeitos foram construídos pelas pessoas em quem eles mais confiaram. Nesses movimentos, também percebem que foram motivados a falarem sobre tudo, mas que agora, quando adulto, muita coisa é melhor nunca ser dita.
Então
o que é ser adulto? Bom, ser adulto é
experimentar um mundo diferente dos contos de fadas e ainda ser resiliente. Ser
resiliente é ter a capacidade de enfrentar transformações, desafios, traumas,
reelaborando as situações e recuperando-se frente a elas.
E para completar, saímos do ditado “criança não mente jamais” para o
ditado “faça de um limão, uma limonada”. Sim, ser adulto é conseguir colocar
humor em tudo que aparece. É ser capaz de rir dos problemas e transformá-los em
piadas cotidianas. E cá para nós, somos especialistas nisso aqui no nosso país.
Toda essa escrita aqui foi utilizada com a linda jovem nesse encontro em
forma de diálogo. Ao ouvir tudo com os olhos cheios de água, ela diz: “Mas tia,
eu não sei o que quero ser, mas não vejo a hora de fazer 18 anos para dirigir e
ir à balada.”
Ela não é diferente da maioria que almeja chegar a tão falada maior
idade. Nesse momento, o misto de medo e o prazer da conquista se misturaram. É
como se me dissesse: quero usufruir dos benefícios da maior idade na área do
lazer, mas estou cheia de medo do dever. Naquele momento, eu não podia
confessar a ela, mas, com certeza, eu sei muito bem como é isso, pois até hoje,
após ter feito 18 anos há algum tempo ( kkkkk), eu também tenho meus medos da
vida adulta, eu também queria muito poder ter muito mais lazer que o dever, mas respirei e com um
sorriso bem acolhedor, eu disse: “Sabia que eu tenho muito segurança de que
você está preparada para essa transição?”
Esse processo é muito importante para essa nova etapa. A construção e desconstrução
e a nova reformulação dos conceitos é o
CRESCER! A diferença da vida adulta precisa ser compreendida e não julgada. Não
podemos mostrar a realidade adulta para os nossos pequenos que não possuem
maturidade para entender. À medida que vão caminhando para esse processo,
naturalmente vão conhecendo as exigências desse novo mundo e se adaptando.
O medo de crescer não perderá nunca, eu acho. Só trocará de nome: medo conhecer,
medo de relacionar, medo da profissão, medo de envelhecer... Mas podemos trocar
a palavra MEDO por CORAGEM. Ficaria assim: coragem para conhecer, coragem para
relacionar, coragem para envelhecer. Isso! Coragem! A estrutura que recebemos
na infância é o alimento da coragem.
Vá em frente, minha jovem. E volte no encerramento do novo ciclo para me
contar.
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