quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Guarda Compartilhada




Guarda Compartilhada

Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

      Na quebra das relações maritais muitos ex-casais buscam maneiras para lidar com os frutos do casamento: os filhos. Alguns procuram entender e optar pela guarda compartilhada.

     A guarda compartilhada surgiu, em formato de lei ( lei nº 11.698/08), no ano de 2008 com o objetivo de assegurar aos filhos a permanência do convívio dos pais mesmo após uma separação.

      Vale ressaltar que a guarda compartilhada não poderá ser confundida com a guarda alternada. Guarda alternada é a divisão igualitária de tempo dos pais com os filhos. Guarda compartilhada é a divisão de direitos e deveres de ambos, proporcionando a convivência harmônica e saudável com familiares maternos e paternos.

     A lei traz a garantia de proteção à criança, mas não traz a garantia da mudança de mentalidade dos adultos. Por que digo isso? Porque grande parte dos adultos acaba por boicotar o verdadeiro objetivo da lei, dificultam o acesso de um dos lados para convivência da criança.

    Quando um casal se casa e define ter filhos, não se atenta para que, na hipótese de uma separação, não existirá ex-filho . O filho é dos dois para sempre. As responsabilidades afetivas e materiais também.

    Por mais que alguns justifiquem que a convivência nas duas casas para criança não é saudável pelas diferenças, isso as impede de aprender exatamente com as mesmas. Sim! É saudável conviver com regras das duas casas, com os costumes e com os combinados. Perceber o jeitão de cada um também é importante na formação das crianças. Agora eu pergunto: convivendo com os pais juntos a criança não teria que aprender o jeito de cada um? Ou você acha que é só em casa separada que as divergências nas regras e afins ocorrem?

     É notório que as diferenças aparecem mesmo em lares de famílias de “pais juntos”. Basta conversar um pouquinho com as crianças e adolescentes que percebemos que elas já sabem a quem pedir determinadas coisas, já sabem como podem agir quando só um dos pais está em casa, etc.

   Cada indivíduo tem um jeito de ser, um jeito de comandar, um jeito de amar, um jeito de se doar, um jeito de corrigir, um estilo de vida, um limite para as situações (tolerância). Essa relação com todo esse “jeito” que nossos pequenos se deparam, no dia a dia,  é que os prepara para vida. Futuramente conseguirão lidar com chefes, colegas, esposo/esposa, com esse aprendizado.

   O que precisa ficar muito claro é que a qualidade da relação com os pais que traz o benefício e não a determinação de tempo que cada um tem com seu filho.  Guarda compartilhada, repito, é a divisão de dedicação em todas as necessidades e não divisão de tempo com o filho.

    Receita para essa relação? Sem chance! A convivência, a rotina, a vivência e as inúmeras conversas entre os pais é que determinarão a melhor maneira.  O mesmo ocorre com os casais cujos cônjuges moram juntos, o dia a dia vai norteando o fazer com os filhos.

    Nesse fazer diário, o ex-casal precisa exercitar a conversa sobre as regras e atitudes para que a chegada da adolescência desses então pequenos, já esteja com uma estrutura de ações para as decisões que envolvam saídas com grupos de amigos, festas, cinemas, viagens. A concordância de permissão ou não é fundamental para gerar um porto seguro para o filho e evitar os “jogos de interesse” tão presentes na linguagem do adolescente.

  Infelizmente nos deparamos com ex-casais muito presos a regrinhas de convivência que não trazem prejuízo para as crianças, mas que promovem muito desgastes entre os adultos. Mãe ou pai indagando sobre regras de banho, horário de TV, tipos de refeição, achando que o que ocorre na casa de um tem que se repetir na casa do outro. Ora, por quê? É importante a criança lidar com essas regras distintas. E ao contrário do que muitos pensam, elas se adaptam facilmente com o estilo de cada um e, ainda, conseguem avaliar o que é melhor para elas. E, nem sempre gostam mais do lar que possui o excesso de liberdade.  Surpreso? Não fique! As crianças e adolescentes sentem-se bem com o equilíbrio das atitudes. O pode tudo muitas vezes soa desamor. Elas sabem que falar não dá mais trabalho.

   Precisamos ficar atentos para que, quando ocorre uma separação, por mais que a briga seja pelos bens, o maior bem deveria ser os filhos; muitas vezes a vaidade e a ganância levam a briga pelos bens materiais ou pelo “BEM filho”, que significará ganho financeiro e, nesse movimento, o amor pelos filhos fica de lado. Principalmente quando reportamos a histórica ideia do homem provedor e da mulher cuidadora. Mesmo com a mulher ativa no mercado, e muitas vezes ganhando muito mais que o ex-marido, ela ainda luta pelo valor financeiro às vezes até como punição. Ou não se interessam pelo financeiro, mas assumem o filho como posse, como se fosse a única genitora (filho sem pai ou sem necessidade de pai).

   Diante de todo esse cenário, quem mais sofre é o filho. Atendo inúmeros adolescentes chateados com as brigas dos pais. Parece-me que os pais esquecem que serão pais eternos. Enchem-se de mágoas, rancores e lembranças da relação marital e descontam, mesmo que inconscientemente, no filho.

   Hoje nos  deparamos com uma realidade na qual os homens estão gostando de exercer o papel de pai. Muitas crianças já estão sendo cuidadas pelo pai. Basta visitar as instituições escolares, cursos extras , que poderão ver que a realidade mudou. Muitos pais estão até solicitando a guarda definitiva de seus filhos. Assim como nos deparamos com mulheres que estão abrindo mão de seus filhos para alçar voos na profissão ou voltar a ter a vida de solteira. Outras porque a relação atual não convive bem com seus filhos e fazem escolha pela nova relação.

  Outra situação muito presente é um dos pais brigar pela guardar e “terceirizá-la”. Triste, mas real. Encontramos crianças que “na vez” de um dos pais, acaba ficando com avós, tios, cuidadores enquanto o responsável da vez trabalha, passeia ou viaja. A negociação não se faz presente nos ex-casais que disputam em vez de se unirem para criar seus filhos.


  Quando o casal decide casar, junto com a decisão, vieram sonhos e expectativas. Quando se frustram e decidem separar, precisam amadurecer e utilizar a guarda compartilhada não como disputa ou punição, mas como benefício de um crescimento saudável para os seus herdeiros.  As crianças precisam herdar amor, diálogo, aprendizado e não acabar por se sentirem um peso e um atrapalho na vida dos adultos que um dia decidiram que seria “lindo” completar o casamento com filhos.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O que nossos filhos estão aprendendo sobre o amor? Parte II




       O que nossos filhos estão aprendendo sobre o amor ? 

 Parte II

Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais 



   Voltei ao tema, mas de forma diferente. É que esse título tem muito a ver com o que vou “falar”.
   O que nossos filhos estão aprendendo sobre os diversos tipos de amor: amor de amigo, amor de irmão, amor de primo, amor de mãe, amor de pai, amor de vizinho, amor de avó, amor de avô, amor de amor.
   Encontrei uma criança com ar de muito preocupada. Sentei perto e “puxei um papo”. Aos pouco fui conquistando sua simpatia e segurança e ela revelou a sua preocupação. Estava encucada e pensativa se ela era homossexual. Perguntei o que sabia sobre homossexualidade e, aos 10 anos, ela me deu uma aula. Diante do conceito oferecido por ela, perguntei o que a fazia pensar que era homossexual e, aflita, me disse: “amo minha melhor amiga”.
   Então, perguntei como era esse amor, o que sentia, o que pensava. Ela, empolgadamente, disse que adorava brincar, fazer tarefa, telefonar, conversar e rir com a amiga e que não conseguia mais ver sua vida sem a companhia dela.  Olhei-a, com ar de mistério disse-lhe: “sério???”. Ela abaixou os olhos e eu completei: “tenho a resposta para a sua dúvida” . Comecei a lhe explicar que ela estava tendo um lindo amor de amiga.
   Entendi perfeitamente a confusão da cabecinha dela. É só parar para observar o mundo atual. Os vários tipos de relacionamento existentes hoje, propagados pela televisão, filmes e locais públicos estão trazendo uma ideia de amor entre duas pessoas focadas em relacionamento sexual e esquecendo-se de mostrar que podemos amar pessoas do mesmo sexo sem o interesse sexual. Fiz-me entender?
   Nesse momento entra os vários tipos de amor. Se amo minha amiga pelo que ela representa para mim como pessoa, não significa que a amo ao ponto de transformá-la em minha companheira de relacionamento sexual. Porém o excesso de informações focadas na sexualidade está trazendo uma mensagem completamente equivocada para os nossos jovens sobre o amor. A facilidade de dizer “TE AMO” é outro agravante. Antes "te amo" era para os casais e familiares, hoje a expressão tem sido usada sem o mínimo de cuidado ao verdadeiro sentido da mesma. Acabam de conhecer uma pessoa e ela já vira melhor amiga e já escuta TE AMO.
   Toda essa mistura tem causado um verdadeiro rebuliço na cabeça dos pequenos. E acontece bem na entrada da adolescência onde tudo encuca e onde ocorre o maior número de “zoações”.
   Como os adultos também entraram nessa onda, que irei chamar de “excesso de sentimentos”, nossas crianças estão sem exemplo. De repente flagram a pessoa da confiança delas também imatura nas relações e confusa nos sentimentos, com toda certeza também poderá ter dificuldade de detectar que tipo de amor está presente em determinadas situações.
   Descobrir o amor não é muito fácil. Achar que está amando é facílimo, até você conhecer alguém que mostra o verdadeiro amor para você. Essa gangorra de sentimento tem um nome: amadurecimento. Amadurecer é esse ir e vir, esse descobrir, essa confusão até o ápice do entendimento.
   Cada um tem o seu momento de perceber os vários tipos de amor e quando descobrem que podem amar várias pessoas de formas diferentes, nosssaaaaaa, é muito gratificante! Amo minha mãe de uma maneira muito diferente de como amo meu pai. Claro! São tão diferentes! Não falo em mensurar amor. Isso não! Falo em formato de amor.
   Voltando à garotinha, uma semana depois a reencontrei. Estava tão aliviada que conseguiu me dar um generoso abraço. Acho que o abraço entregue veio ao perceber que ela também podia experimentar outros tipos de amor com pessoas do mesmo sexo.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ai! Que medo de crescer !




Ai! Que medo de crescer !


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


Hoje recebi uma visita de uma linda jovem que retornou para contar do término de mais um ciclo de sua vida estudantil. Ao me abraçar, ela agradeceu pelo que aprendeu em anos de convivência e depois falou no meu ouvido: “Eu tô com medo...”

Pude perceber, ao afastá-la e olhar bem nos seus olhos, o medo enormeeeeeeee de crescer. Sim! Crescer muitas vezes amedronta.

Acontece que, quando somos pequenininhos, recebemos estímulos para contar sobre o nosso dia, sobre os amiguinhos e como estamos. A família espera que falemos facilmente das nossas relações com os colegas, brinquedos, desenhos e filminhos. Dentro de esse falar “facilmente”, os genitores procuram em suas crias sentimentos, buscam conclusões e avaliam como tudo está acontecendo com o desenvolvimento de  seus filhos . A criança é questionada sobre o seu dia e ainda atribuímos o comando de falar a verdade, uma vez que pregamos que criança não mente jamais.

Aí está o X da questão. À medida que nossos pequenos vão crescendo, eles deparam-se com a distância entre o que pedimos e o que o mundo dos adultos pratica. Isso mesmo! Por que o susto? Nossas crianças começam a flagrar pequenas situações diárias nas quais percebem que ser adulto não é muito fácil e muitas vezes , também, não é muito verdadeiro.

De repente a aproximação dos coleguinhas já não é mais tão facilitada. A agenda está mais apertada com as aulas extras, a família já se preocupa com as amizades e seus comportamentos, os primos, tios e avós já não possuem mais o mesmo tempo de dedicação a eles. Esse conjunto de coisas culmina para a experiência do distanciamento de tudo que era tão próximo. Então, crescer passa a ter outro sentido: entender tudo isso!

Chega a hora de caminhar para fase adulta e, junto com essa “hora”, começam as descobertas que acontecem muitas coisas estranhas nas relações das pessoas. Muita coisa que jamais foram pensadas até então: relações por interesses, desculpas infundadas, fuga de situações, pequenas e grandes mentiras para se safar de algo, jogos de “espertezas” e distanciamento dos valores.

Uai! Mas cadê o comando de não mentir jamais? Nessa hora algum flash passa pela cabeça e começa a reconstrução do caminhar. Na busca da rota, se tornam adultos. Daí, a decepção que muitos enfrentam quando, finalmente, se tornam adultos. Perceber que alguns conceitos se vão. E para “atormentar “ ainda mais, muitos conceitos que serão refeitos foram construídos pelas pessoas em quem eles mais confiaram. Nesses movimentos, também percebem que foram motivados a falarem sobre tudo, mas que agora, quando adulto, muita coisa é melhor nunca ser dita.

Então o que é ser adulto?  Bom, ser adulto é experimentar um mundo diferente dos contos de fadas e ainda ser resiliente. Ser resiliente é ter a capacidade de enfrentar transformações, desafios, traumas, reelaborando as situações e recuperando-se frente a elas.

E para completar, saímos do ditado “criança não mente jamais” para o ditado “faça de um limão, uma limonada”. Sim, ser adulto é conseguir colocar humor em tudo que aparece. É ser capaz de rir dos problemas e transformá-los em piadas cotidianas. E cá para nós, somos especialistas nisso aqui no nosso país.

Toda essa escrita aqui foi utilizada com a linda jovem nesse encontro em forma de diálogo. Ao ouvir tudo com os olhos cheios de água, ela diz: “Mas tia, eu não sei o que quero ser, mas não vejo a hora de fazer 18 anos para dirigir e ir à balada.”

Ela não é diferente da maioria que almeja chegar a tão falada maior idade. Nesse momento, o misto de medo e o prazer da conquista se misturaram. É como se me dissesse: quero usufruir dos benefícios da maior idade na área do lazer, mas estou cheia de medo do dever. Naquele momento, eu não podia confessar a ela, mas, com certeza, eu sei muito bem como é isso, pois até hoje, após ter feito 18 anos há algum tempo ( kkkkk), eu também tenho meus medos da vida adulta, eu também queria muito poder ter muito mais  lazer que o dever, mas respirei e com um sorriso bem acolhedor, eu disse: “Sabia que eu tenho muito segurança de que você está preparada para essa transição?”

Esse processo é muito importante para essa nova etapa. A construção e desconstrução e a nova reformulação dos conceitos  é o CRESCER! A diferença da vida adulta precisa ser compreendida e não julgada. Não podemos mostrar a realidade adulta para os nossos pequenos que não possuem maturidade para entender. À medida que vão caminhando para esse processo, naturalmente vão conhecendo as exigências desse novo mundo e se adaptando.

O medo de crescer não perderá nunca, eu acho. Só trocará de nome: medo conhecer, medo de relacionar, medo da profissão, medo de envelhecer... Mas podemos trocar a palavra MEDO por CORAGEM. Ficaria assim: coragem para conhecer, coragem para relacionar, coragem para envelhecer. Isso! Coragem! A estrutura que recebemos na infância é o alimento da coragem.


Vá em frente, minha jovem. E volte no encerramento do novo ciclo para me contar. 




terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Ainda pulsa...





Ainda pulsa... 


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


     Quem lembra da música O PULSO – Titãs?
Quem lembra da música O PULSO – Titãs?
Na música eles falam de doenças que acometem o nosso corpo e mesmo assim sobrevivemos.
Vamos atualizá-la?
Hoje, acredito que estamos dominados pelas doenças psicológicas e sociais.
Estamos adoecendo nos valores e nos sentimentos. Não temos mais paciência com o outro e muito menos conosco mesmo. De repente a voz de quem tanto amamos irrita. Os defeitos que eram “lindinhos” gritam em desarmonia. Por quê?
Porque estamos tão contaminados com o ritmo do fazer e ter que estamos perdendo o prazer em conviver harmonicamente com o outro.
No trânsito encontramos verdadeiros competidores. A gentileza passa longe. No comércio deparamos com atendentes desanimados e os atendentes encontrando clientes apressados e irritados.
Por que permitimos tal comportamento? Por que não o freamos assim que o percebemos?
Será que estamos conseguindo ser felizes quando magoamos, maltratamos e ferimos o conhecido e o desconhecido?
A letra da música atualizada seria assim...

O Pulso

O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa...
Peste de tempo
rotina, correria
Raiva, névoa
mágoa e esquizofrenia
Rancor, tensão
ansiedade, histeria
Encefalite, insanidade
Nervo e agonia...
E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa
Psoríase, insônia
Estupidez, falta de alegria
Irritação, isolamento
Pânico
Depressão, bipolaridade
agorafobia, distimia
estresse, ciúmes
anorexia, bulimia...
E o corpo ainda é pouco
E o corpo ainda é pouco
Assim...
Demência, tabagismo
alcoolismo, disritmia
Delírios, alucinações
perseguições, hipocrisia
impaciência, obsessão
impulsividade, letargia
desprezo, culpa, psicose
abusos, paranoia, mania...
O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
Pulso
Pulso
Pulso
Pulso
Assim...

Triste, né?  Que tal uma vacina para combater isso?
São tantas campanhas na internet, e pelo jeito dão certo, que tal essa campanha: ofereça um sorriso largo e gentil para cada “doente social”.
Encontrou um apressadinho no trânsito: sorria!
Alguém dirigiu uma palavra grosseira: sorria!
Você está irritado: vá até o espelho e sorria para você mesmo.
Tem medo de parecer doido? SORRIA!
Afinal, dizem que de médico e louco todo mundo tem um pouco, então seja louco para fazer o bem!

 Letra original - Arnaldo Antunes - http://www.vagalume.com.br/titas/o-pulso.html

                                                        http://www.arnaldoantunes.com.br/new/