quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ai! Que medo de crescer !




Ai! Que medo de crescer !


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


Hoje recebi uma visita de uma linda jovem que retornou para contar do término de mais um ciclo de sua vida estudantil. Ao me abraçar, ela agradeceu pelo que aprendeu em anos de convivência e depois falou no meu ouvido: “Eu tô com medo...”

Pude perceber, ao afastá-la e olhar bem nos seus olhos, o medo enormeeeeeeee de crescer. Sim! Crescer muitas vezes amedronta.

Acontece que, quando somos pequenininhos, recebemos estímulos para contar sobre o nosso dia, sobre os amiguinhos e como estamos. A família espera que falemos facilmente das nossas relações com os colegas, brinquedos, desenhos e filminhos. Dentro de esse falar “facilmente”, os genitores procuram em suas crias sentimentos, buscam conclusões e avaliam como tudo está acontecendo com o desenvolvimento de  seus filhos . A criança é questionada sobre o seu dia e ainda atribuímos o comando de falar a verdade, uma vez que pregamos que criança não mente jamais.

Aí está o X da questão. À medida que nossos pequenos vão crescendo, eles deparam-se com a distância entre o que pedimos e o que o mundo dos adultos pratica. Isso mesmo! Por que o susto? Nossas crianças começam a flagrar pequenas situações diárias nas quais percebem que ser adulto não é muito fácil e muitas vezes , também, não é muito verdadeiro.

De repente a aproximação dos coleguinhas já não é mais tão facilitada. A agenda está mais apertada com as aulas extras, a família já se preocupa com as amizades e seus comportamentos, os primos, tios e avós já não possuem mais o mesmo tempo de dedicação a eles. Esse conjunto de coisas culmina para a experiência do distanciamento de tudo que era tão próximo. Então, crescer passa a ter outro sentido: entender tudo isso!

Chega a hora de caminhar para fase adulta e, junto com essa “hora”, começam as descobertas que acontecem muitas coisas estranhas nas relações das pessoas. Muita coisa que jamais foram pensadas até então: relações por interesses, desculpas infundadas, fuga de situações, pequenas e grandes mentiras para se safar de algo, jogos de “espertezas” e distanciamento dos valores.

Uai! Mas cadê o comando de não mentir jamais? Nessa hora algum flash passa pela cabeça e começa a reconstrução do caminhar. Na busca da rota, se tornam adultos. Daí, a decepção que muitos enfrentam quando, finalmente, se tornam adultos. Perceber que alguns conceitos se vão. E para “atormentar “ ainda mais, muitos conceitos que serão refeitos foram construídos pelas pessoas em quem eles mais confiaram. Nesses movimentos, também percebem que foram motivados a falarem sobre tudo, mas que agora, quando adulto, muita coisa é melhor nunca ser dita.

Então o que é ser adulto?  Bom, ser adulto é experimentar um mundo diferente dos contos de fadas e ainda ser resiliente. Ser resiliente é ter a capacidade de enfrentar transformações, desafios, traumas, reelaborando as situações e recuperando-se frente a elas.

E para completar, saímos do ditado “criança não mente jamais” para o ditado “faça de um limão, uma limonada”. Sim, ser adulto é conseguir colocar humor em tudo que aparece. É ser capaz de rir dos problemas e transformá-los em piadas cotidianas. E cá para nós, somos especialistas nisso aqui no nosso país.

Toda essa escrita aqui foi utilizada com a linda jovem nesse encontro em forma de diálogo. Ao ouvir tudo com os olhos cheios de água, ela diz: “Mas tia, eu não sei o que quero ser, mas não vejo a hora de fazer 18 anos para dirigir e ir à balada.”

Ela não é diferente da maioria que almeja chegar a tão falada maior idade. Nesse momento, o misto de medo e o prazer da conquista se misturaram. É como se me dissesse: quero usufruir dos benefícios da maior idade na área do lazer, mas estou cheia de medo do dever. Naquele momento, eu não podia confessar a ela, mas, com certeza, eu sei muito bem como é isso, pois até hoje, após ter feito 18 anos há algum tempo ( kkkkk), eu também tenho meus medos da vida adulta, eu também queria muito poder ter muito mais  lazer que o dever, mas respirei e com um sorriso bem acolhedor, eu disse: “Sabia que eu tenho muito segurança de que você está preparada para essa transição?”

Esse processo é muito importante para essa nova etapa. A construção e desconstrução e a nova reformulação dos conceitos  é o CRESCER! A diferença da vida adulta precisa ser compreendida e não julgada. Não podemos mostrar a realidade adulta para os nossos pequenos que não possuem maturidade para entender. À medida que vão caminhando para esse processo, naturalmente vão conhecendo as exigências desse novo mundo e se adaptando.

O medo de crescer não perderá nunca, eu acho. Só trocará de nome: medo conhecer, medo de relacionar, medo da profissão, medo de envelhecer... Mas podemos trocar a palavra MEDO por CORAGEM. Ficaria assim: coragem para conhecer, coragem para relacionar, coragem para envelhecer. Isso! Coragem! A estrutura que recebemos na infância é o alimento da coragem.


Vá em frente, minha jovem. E volte no encerramento do novo ciclo para me contar. 




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